Descrição de chapéu Financial Times

Cúpula entre Trump e Putin se aproxima, mas sem expectativa de acordo

Encontro os dois presidentes é visto como avanço, mas anúncios substantivos são improváveis

Kathrin Hille Henry Foy Katrina Manson
Moscou e Washington | Financial Times

A Casa Branca e o Kremlin estão fazendo preparativos avançados para uma cúpula entre os presidentes Donald Trump e Vladimir Putin, prevista para ocorrer em um terceiro país no próximo mês, apesar das  baixíssimas expectativas de ambas as partes.

John Bolton, assessor linha dura de segurança nacional de Trump, deve discutir a pauta do encontro planejado em conversas com o chanceler russo, Sergei Lavrov, e depois com o próprio Putin, em Moscou, na quarta-feira (4).

De acordo com um alto funcionário russo, a cúpula ocorrerá após a visita de Trump ao Reino Unido, em 13 de julho. Contrariando as expectativas anteriores de que os líderes pudessem se reunir na Áustria, as duas partes chegaram a um acordo preliminar em relação a outro país logisticamente mais conveniente para sediar o encontro, disse o funcionário.

Uma cúpula com Donald Trump será uma conquista para Putin, considerando que a Rússia procura tal encontro há 18 meses, mas o clima no Kremlin está longe de ser triunfal.

“Com Trump, o melhor é manter uma atitude de cautela”, disse o funcionário sênior russo. “O simples fato de o encontro se realizar já significará progresso; logo, encontrar um único ponto de concordância será uma vitória.”

“Não adianta tentar forçar as pessoas a um diálogo se elas apenas irão lançar um discurso áspero. Se as duas partes enxergam que é necessário um diálogo, isso já é progresso.”

Mas as expectativas de um avanço significativo no relacionamento são baixas, tanto em Moscou quanto em Washington.

Fortemente prejudicadas depois de Moscou ter anexado a Crimeia e alimentado o conflito no leste da Ucrânia, as relações bilaterais EUA-Rússia se agravaram ainda mais em abril, quando Washington impôs as sanções mais duras até agora à Rússia devido ao que descreveu como “atividade maligna russa pelo mundo afora”, incluindo a Ucrânia, a Síria, a internet e uma tentativa de “subverter democracias ocidentais”.

Uma investigação nos EUA chefiada pelo ex-diretor do FBI Robert Mueller está averiguando se a equipe de campanha de Trump entrou em conluio com os russos para ajudar a garantir sua eleição. O presidente tacha a investigação de “caça às bruxas”.

Autoridades dos EUA duvidam que o presidente consiga fechar qualquer grande acordo com a Rússia, mas algumas apoiam a perspectiva de um esforço para aliviar as tensões, algo que pode resultar de um encontro cara a cara entre os dois presidentes.

“Trump tem constantemente procurado moderar sua linguagem em relação a Putin e se mostrado extremamente relutante em criticá-lo”, disse Andrew Weiss, ex-diretor para a Rússia do Conselho de Segurança Nacional. “Acho que o objetivo dessa cúpula será fazer algo muito visível, que chame muito a atenção, e não tanto tentar fazer avançar partes diferentes da pauta Rússia-Estados Unidos.”

Essa avaliação reflete as expectativas no Kremlin. “Não creio que possamos alcançar um acordo que seja um avanço importante”, disse o funcionário sênior russo. “Será mais um evento para o público ver.”

Autoridades do Kremlin preveem que os dois líderes discutirão a Ucrânia, a Síria, a Coreia do Norte e o controle de armas, mas acreditam que será impossível chegar a mesmo um acordo mínimo em qualquer dessas áreas que possa ser descrito como um êxito.

Autoridades russas disseram que é mais provável que os dois lados busquem um acordo de cooperação sobre alguma questão mais secundária, que, então, possa ser usada como instrumento para tentar gradualmente convencê-los a voltarem a dialogar.

Trump talvez opte por um falso grande acordo, que nos dará promessas vagas de Putin [sobre a Ucrânia] em troca de um recuo unilateral nas sanções e/ou algum boicote proposital da cúpula da Otan por parte dos Estados Unidos, ou, ainda, um convite a Putin para participar de um acordo de segurança que supostamente transcenderá a Otan”, opinou Daniel Fried, ex-funcionário sênior do Departamento de Estado que liderou a política de sanções contra a Rússia.

Fried sugeriu que a outra área principal de potencial cooperação na qual os dois líderes poderiam afirmar algum progresso será a de esforços renovados para coordenar relações militares e limitar a escala de exercícios militares. “Isso seria algo que teria valor”, ele disse.

Mas especialistas na política externa russa e dos EUA avisam que a erosão de confiança e a degradação da arquitetura do controle de armas impeliu o relacionamento entre as duas potências nucleares para um terreno possivelmente mais perigoso que o dos tempos da União Soviética.

“O potencial de uma crise militar entre a Rússia e os EUA está em segundo plano atualmente devido a todo o resto que está acontecendo: o futuro do acordo com o Irã, as negociações com a Coreia do Norte”, disse Andrei Baklitsky, especialista em armas nucleares no Centro PIR, sediado em Moscou. “Mas esse potencial ainda é muito real e, francamente, muito assustador.”

Um funcionário da chancelaria russa cuja área de especialização é o desarmamento nuclear disse que o controle de armas merece estar “em primeiríssimo lugar” na pauta da cúpula.

Mas funcionários do Kremlin pensam que não há chance alguma de esse tópico render resultados políticos. “Estamos em uma espiral descendente”, disse o alto funcionário. “Precisamos de confiança demais ... e não temos um átimo dessa confiança.”

Tradução de Clara Allain

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