Indicada por Trump para a CIA promete que não vai autorizar uso de tortura

Gina Haspel é acusada de ter comandado prisão secreta onde técnica era utilizada em 2002

Washington | AFP

Gina Haspel, escolhida pelo presidente Donald Trump para dirigir a CIA, disse nesta quarta-feira (9), diante de membros do Senado dos Estados Unidos, que sob seu comando a agência de inteligência não irá retomar os programas de tortura de prisioneiros.

Haspel enfrenta oposição a sua nomeação em razão de seu trabalho em uma prisão secreta da CIA na Tailândia em 2002, onde supostos membros da rede extremista Al Qaeda foram submetidos a torturas.

"Por ter servido neste período conturbado, posso oferecer meu compromisso pessoal, claro e sem reserva, de que sob minha liderança na CIA não será restabelecido tal programa de detenção e interrogatórios", declarou na audiência perante o Comitê do Senado.

Gina Haspel, indicada por Donald Trump para comandar a CIA, durante sua sabatina no Senado americano
Gina Haspel, indicada por Donald Trump para comandar a CIA, durante sua sabatina no Senado americano - Brendan Smialowski/AFP

"Em retrospecto, está claro que a CIA não estava preparada para conduzir um programa de detenções e interrogatórios", acrescentou.

Haspel afirmou que, atualmente a CIA está sujeita a um manual militar, que proíbe especificamente métodos de tortura, como simulação de afogamento. A regra não existia na época que ela estava na Tailândia, logo após os ataques de 11 de setembro de 2001

"Apoio as mais altas normas morais, nas quais este país decidiu se apoiar. Nunca, nunca voltaria a adotar o programa de interrogatórios da CIA", prometeu Haspel. "Eu apoio a lei e não apoiaria uma mudança", afirmou.

Questionada sobre se retomaria o programa e sobre permitir a tortura caso o presidente Donald Trump solicitasse, Haspel garantiu que recusaria. "Não permitirei que a CIA realize atividades que considero imorais, mesmo que sejam tecnicamente legais. Não permitirei isso, absolutamente", acrescentou.

"Todo mundo vê os Estados Unidos como um exemplo para o mundo, e devemos respeitar isso. E a CIA está incluída", completou.

Haspel, 61, participou durante três décadas de operações secretas da CIA, onde atualmente é subdiretora. Embora não se saibam todos os detalhes do caso, dirigiu ao menos em parte de 2002 uma prisão secreta na Tailândia onde suspeitos de pertencerem à Al-Qaeda eram frequentemente torturados.

Durante o programa de torturas — vigente entre 2002 e 2005—, a CIA levou os detentos para locais secretos ao redor do mundo e submeteu alguns a agressões e torturas que incluíam uma técnica de simulação de afogamento.

Mais tarde, como funcionária do comando da CIA, Haspel foi apontada como a responsável por destruir vídeos que mostravam tais práticas.

Apesar disso, ela tem total apoio de Donald Trump, que a indicou para substituir Mike Pompeo no comando da agência após ele ser escolhido como novo secretário de Estado

"Minha muito respeitada indicada para ser diretora da CIA, Gina Haspel, tem sido muito criticada porque foi muito dura com os terroristas", disse Trump nesta semana.

Entre os 13 membros da comissão do Senado (sete republicanos e seis democratas), vários demonstram ceticismo.

Quatro democratas —Kamala Harris, Dianne Feinstein, Ron Wyden e Martin Heinrich— solicitaram ao diretor de Inteligência Nacional, Dan Coats, que liberasse todos os documentos confidenciais relativos ao papel de Haspel nos programas de interrogatório da CIA.

Feinstein disse estar preocupada com a possibilidade de "promover uma pessoa que esteve envolvida no programa de tortura à frente da CIA, a agência responsável por um dos capítulos mais sombrios da nossa história".

Desde 2016, Trump faz declarações contraditórias sobre a tortura. Ele disse que pessoalmente defende seu uso, mas deixou para o secretário de Defesa, Jim Mattis, a decisão de utilizá-la. Este, até o momento, vetou a medida. 

O resultado da audiência deve influenciar a votação sobre a indicação no Senado, que os republicanos esperam que aconteça até o fim de maio. O partido do presidente tem maioria de 51 a 49 na Casa, que precisa aprovar sua indicação. 

Em meio à polêmica sobre sua indicação por Trump, Haspel chegou a sugerir a retirada de seu nome, de acordo com a imprensa americana, mas foi convencida por assessores da Casa Branca a manter a candidatura.

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