Eleição de 'poste' pode atestar supremacia do controverso Uribe

Popular ex-presidente responde por várias acusações, mas se manteve influente

O ex-presidente Álvaro Uribe (dir.) e seu afilhado político, o candidato à Presidência Iván Duque, durante evento de campanha em maio, em Bogotá
O ex-presidente Álvaro Uribe (dir.) e seu afilhado político, o candidato à Presidência Iván Duque, durante evento de campanha em maio, em Bogotá - Nacho Doce - 20.mai.18/Reuters
SYLVIA COLOMBO
Bogotá

Se Iván Duque for eleito neste domingo (17), vai se confirmar que Álvaro Uribe é o político mais poderoso da Colômbia desde que assumiu o poder pela primeira vez, em 2002.

Apesar de o atual presidente Juan Manuel Santos ter conseguido pôr fim à guerra com as Farc, reorganizar a economia e ganhar um Nobel da Paz, Uribe continuará com 53% de popularidade, enquanto Santos sairá com magros 14%.

Uribe nunca saiu de cena. A partir de sua conta nas redes sociais, ele influenciou debates domésticos, propagandeou candidatos em eleições regionais e fez campanha pelo “não” no plebiscito da paz que saiu vitoriosa.

Nas eleições legislativas, em março, foi reeleito senador com o maior número de votos da história da Colômbia, o que fará dele líder da Casa. 

E o principal objetivo terá sido atingido. Fez com que o menos opaco entre os mais fiéis uribistas, Duque, conhecido por só 25% dos colombianos um ano atrás, chegasse na reta final como favorito à Presidência.

Uribe teve dois mandatos na Presidência porque alterou a Constituição. Tentou um terceiro, mas a Justiça o impediu. Santos, no segundo mandato, voltou a eliminar a reeleição.

O ex-presidente conseguiu também coisas pouco plausíveis, como convencer boa parte da população de que Santos, seu ex-afilhado e seu ex-ministro da Defesa, era um esquerdista radical.

Além disso, logrou escapar, por ora, das mais de 200 acusações que existem contra ele na Justiça e que incluem crimes de corrupção, escutas ilegais de opositores, uso de hackers em campanhas eleitorais, supostos vínculos com o narcotráfico e os chamados falsos positivos —assim chamados devido às metas mensais de mortes de guerrilheiros que Uribe impunha aos paramilitares.

Quando não conseguiam, os “paras” matavam civis mesmo, e afirmavam ser guerrilheiros. 

A Justiça, depois de um longo trabalho de investigação, concluiu que muitos deles não tinham vínculos com as guerrilhas, por isso foram chamados de falsos positivos.

Os mandatos de Uribe lhe conferem foro privilegiado, e as reiteradas tentativas da oposição de derrubar esse privilégio e de dar prosseguimento aos julgamentos até agora não vingaram.

Mais de uma vez, também, Uribe demonstrou a Santos ter informações secretas das altas cúpulas do Exército, e com isso conseguiu pressionar o atual presidente.

Entre seus apoiadores, é tido como uma figura que trouxe segurança às cidades, pois as manteve policiadas de modo ostensivo. Além disso, conteve a violência no campo ao financiar as milícias paramilitares. 

Por essa via nada institucional, conseguiu que as Farc diminuíssem muito em números de combatentes. O que, ironicamente, ajudou Santos, já na Presidência, a convencer os guerrilheiros restantes a se sentar para negociar o acordo de paz em 2012 —aprovado pelo Congresso, à revelia de Uribe, em 2016.

Tópicos relacionados

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.