Descrição de chapéu Venezuela

Manaus recebe 164 venezuelanos vindos de abrigo de Roraima

Outros 69 tomam voo da FAB com destino a São Paulo

Refugiados venezuelanos embarcam em voo da Força Aérea Brasilieira para Manaus e São Paulo, no aeroporto de Boa Vista (Roraima) - Ueslei Marcelino/Reuters
Monica Prestes
Manaus

“Eu precisava juntar dois meses de salário na Venezuela para comprar uma lata de leite em pó para meu filho. Estávamos passando fome.” O relato é do jardineiro venezuelano Wilman Mendoza, 22, um dos 164 imigrantes que estavam em abrigos em Boa Vista, em Roraima, e chegaram a Manaus (Amazonas) nesta sexta-feira (4), na segunda etapa do programa de interiorização do governo federal.

Ao todo, 233 imigrantes venezuelanos deixaram Boa Vista em um voo da Força Aérea Brasileira (FAB), mas 69 seguiram para abrigos de São Paulo. Os demais foram distribuídos entre três abrigos da capital amazonense.

Wilman e a mulher, a estudante Gisele Lugo, 19, decidiram tentar a vida em outro país para espantar a ameaça da fome de dentro de casa. Sem emprego e com a inflação fora de controle, o medo deles era ver os dois filhos sofrendo.

A auxiliar de serviços gerais Olivia Misel, 38, aproveitou a chegada ao abrigo montado na Paróquia Santa Catarina de Sena, na zona centro-sul de Manaus, para tomar um banho de chuveiro e deitar em uma cama, coisa que ela não fazia há um bom tempo.

A crise econômica levou à falência a indústria onde trabalhava o marido dela, o industriário Jeberson Diaz, 35, e fez sumirem todas as opções de emprego que ela procurou. Sem alternativa para sustentar os dois filhos, o casal decidiu que era hora de tentar a vida em outro país.

Refugiados venezuelanos fazem fila para receber comida no abrigo Casa de Acolhida Santa Catarina, em Manaus - Bruno Kelly/Reuters

Jeberson veio na frente, em janeiro. Após trabalhar por 20 dias em uma fazenda, comprou as passagens de ônibus para a mulher e a filha, Gleidy, de 13 anos.

Mãe e filha chegaram em fevereiro a Pacaraima, cidade a 215 quilômetros de Boa Vista. Sem dinheiro para comprar uma nova passagem até Boa Vista, onde estava Jeberson, elas decidiram fazer o percurso a pé, com mala e tudo.

Mas nem todos tiveram a mesma sorte. O guia turístico Geraldo Gil, 24, e a mulher, a auxiliar de farmácia Luisa Guerrero, 19, decidiram trocar Margarita por Manaus para fugir da crise econômica e também da violência, mas esbarraram nela no caminho.

Eles foram assaltados, a mão armada, por um venezuelano, no período que permaneceram em Boa Vista. Chegaram a Manaus sem nada do pouco que tinham quando saíram da Venezuela.

Dividindo o quarto do abrigo com Geraldo, o pedreiro Jonatan Carmona, 32, estava aliviado por ter, enfim, conseguido chegar a Manaus com a mulher, Monica Algarin, 31, e os quatro filhos, de 5 anos, 10 anos, 13 anos e 15 anos.

“Depois de passar fome, dormir na rua, na praça, debaixo de chuva e de toda a incerteza sobre nosso futuro, é muito bom, enfim, poder chegar a algum lugar que podemos chamar de casa.”

Refugiados venezuelanos se acomodam em abrigo em Manaus - Bruno Kelly/Reuters

ACOLHIMENTO

Mais 6.500 venezuelanos continuam em Boa Vista, e pelo menos 1.000 deles acampam na praça Simon Bolívar —os outros 5.500 estão distribuídos nos nove abrigos mantidos pelo governo federal na capital de Roraima. As informações são do gerente de Bem-Estar do Serviço Humanitário SUD, Fernando Souza.

A instituição apoia o Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados (Acnur) e a Cáritas Arquidiocesana, da Igreja Católica, no processo de acolhimento dos imigrantes.

Em Manaus, os 164 venezuelanos foram distribuídos em três abrigos, de acordo com o perfil –homens e mulheres solteiras, mulheres grávidas e famílias com filhos, segundo o vice-presidente da Cáritas Arquidiocesana de Manaus, padre Orlando Barbosa.

Depois de abrigados, eles receberam kits com itens de higiene pessoal, toalhas e lençóis, além de refeições. “Temos a capacidade de acolher essas pessoas, em paralelo às ações de assistência social e interiorização que os órgãos públicos vão promover”, disse.

A Prefeitura de Manaus recebeu R$ 1,2 milhão do governo federal no ano passado para dar assistência a um grupo de 178 indígenas da etnia warao, da Venezuela, que já estão em Manaus, distribuídos em dois abrigos mantidos pela prefeitura.

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