Um dia após o anúncio da decisão do presidente Donald Trump de retirar Washington do acordo nuclear com o Irã, reinstaurando sanções suspensas em 2016, o líder supremo iraniano, aiatolá Ali Khamenei, rebateu.
Disse que o republicano errou e que "seu corpo será comido pelas cobras e pelas formigas, e a República Islâmica [do Irã] continuará de pé".
Mais agressivo que o presidente Hasan Rowhani, Khamenei afirmou não confiar nem em Trump nem nas três potências europeias —Alemanha, França e Reino Unido—, que prometem preservar o pacto, sinalizando uma inflexão em Teerã.
Em sua primeira reação à decisão de Trump, na terça (8), Rowhani se esforçara em parecer comedido, assegurando que seu país continuaria a honrar os termos do acordo se os demais signatários atestassem que ele não caducou. Khamenei foi na contramão.
"Vocês ouviram que o presidente da América fez comentários tolos e superficiais", afirmou o aiatolá, durante um discurso na TV. "Ele disse mais de dez mentiras em seu pronunciamento. Não confiem na América."
Khamenei também questionou a promessa das potências europeias de manter vivo o pacto firmado há três anos. "Se conseguirem dar uma garantia definitiva —e duvido que eles consigam—, sem problemas, podemos seguir", afirmou o líder supremo. "Mas, se não conseguirem, não poderemos seguir nesse caminho."
Enquanto dúvidas parecem se acumular no front europeu, Washington já deixou claro que não volta atrás e que novas sanções podem ser impostas para evitar a todo custo que os iranianos retomem seu programa nuclear.
"Vamos continuar a impor pressão máxima e enormes sanções", afirmou Sarah Huckabee Sanders, a porta-voz da Casa Branca. "Todas as sanções que estavam em vigor antes do acordo estão de volta, e estamos elaborando punições adicionais que podem passar a valer já na próxima semana."
Suas declarações tornam ainda mais nítida a estratégia de Trump de sufocar Teerã por vias econômicas, desfazendo a impressão de que Washington busque uma troca de regime no Irã, como já defendeu o assessor de Segurança Nacional da Casa Branca, John Bolton, no passado.
O comando diplomático americano vai na mesma toada. Frisa não querer derrubar o governo de Hasan Rowhani, mas sim aplicar pressão para que ele "mude seu comportamento".
"Não acreditamos que o Irã tenha internalizado os riscos que o seu comportamento acarreta", disse
Andrew Peek, responsável por relações com o Irã e com o Iraque no Departamento de Estado. "Sua conduta envolvendo uma série de atividades perniciosas nos impulsiona a concordar com nossos parceiros regionais que medidas políticas e econômicas precisam ser tomadas."
Nesse ponto, Peek deixou claro que Washington deu mais ouvidos a seus aliados do Oriente Médio, como Israel e a Arábia Saudita, do que aos europeus, contrários à saída dos americanos desse pacto.
"Vamos deixar claras nossas preocupações aos nossos parceiros europeus e caminharemos adiante juntos", contemporizou.
"Entendo que não concordamos 100% em tudo, mas concordamos que o Irã representa uma ameaça, e isso vai nos orientar daqui para a frente."
Essa caminhada, no entanto, será tensa. Peek disse que firmas com negócios no Irã têm uma janela de três a seis meses para suspender atividades. Caso contrário, serão punidas por novas sanções.
Esse é um dos pontos que tornam quase impossível uma ação coordenada de Washington e Europa, como vislumbra o Departamento de Estado, já que firmas como a petroleira francesa Total e a fabricante de aeronaves europeia Airbus, podem sair perdendo.
Trump vê essa fragilidade econômica como aquilo que vai, de fato, erodir a defesa do pacto por parte dos europeus.
Pelo lado do Irã, na visão do republicano, a crise econômica que o país já vive seria suficiente para Teerã desistir de seu programa nuclear, esvaziando o argumento de que a saída dos EUA do pacto levaria ao desenvolvimento de um novo arsenal atômico.
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