Itália segue sem governo depois do escolhido para ser premiê desistir

Giuseppe Conte indicou eurocético para pasta da Economia, que foi rejeitado pelo presidente

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Roma | Reuters e Associated Press

O acadêmico Giuseppe Conte, que havia sido designado para ser primeiro-ministro da Itália, desistiu neste domingo (27) de tentar formar um governo, depois que o presidente do país rejeitou o nome escolhido por ele para o ministério da Economia.

Com isso, o país pode ter que realizar novas eleições este ano. As negociações para a formação do governo italiano já se arrastam há quase três meses. 

Conte, um jurista acadêmico desconhecido do grande público, apresentou sua lista de ministros ao presidente Sergio Matarella, mas este rejeitou o nome do eurocético Paolo Savona para a pasta da Economia.

Matarella, por sua vez é um defensor da União Europeia e da moeda única. A aliança entre a Liga, de extrema direita, e o Movimento 5 Estrelas (crítico ao sistema político) colocaria no comando da quarta maior economia do bloco um governo populista e contrário ao euro.   

O acordo entre as duas siglas dois prevê, entre outros pontos, um corte de bilhões de euros em impostos, maiores gastos em ajuda para os pobres e o adiamento de reformas da Previdência e não foi bem recebido por Bruxelas e pelo mercado.  

A escolha de Savona, crítico do euro e da política econômica da Alemanha, como ministro já havia causado preocupação nos mercados europeus na semana passada. Neste domingo, ele tentou se mostrar mais ponderado: "Quero uma Europa diferente, mais forte, mas mais igual", disse ele em comunicado. 

Matarella, porém, disse que não aprovaria o nome dele porque isso "causaria alarme nos mercados e investidores, italianos e estrangeiros". O presidente italiano não disse quais seriam seus próximos passos para resolver a crise política.

Segundo a agência de notícias Reuters, ele convocou para uma reunião na segunda-feira (27) o economista Carlo Cottarelli, que tem no currículo passagens pelo FMI e por governos italianos. Assim, poderia ser indicado como premiê em um governo tecnocrata, que teria como função aprovar um novo orçamento e conduzir o país até uma eleição antecipada.

Enquanto não há uma resolução, Paolo Gentiloni, do Partido Democrático (de centro-esquerda), segue no cargo. 

O próprio Matarella tinha sugerido a opção de um governo técnico há algumas semanas, antes do acordo entre Liga e M5S, mas os principais partidos tinham criticado a opção.

Antes mesmo do fim da reunião entre Matarella e Conte neste domingo, o líder da Liga, Matteo Salvini, disse que a única alternativa era realizar novas eleições. "Em uma democracia, se é que ainda estamos em uma democracia, só há uma coisa a fazer, deixar os italianos escolherem", disse ele. 

Já o líder do 5 Estrelas, Luigi di Maio, afirmou que a recusa de Matarella em aceitar a indicação de Savona foi "inaceitável" e defendeu o impeachment do presidente. "Qual a razão de votarmos se quem vai decidir são as agências de classificação de risco"?, disse ele.

Para tirar Matarella do cargo, o Parlamento precisa autorizar por maioria simples a abertura do processo de Impeachment, que é julgado pela Corte Constitucional (semelhante ao Supremo Tribunal Federal no Brasil).  

Impasse

O impasse na Itália foi consequência do resultado da eleição de 4 de março, que teve o 5 Estrelas como a sigla individualmente mais votada, com 32,6% dos votos. Mas no geral, a agremiação mas ficou atrás da coalizão de centro-direita, que incluía a Liga e o Força Itália do ex-premiê Silvio Berlusconi.

Como nenhum grupo superou a marca de 40% necessária para governar sozinho, as siglas começaram a negociar uma aliança que pudesse ter maioria no Parlamento. 

Di Maio, do 5 Estrelas, disse após a votação que poderia negociar com a Liga, mas que não aceitaria a participação de Berlusconi ou de seus aliados no governo, na prática exigindo o fim da coalizão de centro-direita.

Salvini, da Liga, descartou inicialmente essa possibilidade, mas, com a manutenção do impasse, acabou cedendo e aceitou uma aliança com o 5 Estrelas. 

Para fechar o acordo, porém, tanto Salvini quanto Di Maio tiveram que abrir mão de comandar o país e combinaram de encontrar um nome de consenso, que acabou sendo Conte. O acadêmico tem ligação com o 5 Estrelas —antes da eleição, a sigla tinha indicado que ele ocuparia uma pasta de gestão e desburocratização. 

Além de sua falta de experiência política, Conte foi alvo de críticas também após a divulgação de pode ter mentido em seu currículo. Apesar disso, seu nome foi aceito por Matarella na última quarta (23), quando ele foi oficialmente incumbido de formar um gabinete —tarefa da qual desistiu neste domingo.  

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