Descrição de chapéu Governo Trump

Crianças menores e em abrigos mais novos preocupam governo brasileiro

Segundo embaixadora, pelo menos 11 dos 49 crianças estão sozinhos em locais sem compatriotas

Tênis de cores diferentes, uma girafa e um urso azul de pelúcia aparecem na pilha, que está à frente de uma grade. Ao fundo, quatro argentes armados perfilam ao lado de uma SUV branca que aparece de frente.
Tênis e brinquedos de crianças que foram deixados para trás durante a passagem da fronteira são colocados em uma pilha em frente ao centro de imigrantes em Tornillo, no Texas - Brendan Smialowski/AFP
Washington

Os abrigos em que estão as 49 crianças brasileiras separadas dos pais nos EUA ainda estão sob avaliação, com visitas in loco, dos consulados do Brasil —que se preocupam, em especial, com as crianças menores, sozinhas ou em instituições recentemente adicionadas à rede de proteção americana.

"É um trauma terrível, uma situação que nos dá muita angústia", afirmou à Folha a diretora do departamento consular e de brasileiros no exterior do Itamaraty, a embaixadora Luiza Lopes, nesta quinta (21).

As crianças têm entre 6 e 17 anos, e estão em 15 abrigos espalhados pelo país. Pelo menos 11 estão sozinhas, sem outros brasileiros, num local onde a maioria das pessoas fala apenas espanhol ou inglês. "Daí vem um pouco o trauma dessas crianças", comentou Lopes.

Até agora, nos abrigos visitados pela equipe, não foi encontrada "nenhuma situação limite", como o uso de grades, colchonetes pelo chão ou crianças espalhadas em grandes galpões —como reportado pela imprensa americana.

A embaixadora destaca que os dois abrigos de Chicago, onde está a maior parte dos brasileiros (são 29 crianças), são considerados referência e têm atividades de ensino e recreativas, incluindo passeios a locais como zoológico, shoppings e parques.

"Nesses abrigos, os relatos são de que as crianças estavam bem física e emocionalmente. Elas ficam ocupadas o tempo todo", disse Lopes.

Segundo ela, as próprias instituições notificam o consulado para intermediar contatos com as famílias.

A comunicação com o governo americano, que fiscaliza e supervisiona os abrigos, é fluida, e há um acordo para que, a cada criança brasileira que entre no sistema, o Itamaraty seja avisado.

Mas nem todos os locais foram visitados até aqui: parte das inspeções deve ocorrer entre esta quinta e sexta-feira (22), em especial aos abrigos novos, que estão na fronteira com o México —e que não necessariamente comunicam os casos ao governo brasileiro.

O papel dos funcionários é visitar as crianças, verificar as condições dos menores e auxiliar para que a reintegração com a família se dê o mais rápido possível. "A gente faz a ponte para minorar esse trauma", afirmou Lopes.

Em média, as crianças costumam ficar entre um mês e meio e três meses nos abrigos, maior tempo de espera registrado desde 2013. O destino das crianças é definido por um juiz: o objetivo principal é reintegrá-las às famílias.

Na maioria dos casos, elas são entregues a parentes ou a amigos próximos nos EUA. "É isso que alimenta a esperança dos pais", afirmou Lopes.

Mas a maioria dos pais detidos na fronteira acaba sendo deportada. Um percentual menor de crianças é deportado junto com eles, ou volta ao Brasil antes disso, para se reintegrar à família.

Um dos casos mais preocupantes no momento é o de um menino de seis anos, de Minas Gerais, que atravessou a fronteira com o pai, atualmente prestes a ser deportado. A criança está no abrigo desde o início de junho, sozinha.

A mãe, no Brasil, tenta conseguir a autorização para que ela volte ao país —mas a Justiça americana exige algumas condições, como um relato detalhado das autoridades brasileiras sobre a aptidão do lar para receber o menor.

O caso do adolescente de 16 anos, autista e com crises de epilepsia, relatado pela Folha nesta quarta (20), foi resolvido: ele foi reintegrado à mãe, que mora em Connecticut.

A expectativa do Itamaraty é que a ordem executiva de Trump ajude a reunir as famílias com mais rapidez.

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