Descrição de chapéu The New York Times

Símbolo britânico, cabine telefônica vermelha retorna com novos usos

Espaços agora são utilizados como oficinas, cafés e até para guardar desfibriladores

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Palko Karasz
Londres | The New York Times

Às vezes é difícil esquecer.

Para muitos britânicos, isso pode se aplicar a instituições e objetos que representam o antigo poder e a glória de seu país —as mansões aristocráticas, a realeza... e as cabines telefônicas vermelhas.

Primeiro atacadas pela marcha da tecnologia e ultimamente pelos elementos naturais em pátios de despejo, as cabines icônicas hoje passam por uma espécie de retorno. Reutilizadas de maneiras criativas, muitas ressurgiram nas ruas de cidades e praças de aldeias abrigando pequenos cafés, oficinas de conserto de celulares ou até desfibriladores.

As cabines originais em ferro fundido com teto em abóbada, chamadas Kiosk nº 2, ou apenas "K2", apareceram em 1926. Foram desenhadas por Giles Gilbert Scott, o arquiteto da estação de energia de Battersea em Londres e da Catedral de Liverpool. Depois de se tornar um elemento básico em muitas ruas britânicas, as cabines começaram a desaparecer nos anos 1980, com a privatização da British Telecom e a ascensão dos telefones celulares, o que condenou a maioria delas ao monte de lixo.

Mais ou menos nessa época, a empresa de engenharia e transportes de Tony Inglis conseguiu o trabalho de remover as cabines das ruas e leiloá-las, mas ele acabou comprando centenas delas, com a ideia de reformá-las e vendê-las.

Pode ter parecido uma ideia maluca na época. "Elas são muito antiquadas", disse Inglis em uma entrevista recente. "São tudo o que você não faria hoje. São grandes e pesadas."

Mas Inglis disse que ouviu pedidos para preservar os quiosques, e tinha visto alguns deles listados como prédios históricos. Ele se convenceu de que poderia ganhar dinheiro restaurando-os, e logo provou que estava certo.

O Reino Unido tem uma tendência a conservar seu legado histórico, é claro. "Somos obcecados por coisas antigas, porque nossa experiência do mundo moderno foi negativa", disse Dan Snow, um conhecido historiador e apresentador. "Se você olhar ao redor, as coisas de que as pessoas têm muita saudade são as que lembram pessoas mais velhas de nosso passado imperial e hegemônico."

Esse anseio também atrai intenso turismo ao país, e prédios famosos estão com frequência no topo da lista dos visitantes. "Temos razões econômicas prementes para comemorar nossa história", disse Snow.

Conforme Inglis e, mais tarde, outros empresários, começaram a trabalhar, as cabines telefônicas reformadas voltaram a aparecer em cidades e povoados, quando as pessoas encontraram novas utilidades para elas. Hoje são novamente uma visão familiar, preenchendo funções muitas vezes tão importantes para a comunidade quanto seus fins originais.

Nas áreas rurais, onde as ambulâncias podem levar um tempo relativamente longo para chegar, os quiosques assumiram um papel de salva-vidas. Organizações locais podem alugá-los da BT por 1 libra (R$ 4,89) e instalar desfibriladores para ajudar em emergências.

"O desfibrilador é uma boa ideia, porque eles estão num lugar de destaque", disse Inglis. "Fica ali no fundo da sua mente, e quando você precisar vai pensar: 'Tem um na praça da aldeia!'"

Outros também viram oportunidades de negócios nos espaços apertados das cabines telefônicas. A empresa LoveFone, que defende o conserto dos telefones celulares em vez do descarte, abriu uma minioficina em uma cabine em Londres em 2016.

Além de chamar a atenção, as pequenas oficinas têm sentido econômico, segundo Robert Kerr, fundador da LoveFone. Ele disse que uma das cabines gera cerca de US$ 13.500 (R$ 49.600) em receitas por mês e custa só US$ 400 (R$ 1.470) de aluguel.

Segundo Inglis, as cabines lembram uma época em que as coisas eram construídas para durar e ser úteis. Os primeiros modelos, por exemplo, tinham espelhos e pequenas prateleiras para se apoiar um guarda-chuva ou um pacote.

"Acho que são uma construção honesta", disse Inglis. "Eu gosto do que elas significam para as pessoas, e gosto de recuperá-las."

Tradução de Luiz Roberto Mendes Gonçalves

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