Partido mais votado da Itália pede nova eleição para resolver impasse

País continua sem conseguir escolher um novo premiê dois meses após a votação geral

Madri

No dia em que se completam dois meses da eleição italiana e ainda sem um novo governo, o movimento antissistema 5 Estrelas, o mais votado no pleito, pediu nesta sexta-feira (4) que o país volte às urnas em 24 de junho.

Seu líder, Luigi Di Maio, disse em entrevista ao jornal Il Fatto Quotidiano que seu partido não vai formar um governo de consenso nem participará da reforma eleitoral, duas saídas sugeridas por outras siglas como maneiras de destravar o impasse atual. “Não pode ser feito”, afirmou. “Nós só perderíamos o nosso tempo discutindo isso.”

O 5 Estrelas, crítico ao sistema político italiano e à União Europeia, foi individualmente o partido mais votado nas eleições de 4 de março, com 33% dos votos à Câmara. Para governar sozinho, porém, precisaria ter chegado a um patamar acima dos 40%.

A sigla ficou atrás apenas da coalizão de centro-direita —com diversos partidos, como o nacionalista Liga— que teve 37% de apoio.  Já o Partido Democrático, de centro-esquerda, que até então governava o país, ficou com 18,7%.

O resultado entregou um desafio e tanto nas mãos dos líderes políticos. Com posições conflitantes, os partidos se recusaram a formar novas coalizões que consigam maioria no Parlamento.

O 5 Estrelas, por exemplo, negociou uma aliança com a Liga, mas para isso exigiu que a sigla nacionalista rompesse sua coalizão com o Força Itália, do ex-premiê Silvio Berlusconi. Até o momento, o Partido Democrático tem afirmado que não pretende participar de um novo governo —uma das exigências do 5 Estrelas é de que o ex-premiê democrata  Matteo  Renzi deixe a sigla, algo improvável.  

Está prevista uma nova rodada de negociações nesta segunda-feira (7), promovida pelo presidente Sergio Mattarella. Ele disse que pretende resolver o impasse no mesmo dia, mas a chance dos partidos encontrarem uma solução viável é baixa. 

Não existe um prazo para a formação do próximo governo. No meio-tempo, a administração atual do Partido Democrático segue no poder, sem limitações. A exceção é o orçamento para 2019, que precisa ser aprovado ainda neste ano.

Mas os cidadãos têm demonstrado cansaço quanto ao processo. Vem daí a proposta de criar um governo de consenso assim que possível, algo que o 5 Estrelas tem se recusado a fazer.

“Assim que um novo governo for inaugurado, tentará seguir adiante a todos os custos”, disse Di Maio, descrevendo o plano de uma gestão temporária como uma armadilha plantada por seus rivais políticos.  Ele afirmou que os líderes que aceitarem essa saída terão traído o povo.

Os pedidos do 5 Estrelas por uma eleição rápida, ainda neste semestre, coincidem com a publicação de pesquisas de opinião mostrando o aumento do apoio ao partido desde a votação em 4 de março.

A sigla se alimenta do extremo desgosto popular pelos políticos tradicionais e pela corrupção que marcou outros mandatos. Há também desconforto com as ondas migratórias dos últimos anos.

O futuro do país preocupa no restante do continente, entre outras razões, por se tratar da quarta maior economia europeia. Os vizinhos esperam, portanto, que a Itália tenha um governo estável e um projeto de integração dentro do bloco econômico, algo improvável se o 5 Estrelas ou a Liga chegarem ao poder.

Apesar da dimensão de sua economia, a Itália não está com as contas em dia. O país deve o equivalente a 135% de seu PIB (Produto Interno Bruto), e o crescimento para este ano está previsto em 1,5%. O desemprego é de 11%.

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