Parlamento confirma premiê russo, que afasta acusados de corrupção

Dmitri Medvedev, contudo, é o alvo preferencial dos manifestantes de oposição no país

São Paulo | Reuters

A Duma, Câmara baixa do Parlamento russo, confirmou nesta terça (8) a manutenção de Dmitri Medvedev como primeiro-ministro do governo de Vladimir Putin. Ela agora terá de aprovar o time de nove vice-premiês, que foi expurgado de acusados de corrupção como o próprio Medvedev.

Medvedev fala durante sessão do Parlamento russo nesta terça, aplaudido pelo presidente Vladimir Putin, que está sentado ao fundo
Medvedev fala na Duma nesta terça (8), aplaudido pelo presidente Vladimir Putin (ao fundo) - Iuri Kadobnov/AFP

O presidente havia assumido seu quarto mandato na véspera. A votação, uma mera formalidade na Rússia dominada pelo círculo de Putin, foi por 374 votos a favor e 56 contra.

Um nome importante fora da lista de vice-premiês é o de Dmitri Rogozin, que coordena o setor de defesa e espaço. Ele é um militar nacionalista que advoga, entre outras coisas, a devolução do Alasca a Moscou —que vendeu o território há mais de 150 anos aos EUA.

Ele e outros três vice-premiês eram acusados pelo Fundo Anticorrupção do blogueiro Alexei Navalni como beneficiários de esquemas de desvio de dinheiro bilionários. O cabeça do esquema, segundo a acusação, é Medvedev.

Todos negam irregularidades, mas a remoção é uma mensagem clara para os manifestantes de oposição, que no sábado (5) voltaram às ruas após quase um ano.

Uma mudança importante também é a ascensão do ministro das Finanças, Anton Siluanov, para o poderoso posto de primeiro vice-premiê. O cargo era ocupado por Igor Shuvalov, visto por críticos como uma eminência parda também dada a corrupção.

Siluanov em tese irá manter a chefia da economia, o que gera um sinal contraditório já que Putin prometeu mudanças para melhorar o desempenho na área. É incerto qual papel nesse processo terá Alexei Kudrin, que já ocupou o ministério e cujo plano liberal de ajuste fiscal tem várias similaridades com as metas propostas por Putin.

Medvedev já foi o herdeiro presumido de Putin, quando foi lançado pelo então presidente para concorrer ao Kremlin em 2008. Eleito facilmente, indicou o mentor como primeiro-ministro e governante de fato do país até 2012, quando Putin elegeu-se presidente novamente.

Trocou então de cadeira e assumiu o cargo de premiê. Apesar da força quase absoluta do presidente no regime putinista, o primeiro-ministro toca diversas atividades importantes do dia-a-dia da administração.

Mas Medevedev, hoje com 52 anos, caiu em desgraça pública. Diversas acusações de enriquecimento ilícito surgiram, todas negadas, e os grandes atos promovidos pelo ativista Navalni em 2017 tinham o premiê como alvo preferencial.

Além disso, foi alvejado em disputas intramuros no Kremlin, em especial pelo rival Igor Setchin, todo-poderoso presidente da Rosneft, a Petrobras russa. Segundo pessoas com acesso ao círculo de poder de Putin, Medvedev entrou em um processo depressivo que durou mais de um ano, só sendo superado durante a nova campanha presidencial.

A manutenção, contudo, talvez seja apenas o início de uma aposentadoria digna. A especulação é de que ele será substituído em dois anos, talvez por um nome preparado por Putin para sucedê-lo quando deixar o Kremlin em 2024. Isso se o presidente, de 65 anos hoje, não cair em tentação e mudar a Constituição para poder concorrer novamente, o que ele já descartou.

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