Meghan Markle, príncipe Harry e a pressão das tradições em casamentos reais

Expectativa é se noiva seguirá mandamentos da família real ou ditará novas regras na cerimônia

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Os displays estão ao lado dos batentes brancos de uma porta de uma casa de tijolos laranjas; à esquerda, aparece o príncipe Harry, em uma foto de terno ao lado de uma bandeira verdadeira do Reino Unido; já Meghan, à direita, veste blazer branco e tem uma bandeira dos Estados Unidos à sua esquerda; a calçada é cercada por duas grades móveis; do lado direito também aparece um cone de sinalização amarelo
Displays de Harry e Meghan são colocados em porta de uma casa de Windsor, na Inglaterra, onde os dois vão se casar - Oli Scarff/AFP
Jennifer Hassan
Washington | Washington Post

Reino Unido, 1947. A Segunda Guerra Mundial (1939-1945) chegara ao fim, mas as dificuldades nacionais estavam longe de terem terminado.

Inúmeros produtos alimentícios ainda eram racionados. As pessoas faziam filas nas ruas por empregos, por doações e para comprar frutas. Famílias dilaceradas pela guerra tentavam desesperadamente se reconstruir, muitas delas sem os homens que haviam partido para a guerra e nunca voltado. O acesso a combustíveis era restrito. E então chegou um dos invernos mais frios da história, destruindo a safra de trigo do país e isolando milhares de moradores de áreas rurais.

Quando foi anunciado o noivado da princesa Elizabeth com Philip Mountbatten, naquele verão, muitos britânicos aplaudiram a notícia. Depois de tanto sofrimento, a perspectiva de um casamento na família real pareceu animar os espíritos. “Sim, aquilo nos deu uma injeção de ânimo”, recordou Pat Bannell, de 97 anos, que vive na zona leste de Londres. “Achamos fantástico, especialmente se isso nos garantiria um dia de folga do trabalho”, comentou, gargalhando.

O casamento da futura rainha Elizabeth e do príncipe Philip aconteceu quatro meses apenas após o anúncio do noivado deles e teve a presença de 2.000 convidados.

Em todo o país e o mundo, as pessoas acompanharam o casamento pelo rádio. Milhares de pessoas se reuniram nas ruas de Londres e diante do Palácio de Buckingham, esperando pacientemente por horas para verem o casal rapidamente depois da cerimônia. Quando Elizabeth e Philip saíram para o balcão do palácio e acenaram para os presentes, foram saudados com um estrondo de assobios, aplausos e vivas.

Descrevendo as “multidões vastas” e a “felicidade deslumbrante da noiva”, o jornal “Daily Telegraph” previu que o casamento “viveria por muito tempo na memória”.

No sábado, aqueles noivos de muitos anos atrás –a rainha hoje tem 92 anos, o príncipe Philip tem 96, e eles comemoram seus 70 anos de casamento em maio— devem assistir (o príncipe Philip está se recuperando de uma cirurgia do quadril) ao casamento real de seu neto príncipe Harry com a atriz americana Meghan Markle.

Planejar qualquer casamento é estressante, e os deslizes são inevitáveis. Basta perguntar à rainha Elizabeth. Na manhã do casamento dela, a tiara de franjas cravada de pedras preciosas que sua mãe lhe deu para ser seu “algo emprestado” quebrou quando foi colocada sobre sua cabeça. (Uma tradição dos casamentos é que a noiva deve usar “algo velho, algo novo, algo emprestado, algo azul”.) É claro que a família real contava com um joalheiro de prontidão. Ele conseguiu consertar a tiara e evitar a “catástrofe”.

O bolo de casamento de Elizabeth tinha três metros de altura, e ela recebeu 10 mil telegramas de parabéns. O tecido do vestido de casamento foi comprado com cupons de racionamento coletados pela noiva. Membros do público que quiseram ajudar enviaram seus próprios cupons para a princesa usar, mas eles foram devolvidos às pessoas com mensagens de agradecimento.

O vestido de Elizabeth foi feito de seda cor marfim e enfeitado com 10 mil pérolas. Mas os vestidos de noiva da família real nem sempre foram brancos. Antes do século 19, muitas noivas reais optaram por cores, quanto mais fortes e ousadas, melhor. Quando a rainha Vitória usou um vestido de baile branco em seu casamento com o príncipe Albert, em 1840, transformou para sempre as tradições das noivas, tanto reais quanto plebeias.

As exigências da história sempre exercem um papel nos casamentos reais. Não apenas os casais precisam do consentimento da rainha para se casarem, como têm que lidar com uma pressão adicional: decidir se vão seguir ou descartar tradições de muitos anos.

Quando os noivos trocarem seus votos de casamento na Capela de St. George, no Castelo de Windsor, neste fim de semana, é certo que serão traçadas comparações com o passado. 

Haverá dramas menores em torno das escolhas de decoração do dia, de detalhes sentimentais e decisões cerimoniais. Todos serão comentados e analisados exaustivamente. Muitos costumes se mantêm ao longo da história dos casamentos reais, mas outros foram modificados ou então substituídos por completo. 

Os votos

Quando Elizabeth se casou com o príncipe Philip, em 1947, ela fez um voto tradicional, prometendo “amar, estimar e obedecê-lo”.

Foi Diana, princesa de Gales, quem rompeu com essa tradição em 1981, quando se casou com o príncipe Charles, por omitir a palavra “obedecer”. Em vez disso, ela prometeu “amar, reconfortar, honrar e proteger” seu marido.

Sua decisão provocou polêmica não apenas no Reino Unido, mas no mundo. “Princesa Diana se recusa a prometer obediência a Charles”, escreveu o “New York Times”.

As noivas reais que se casaram depois de Diana não seguiram seu exemplo. Quando Sarah Ferguson se casou com o príncipe Andrew, em 1986, prometeu obedecê-lo, e Sophie Rhys-Jones fez o mesmo em seu casamento com o príncipe Edward. O bispo de Norwich, Peter Nott, que comandou a missa de casamento, disse que ‘obedecer’ dizia respeito à confiança e não significava que Sarah seria “subserviente” a seu marido.

Antes do casamento de Kate Middleton com o príncipe William, em 2011, houve muita especulação sobre os votos. Kate seguiria os moldes de Diana? A resposta foi “sim”. Na Abadia de Westminster, ela jurou “amar, reconfortar, honrar e proteger” seu marido, sem qualquer menção a obedecê-lo.

Agora será a vez de Meghan Markle decidir.

As flores

Em matéria de flores usadas nos casamentos reais, os arranjos são tradicionalmente todos brancos. Mas o tamanho e os estilos dos arranjos florais variaram muito ao longo do tempo.

O buquê de noiva de Kate foi descrito por alguns como simples e por outros como pobre. Já o buquê de Diana foi o oposto, tanto que pesava mais de dois quilos. E ela não teve apenas um buquê, mas dois. Segundo boatos, isso teria acontecido porque um empregado do palácio teria perdido o buquê de Elizabeth em algum momento no dia do casamento, para a consternação do fotógrafo oficial. Quando foi a hora de fazer a foto de família, o buquê não foi encontrado.

Apesar das diferenças no tamanho dos buquês, nas flores escolhidas e nas preferências pessoais, a inclusão da flor de murta, símbolo do amor, é uma tradição que data do casamento da filha da rainha Vitória e que deve ser mantida por Meghan neste fim de semana, embora muitos prevejam que ela acrescente seus toques próprios à criação.

A aliança

Quando se casou com o futuro rei George 6º, em 1923, Elizabeth Bowes-Lyon, a futura rainha-mãe, optou por uma aliança de casamento feita de ouro do País de Gales, que é raro. Desde essa data, a aliança feita de ouro galês virou uma espécie de tradição, e esse ouro singular foi usado para criar as alianças de casamento da rainha, da princesa Margaret e da princesa Diana. As alianças são feitas a partir da mesma pepita de ouro, extraída cuidadosamente da mina de ouro Clogau St. David, no País de Gales. Quando o príncipe William ficou noivo, recebeu ouro galês da rainha para que Kate pudesse usar uma aliança galesa.

O príncipe Harry disse recentemente que o ouro amarelo é o favorito de Meghan, mas ainda não se sabe se sua aliança vai seguir a tradição real.

A data do casamento

Os casamentos reais muitas vezes ocorrem em dias úteis, garantindo um dia de folga para a maioria dos trabalhadores. A rainha Elizabeth e o príncipe Philip se casaram numa quinta-feira; Charles e Diana, numa quarta-feira. O príncipe William e Kate se casaram numa sexta-feira, e pubs e bares em todo o país puderam ficar abertos até além do horário normal de fechamento obrigatório.

Não apenas Harry e Meghan vão se casar num sábado, como o dia de seu casamento coincide com uma das partidas de futebol mais importantes do ano, a final da Copa da Inglaterra. Será um dia intenso para o príncipe William, que é presidente da Associação de Futebol Inglesa e também o padrinho de Harry.

Tradução de CLARA ALLAIN

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