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Oposição ao presidente Emmanuel Macron enfrenta dificuldades na França

Manifestações de 1º de Maio indicam que crise social não vai se transformar em crise política

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Manifestantes com cartaz convocando greve geral participam de ato de 1º de Maio em Paris
Manifestantes com cartaz convocando greve geral participam de ato de 1º de Maio em Paris - Christian Hartmann/Reuters
Paris

Os protestos desta terça-feira (1º) tinham tudo para ser o ápice do primeiro embate social da era Macron.

Os trabalhadores mobilizados contra a abertura à concorrência do setor ferroviário, monopólio do Estado desde a sua nacionalização em 1937, construíram, com o apoio dos sindicatos, um poderoso movimento social ao longo do último mês.

Porém, a julgar pelo que aconteceu nesta terça, tudo indica que a crise social não se vai transformar em crise política.

As dificuldades do que o sociólogo Dominique Wolton chama de atores intermediários —partidos, sindicatos e movimentos estudantis— de se adaptarem ao novo cenário político são apontadas como a principal responsável pelas dificuldades do movimento social.

O França Insubmissa enfrenta dificuldades para assumir o lugar de principal força da oposição progressista no Parlamento, papel histórico do Partido Socialista, que perdeu grande parte dos seus deputados na debacle de 2017. 

O problema está em parte no seu líder, Jean-Luc Melenchon, uma figura popular, mas também bastante polarizadora dentro do arco progressista. Mais enfraquecidos do que nunca, os sindicatos parecem incapazes de impor suas exigências ao governo.

Quanto ao movimento estudantil, ele se encontra em plena reconfiguração depois da dissidência de um grupo ligado ao ex-candidato à Presidência dos socialistas, Benoît Hamon.

No que parece ser uma ironia da história, os atores intermediários atravessam a sua pior crise no ano em que se comemoram os cinquenta anos do seu maior sucesso —o protesto de Maio de 1968, que transformou a relação de força entre o Estado e a sociedade na França. 

Outro fator decisivo para o enfraquecimento de atores intermediários é a determinação da sociedade em avançar com as reformas. 

Eleito com mais de 60% dos votos, Macron tem um forte mandato para conduzir a transformação social elencada no seu programa.

Uma sondagem realizada na semana passada mostrou que 62% da população francesa deseja a continuidade das reformas e apenas 40% apoiam os grevistas.

Nesta terça, crucial para a dinâmica do protesto, o baixo número de manifestantes nas ruas de Paris, cerca de 55 mil, e os desacatos, muito repercutidos apesar de envolverem uma minoria, reforçaram a imagem de um movimento mais desorganizado e desmobilizado que o habitual.

Demonstrando confiança total na sua vitória, Macron preferiu manter seu deslocamento à Austrália, em vez de ficar em Paris avaliando a intensidade dos protestos. Os acontecimentos do dia deram-lhe razão.

Tudo indica que o seu premiê, Édouard Phillippe, vá receber os representantes dos sindicatos para um encontro crucial em 9 de maio em situação favorável. Tudo indica que o governo Macron vai vencer a primeira mancha da batalha social.

Mas nem tudo são boas notícias. A apatia da oposição preocupa a todos, inclusive aos membros do governo. É evidente que o apoio a Macron não durará o mandato inteiro.

E, quando a sociedade se virar contra o presidente, ela terá de reinventar o seu modo de ação diante do ocaso dos atores intermediários tradicionais. Nessa República sem mediadores, o conflito social pode se tornar mais direto, intenso e imprevisível.

Se o fim de ciclo no poder de Charles de Gaulle (1890-1970) abriu a brecha para a explosão de Maio de 1968, o inevitável fim de ciclo de Macron tem tudo para provocar um terremoto político semelhante.

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