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Coreia do Norte

Kim responde a jogada de Trump, que aposta na 'diplomacia do louco'

Se a paz será alcançada a partir de golpes de marketing, isso é algo a ser provado ainda

São Paulo

Ao descartar o encontro de cúpula sugerido de forma surpreendente por Kim Jong-un, o presidente Donald Trump deu razão a quem considera que ele emula a prática da "diplomacia do louco" no seu trato com a Coreia do Norte.

Trump (centro) posa para foto com o braço-direito de Kim Jong-un, Kim Yong-chol, e uma integrante da delegação norte-coreana que visitou a Casa Branca nesta sexta (1º)
Trump (centro) posa para foto com o braço-direito de Kim Jong-un, Kim Yong-chol, e uma integrante da delegação norte-coreana que visitou a Casa Branca nesta sexta (1º) - Saul Loeb/AFP

O termo foi cunhado a partir do mandato do também republicano Richard Nixon (1969-74) à frente da Casa Branca, baseado em conceitos clássicos da ciência política desde Maquiavel.

Ele se baseava na ideia a ser passada ao adversário, no caso o bloco comunista liderado pela União Soviética, de que era necessário parecer "algo louco" em negociações —ou seja, disposto a romper a sabedoria convencional e ameaçar a ideia de uma guerra nuclear, no exemplo em questão.

Em 1983, a paranoia gerada pelo artifício quase levou o mundo ao holocausto atômico, dada a falta de confiança de lado a lado.

Trump parece ter adotado a teoria ao pressionar Kim ao longo de 2017, como forma de responder à versão norte-coreana da diplomacia: o ditador comunista alcançou avanços visíveis em seu programa de armas no ano passado, levando os EUA a acreditar que o país já pode, ou poderá brevemente, atingi-lo com uma bomba nuclear.

Ao negar a cúpula alegando inconstância do outro lado, Trump jogou a bola de volta a Kim. Deu certo, aparentemente, já que ele mandou um prócer do regime para território hostil a fim de retomar a discussão.

O componente "louco" sempre fez parte da estratégia fundamental do Estado norte-coreano. Parecer maluco o suficiente sempre foi um ativo em negociações, até para forçar os americanos à mesa como ocorreu em 1994. A própria existência do regime, dinástico e stalinista ao mesmo tempo, depende tanto dessa variável quanto de armas nucleares.

Resta, claro, saber se o movimento atual é só mais uma tentativa de ganhar tempo e ludibriar um inimigo desejoso de holofotes favoráveis ou não.

A confirmação do encontro Kim-Trump nem de longe serve como atestado de sanidade à tática.

Considerando a dinâmica entre os dois polos, será preciso esperar até o dia 12 (ou antes) para saber se realmente Kim respondeu à altura da última jogada de Trump.

Ao americano, o cancelamento da semana passada era a única forma de perder o comando da narrativa do encontro, deixando um caminhão de ônus à sua disposição. Agora, o jogo voltou a se equilibrar, à espera de seu novo capítulo.

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