Máfia do poder será expulsa, diz candidato esquerdista no México

Em último comício, López Obrador diz que proporá a Trump tratado com Canadá e América Central

De blazer preto e camisa branca, López Obrador levanta a mão esquerda para se despedir de seus seguidores. Ao fundo, caem papéis picados brancos, vermelhos e cor de rosa e aparecem fogos de artifício.
O candidato esquerdista à Presidência do México Andrés Manuel López Obrador acena para o público depois de discursar em seu último comício da campanha nesta quarta-feira (27) no Estádio Asteca, na Cidade do México - Ronaldo Schemidt/AFP
Cidade do México

Andrés Manuel López Obrador, 64, candidato favorito à Presidência nas eleições mexicanas, que ocorrem no próximo domingo (1), chegou ao mítico Estádio Asteca às 20h30 (22h30 em Brasília), sob aplausos e com suas arquibancadas e campo lotados.

Tirou selfies, abraçou apoiadores, enquanto soava seu hino de campanha, que fala em “terminar com a máfia neoliberal” e que “se o país se moreniza, não o domina mais a Televisa”, fazendo referência ao nome de seu partido, o Morena (Movimento Regeneração Nacional) e à emissora de TV que considera uma aliada do rival PRI (Partido da Revolução Institucional).

“O que vamos consumar no domingo vem de longe, e já foi alimentado e enriquecido por várias gerações de homens e mulheres que lutaram pela soberania nacional”, disse.

E fez referência a camponeses, estudantes, trabalhadores de ferrovias e defensores de direitos humanos, destacando os jovens de 1968 —vítimas do Massacre de Tlatelolco, repressão violenta de um protesto de estudantes por parte de um governo do PRI.

Também elogiou figuras de seu antigo partido, o esquerdista PRD, como Cuauhtémoc Cárdenas, seu líder histórico, e intelectuais como Sergio Pitol (1933-2018), Carlos Monsiváis e Elena Poniatowska, que sempre o apoiaram.

AMLO (como é conhecido) disse que a vitória de domingo surgirá “não só do término do atual regime autoritário que chega a seu fim”, mas também da tarefa exitosa de “semear ideias por meio de líderes políticos próximos ao povo de todas as regiões do México que viemos fazendo nos últimos anos”.

Afirmou que seu governo será “uma mudança verdadeira em que será expulsa a máfia do poder e que marcará o fim da corrupção, esse câncer que está destruindo o país, causando a desigualdade e a violência”.

Acrescentou que sua carreira política é uma “linha reta, no que diz respeito à honestidade e à transparência”, enquanto o PRI e o direitista PAN (Partido da Ação Nacional) são “a mesma coisa, um mesmo grupo, que controla as instituições, que tem uma tremenda ambição e uma tremenda avareza.”

Afirmou que o sucesso de sua candidatura também está relacionado a uma mudança de comportamento da classe média, que antes não o respeitava, mas que agora “compreendem minha mensagem e votarão por mim”.

Fez referência aos jovens, afirmando que “mesmo sendo o mais velho na disputa, eles sabem que eu sou o que representa a modernização, pacífica, ordenada e sem violência.”

Afirmou que no passado, os próceres do México tiveram de usar armas para fazer suas revoluções, e evocou os padres Miguel Hidalgo e José Maria Morelos, que primeiro defenderam a independência do país, e o presidente indígena Benito Juárez, no século 19. 

“Eles tiveram também de usar armas, mas nós temos a sorte de que podemos fazer nossa revolução assim como eles a fizeram, mas em paz.”

Acrescentou que seus opositores não devem temer quando o chamam de “radical”, porque “radical vem de raiz”, e que em seu governo haverá Estado de Direito e liberdade de expressão. Mais uma vez, criticou o serviço de inteligência secreto mexicano e disse que perseguirá as irregularidades no financiamento de campanhas.

Disse também que mandará ao Congresso um projeto de lei que permitirá consultar a população sobre se esta deseja, na metade do sexênio, que o presidente saia ou siga no poder.

Também afirmou que reduzirá os salários dos altos funcionários, que ele ganhará a metade do que ganha o atual presidente, Enrique Peña Nieto, e que não viverá na residência oficial, Los Pinos, que será transformada em um museu, e que venderá aviões e helicópteros oficiais, que não haverá segurança particular nem secretários pessoais para os altos funcionários.

“Com essa poupança, ajudaremos os pobres, porque numa sociedade desigual como a nossa, se não há justiça social, não podemos evitar que surjam a insegurança, a violência e a corrupção.”

Sobre o crime organizado, disse que “não é possível viver num país em que morrem cerca de 89 pessoas por dia. Mas combateremos o crime sem desrespeitar os direitos humanos.”

Sobre os EUA, disse que pretende manter boa relação e propor a Donald Trump um tratado não apenas dos países da América do Norte, mas incluindo os países centro-americanos.

Seus rivais, o centrista Ricardo Anaya, e José Antonio Meade (PRI) encerraram suas campanhas em Guanajuato e em Coahuila, respectivamente.

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