Mesmo em um ano transbordante de história como aquele, a morte de Robert Francis Kennedy, em 6 de junho, foi uma das notícias mais impactantes de 1968, chamado de "ano que não terminou".
Três tiros estouraram o crânio de Kennedy no dia 5, quando terminava a festa, no Hotel Ambassador (Los Angeles) que comemorava sua estratégica vitória nas prévias do Partido Democrata na Califórnia.
Ao ganhar a disputa interna de sua legenda em um dos estados mais importantes do país, Bobby se credenciava como um favorito à eleição presidencial de novembro seguinte.
Ele somava a herança das expectativas frustradas pelo assassinato de seu irmão, o presidente John Kennedy, em 1963, com a oposição ao envolvimento americano na Guerra do Vietnã. Encarnava o espírito do momento.
Apenas dois meses antes de morrer, Robert Kennedy teve que anunciar à plateia, durante um comício, o assassinato do líder negro Martin Luther King. Ao dar a notícia, ele comparou o pastor a seu irmão.
O assassino de Bobby, o palestino Sirhan Bishara Sirhan, 25, funcionário da cozinha do hotel, queria vingar a ajuda americana a Israel na Guerra dos Seis Dias (1967). Seus disparos atingiram outros alvos: o movimento pacifista, a campanha pelos direitos civis, o centro democrático...
Sem Kennedy, o vencedor das urnas foi o conservador Richard Nixon, republicano derrotado por John oito anos antes. O assassino segue preso, condenado a prisão perpétua, na Califórnia.
Na noite de 5 de junho, a imagem de Bobby deitado no chão, balbuciando sílabas depois de alvejado, cruzou o mundo.
Ele morreu na madrugada seguinte. O corpo foi levado de avião a Nova York, ficou exposto por dois dias na catedral de St. Patrick, o padroeiro da Irlanda (os Kennedy têm origem irlandesa e católica).
No dia 8, o caixão seguiu no último vagão de um trem para Washington. Ao seu lado, ia em quase permanente silêncio a viúva Ethel, grávida do 11º filho do casal.
Na capital, o corpo de Bobby foi enterrado no cemitério de Arlington, ao lado do de seu irmão presidente.
O fotógrafo Paul Fusco seguiu o cortejo para a revista Look. De dentro do trem, foi documentando milhares de pessoas que esperavam na beira da ferrovia para o último adeus.
Em depoimento na época, ele falou da surpresa ao ver que a multidão jogava moedas nos trilhos para serem amassadas (e assim terem um registro daquele momento trágico). O trem avançava lentamente, sob o constante barulho de metal amassado.
Também aquele adeus não acabou: agora mesmo, cerca de 25 fotos, escolhidas entre mil fotogramas que Fusco produziu, estão expostas no Museu de Arte Moderna de San Francisco, como parte de uma mostra denominada "O Trem: A Última Viagem de RFK".
Impressionam sua simplicidade e a das pessoas na beira da ferrovia esperando para prestar a última homenagem ao homem que, imaginavam, poria de volta no trilho os sonhos do governo de JFK.
The Train: RFK's Last Journey
Exposição no Museu de Arte Moderna de San Francisco. Até 10.jun www.sfmoma.org/exhibition/train
RFK Funeral Train
Livro de Paul Fusco. Umbrage Ed., 2001. 128 págs. US$ 99 (R$ 370) shop.magnumphotos.com
Fotos do funeral
Por Paul Fusco US$ 100 (R$ 374) shop.magnumphotos.com
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