Derretimento da moeda sinaliza que Turquia terá crise econômica em breve

Apesar de crescimento forte recente do PIB, país enfrenta inflação e desemprego altos

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Mulheres muçulmanas em mercado da cidade de Esmirna, a terceira maior da Turquia
Mulheres muçulmanas em mercado da cidade de Esmirna, a terceira maior da Turquia - Ian Cheibub/Folhapress
Istanbul

A lira turca deu um mergulho.

A moeda oficial da Turquia tem marcado recordes negativos nas últimas semanas, e hoje o câmbio é de praticamente 5 liras para um dólar. Há dez anos, as cotações eram quase paritárias.

A desvalorização sinaliza uma tempestade por vir, com a previsão de aumentos insustentáveis na inflação. Não à toa o presidente turco, Recep Tayyip Erdogan, decidiu antecipar as eleições para o domingo (24) —estavam previstas para daqui a mais de um ano. Tenta evitar chegar às urnas após o estouro.

“Seus assessores devem ter dito ao presidente que o país está desacelerando, e ele não queria que isso acontecesse antes das eleições”, afirma a economista Selva Demiralk, da Universidade Koç.

Ainda assim, a população vota para Presidência e Parlamento já sob os primeiros efeitos da crise. Um quilo de cebola sai hoje pelo equivalente a R$ 5, três vezes mais do que há um ano.

Mais do que preocupações quanto à guerra na Síria ou à liberdade de imprensa, é isso que pode turbinar a oposição.

“Se a coisa continuar assim, vou ter que mendigar”, afirma Zafer Saglam, 70, enquanto escolhe cebolas em um mercado no subúrbio de Istambul. “Já não pensamos mais no futuro. Apenas no dia seguinte.”

Ele culpa o governo e a ausência de uma política agrária eficiente pelo quadro temerário. Economistas também avaliam que há uma parcela de culpa das autoridades. Isso porque o país cresceu demais nos últimos anos, para além de seu potencial, diz Demiralk.

O PIB (Produto Interno Bruto) subiu 7,4% no ano passado. Essa expansão foi baseada em construção e consumo, algo que não conseguiu apaziguar o desemprego, na casa dos 10%.

A economia é afetada também pela instabilidade política, em especial pela tentativa frustrada de golpe em julho de 2016. Desde então, o governo de Erdogan promove um expurgo —deteve 140 mil pessoas e exonerou dezenas de milhares de funcionários públicos.

O presidente também modificou a Constituição do país, ampliando seus poderes, e deve vencer essas eleições. Ele comanda o país desde 2003, quando foi eleito primeiro-ministro. A continuidade de seu mando autoritário começa a preocupar os investidores.

Com a crise tomando esses contornos, ganha força uma piada recorrente em Istambul: a de que os candidatos torcem secretamente para não vencer a fim de não ter de lidar com o desastre econômico que inevitavelmente acompanhará o mandato.

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