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Decoração da Parada LGBT se torna permanente nas ruas de Paris após pichação homofóbica

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Pessoas atravessam uma faixa de pedestres. No lado esquerdo dela há uma faixa do arco-íris perpendicular.
Uma das faixas de pedestres do bairro do Marais, em Paris, continuará com a faixa do arco-íris da Parada Gay, segundo a prefeita, Anne Hidalgo - Reprodução/Twitter/@anne_hidalgo
Marcos Lúcio Fernandes
RFI

O bairro do Marais, na região central de Paris, teve suas ruas pintadas nas cores do arco-íris por ocasião da parada LGBT que acontece nesse sábado (30) na capital francesa.

Mas as inscrições multicoloridas não demoraram muito para provocar reações homofóbicas —e a resposta da prefeitura foi tornar permanente os desenhos que deveriam ser efêmeros, como prova de enfrentamento.

Na noite de 25 de junho, alguns dias depois da inauguração das faixas coloridas no bairro do Marais, a frase "LGBT fora da França" foi pichada ao lado dos arcos-íris.

A declaração homofóbica gerou diversas reações nas redes sociais, levando a Prefeitura de Paris a tomar a decisão de oficializar a permanência das pinturas por tempo indeterminado.

"A luta por igualdade de direitos e contra as discriminações acontece durante a temporada do Orgulho LGBT, mas também durante o resto do ano", declarou a prefeita de Paris, Anne Hidalgo.

"Além das várias ações que conduzimos com as associações, decidi tomar uma decisão simbólica: vamos perpetuar as faixas de pedestre 'arco-íris' do Marais, como uma mensagem de boas-vindas."

A frase homofóbica foi apagada logo após sua descoberta e duas novas faixas coloridas foram acrescentadas na região, que concentra a maior parte das boates e dos bares LGBT de Paris desde os anos 1980.

Aumento da homofobia na França

Paris recebeu recentemente o título de cidade "mais gay friendly" do mundo, fato que foi celebrado no site da prefeitura. No dia 17 de maio, Anne Hidalgo também entregou o prêmio Paris Prize for LGBT Rights a associações e militantes da causa. Além disso, a capital acolherá, do dia 4 ao 12 de agosto, o Gay Games, uma espécie de olimpíadas LGBT.

São várias ações afirmativas que chamam atenção para as demandas e as lutas da comunidade, mas que se confrontam com dados recentes que apontam para um aumento da homofobia na França. O relatório da associação SOS Homofobia, por exemplo, revela um aumento de 4,8% em 2017 de denúncias de agressões —1.650 no total— com relação a 2016, que havia registrado, por sua vez, 19,5% de casos a mais que o anterior, com 1.575 testemunhos.

Segundo a organização, os casos homofóbicos não cessam de aumentar desde que chegaram ao recorde de 3.517 denúncias em 2013, ano de adoção da lei do casamento entre parceiros do mesmo sexo.

Um outro estudo, feito pelo instituto IFOP a pedido de associações de luta pelos direitos LGBT, mostra que cinquenta e três por cento das pessoas que se declararam homossexuais, bissexuais ou transgêneros na França já foram vítimas de agressões.

Vinte e oito por cento dos 994 entrevistados, que responderam um questionário online, declararam ter sido vítimas de insultos. Além disso, 24% deles sofreram diferentes tipos de abusos, 18% receberam ameaças e 11% relataram um estupro.

Instrumentalização da causa LGBT

O contraste das ações conduzidas pela prefeitura e o aumento de casos de homofobia na França levaram à crítica de uma "instrumentalização" da causa. De acordo com o grupo militante que guiará a Parada LGBT, o "Cortejo Parem com o Pinkwashing!", a cidade de Paris estaria tentando ganhar visibilidade e mais turistas através de uma imagem de cidade "gay friendly".

"A cidade de Paris, que quer receber o título de lugar mais 'gay friedly' da Europa, não consegue mascarar a realidade de sua política sob seus adesivos em arco-íris", afirma o texto do evento no Facebook.

"A organização dos Gay Games neste verão constitui um exemplo odioso da hipocrisia de uma cidade capitalista, que nos considera como um pedaço do mercado, mas despreza nossos direitos e nossa dignidade. Como acreditar que Paris, mesmo coberta de bandeiras LGBT, possa ser outra coisa além de palco de violências cotidianas, nessas condições?"

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