Descrição de chapéu Venezuela

É inapropriado fechar fronteira para venezuelanos, diz Temer em Roraima

Presidente considera que envio de imigrantes para o resto do país deve ser feito com cautela

De terno, Temer aparece olhando desenhos na parede, ao lado de duas agentes do Alto Comissariado de Direitos Humanos da ONU, com coletes. Atrás deles outro agente com colete cinza. O local tem telhado de amianto aparente e uma das paredes, ao fundo deles, tem um desenho de uma montanha com árvores e flores. Acima deles, também há desenhos de crianças pendurados em uma espécie de varal.
O presidente Michel Temer visita escola em um dos abrigos para venezuelanos em Boa Vista (RR) - Alan Santos/Presidência da República/AFP
Sônia Lúcia Nunes
Boa Vista

O presidente Michel Temer negou o pedido do governo de Roraima de fechar as fronteiras para a entrada de venezuelanos no país. Temer visitou nesta quinta-feira (21) o abrigo Nova Canaã, que hoje acolhe 403 imigrantes que deixaram o país vizinho com a crise econômica e escassez de alimentos. 

Nós não temos como fechar a fronteira. Isso seria uma coisa inapropriada. Nós estamos todos de acordo que não há como fechar a fronteira, mas também não há como abandonar as necessidades do estado”, disse Temer, respondendo a uma das solicitações da governadora de Roraima, Suely Campos, (PP), que pediu o fechamento temporário da fronteira com a Venezuela.

No abrigo, Temer foi recebido com aplausos, conheceu as instalações e um espaço onde as crianças fazem atividades lúdicas, além de conversar rapidamente com uma família venezuelana. 

“Nós aqui, estamos praticando uma simbologia, de mostrar ao mundo esse sentido humanitário que o Brasil traz consigo.”

Questionado, o presidente não respondeu sobre a situação de crianças imigrantes que foram separadas dos pais na fronteira dos Estados Unidos —mais de 2.300 delas já foram afastadas dos pais desde o mês passado.

Temer disse ainda que o deslocamento de venezuelanos pelo país precisa ser tratado com cautela. “As pessoas pensam o seguinte: você pega os venezuelanos, coloca em um ônibus e avião e despeja em outro estado. Não é assim que se faz", disse.

"Quando interioriza os venezuelanos, eles já vão com todas as condições de habitabilidade em um novo estado e isso está sendo feito permanentemente pela Casa Civil. Um trabalho mais demorado e mais longa, mas que está sendo feito com muito empenho.”

A crise migratória intensificou-se em 2015, com a chegada dos primeiros grupos de venezuelanos. Segundo a Prefeitura de Boa Vista, atualmente vivem 25 mil venezuelanos só na capital. Nos últimos cinco meses, a média de entrada diária de venezuelanos em Roraima foi de 416 pessoas. 

Juan Javier, 18, chegou à Boa Vista há seis meses. Ele vive em umas das 65 barracas espalhadas no abrigo Nova Canaã. Divide o espaço com a prima Marilin José, 21, dois irmãos, o pai, mãe e avô. 

Sem estudar nem trabalhar, os dois aguardam a oportunidade de serem incluídos na lista de interiorização. O destino escolhido: Santa Catarina. “É um estado muito bonito e queremos a oportunidade de trabalhar lá. Quando a Venezuela melhorar, nossa intenção é voltar para nosso país”.

Temer respondeu de forma vaga sobre as demandas apresentadas pela governadora, que inclui o ressarcimento de R$ 184 milhões que teriam sido gastos para atender os imigrantes, a construção de um hospital para atender exclusivamente os imigrantes e mais recursos para manter o atendimento aos venezuelanos na saúde, educação e segurança pública. 

Estou com o pedido da governadora. São vários temas importantes. Ela me deu uma lista que vou levar e vou examinar com muito carinho e muita atenção as necessidades do Estado”, disse.

O governo federal repassou R$ 190 milhões para ações da força-tarefa humanitária em Roraima, coordenada pelo Exército. Há oito abrigos em Boa Vista e um em Pacaraima, na fronteira, que acolhem cerca de 4.000 venezuelanos. 

Mais quatro acampamentos devem ser criados nos próximos meses. Os atendimentos são coordenados em parceria com o Alto Comissariado das Nações Unidades para Refugiados (Acnur), Organização Humanitária Fraternidade Sem Fronteiras com apoio da prefeitura e do governo do estado.

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