Candidato turco de oposição admite derrota e nega ameaças

Havia expectativas de que Ince pudesse ao menos chegar a um segundo turno no pleito presidencial

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Apoiadores de Muharrem Ince durante manifestação em 23 de junho de 2018
Apoiadores de Muharrem Ince durante manifestação em 23 de junho de 2018 - Bulent Kilic/AFP
Istambul

Após um longo sumiço que preocupou seus eleitores, o candidato turco de oposição Muharrem Ince reapareceu nesta segunda-feira (25) para comentar a sua derrota eleitoral da véspera. Ele admitiu que perdeu o pleito e negou os boatos de que tivesse sido ameaçado pelo governo para não pôr em dúvida os resultados.

Havia expectativas de que ele pudesse ao menos chegar a um segundo turno no pleito presidencial, mas o atual mandatário Recep Tayyip Erdogan recebeu 52% dos votos e venceu já na primeira etapa. Esse líder conservador, há 15 anos no poder do país de 80 milhões, representa a sigla AKP (Partido Justiça e Desenvolvimento).

Erdogan também conseguiu a maioria parlamentar, com 53,6% dos votos em sua aliança com o direitista MHP (Partido de Ação Nacionalista). Isso significa, para os analistas, que seu novo governo seguirá adiante com a guinada conservadora e nacionalista desta década.

Ince, por sua vez, teve 30,7% dos votos para presidente. Já sua sigla, o social-democrata CHP (Partido Republicano do Povo), obteve 22,7%.

Em uma aparição diante da imprensa às 12h locais (6h em Brasília), Ince reclamou da falta de equilíbrio nas eleições turcas, em que Erdogan monopolizou a cobertura dos meios locais —dos dez jornais mais lidos, sete estão sob influência do governo ou de seus aliados. A televisão turca, disse o social-democrata, não acompanhou seus comícios, como aquele que reuniu 1 milhão de pessoas em Istambul.

Mas ele também disse que a contagem de votos feita pelo seu partido  em geral coincide com os números oficiais e, portanto, foi realmente derrotado.

Agora que Ince admitiu a derrota e sinalizou não ter a intenção de contestar os resultados, o presidente Erdogan tem o caminho livre para consolidar seu mando cada vez mais autocrático. Ele foi premiê do país de 2003 a 2014 e é presidente desde então —agora reeleito.

Este será seu primeiro mandato, no entanto, após a reforma constitucional aprovada em plebiscito no ano passado. Em uma votação acirrada, o país trocou o sistema parlamentar pelo presidencial e ampliou de modo significativo os poderes de Erdogan.

“Nós vamos viver as consequências de ter o mando de um só homem no Legislativo, no Judiciário e no governo”, Ince disse em Ancara, a capital. “Vou seguir adiante com a luta como a pessoa que recebeu o apoio de 1 a cada 3 pessoas na Turquia.”

Apesar de sua derrota, o social-democrata conseguiu um resultado incomum, em um país que viveu a desintegração da oposição nos últimos anos.

Esse ex-professor de física foi capaz de competir com Erdogan, um político veterano, e demonstrou ter uma inesperada habilidade retórica.

Como explicaram analistas e eleitores à reportagem da Folha durante a semana passada, na contagem regressiva eleitoral, um dos pontos fortes de Ince é a sua capacidade de falar em público, diferentemente de candidatos anteriores da oposição.

Em seu último comício, no sábado (23), ele apareceu no palco com uma batata e uma cebola —transformando assim o aumento do preço desses produtos em um popular tema de campanha.

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