Nicarágua tem ao menos três novas mortes em protestos contra governo

Mais de 130 pessoas morreram desde o início das manifestações no país, em abril

Manifestante lança morteiro doméstico durante protesto em Masaya, na Nicarágua
Manifestante lança morteiro doméstico durante protesto em Masaya, na Nicarágua - Esteban Felix - 2.jun.2018/Associated Press
Masaya (Nicarágua) | AFP

Ao menos três pessoas morreram em novos confrontos entre manifestantes e forças antimotim nos protestos contra o governo da Nicarágua, enquanto aumentavam os bloqueios nas estradas em quase todo o país.

Os choques ocorreram neste sábado em Masaya, 30 km ao sul da capital, Manágua, onde um homem de 60 anos morreu ao ser atingido por "uma bala de franco-atirador", disse a um meio local o representante da Associação Nicaraguense Pró-Direitos Humanos (CPDH), Alvaro Leiva.

"A situação em Masaya é de crise, é um SOS de direitos humanos que estamos" fazendo, disse Leiva.

"Por toda a cidade se ouviam explosões e rajadas de armas de fogo", disse um líder do Movimento Estudantil 19 de Abril da cidade, Yubrank Suazo.

O Centro Nicaraguense de Direitos Humanos (Cenidh) contabilizava até este sábado (9) 137 pessoas mortas desde o início dos protestos, em 18 de abril, sem incluir ainda uma das vítimas em Masaya.

O relatório do Cenidh inclui dois jovens mortos na noite de sexta-feira (8), um na cidade de Jinotega e outro em Manágua.

Em Jinotega, na noite de sexta-feira desconhecidos comandaram um ataque armado contra manifestantes que estavam fazendo a segurança de uma barricada sobre uma via, causando a morte de um jovem e vários feridos.
 

Grupo participa de enterro do estudante Chester Chavarria, 19, morto durante protesto - Jorge Cabrera/Reuters

Segundo um comunicado divulgado nas redes pelo Movimento Estudantil 19 de Abril de Jinotega, "paramilitares afins ao governo crivaram jovens que estavam nas ruas lutando pela liberdade e democracia".

Foi "uma noite de terror", denunciou o grupo estudantil de Jinotega, onde os confrontos continuavam neste sábado.

Em Manágua, um jovem motociclista foi perseguido e assassinado também na noite de sexta-feira com um disparo na nunca por homens armados em duas motocicletas, segundo relatos da imprensa e nas redes sociais.

Os distúrbios na Nicarágua começaram em abril, quando, convocados inicialmente por estudantes universitários, cidadãos saíram às ruas em centenas de milhares para rebelar-se contra um ajuste no sistema previdenciário e um aumento de impostos que o governo havia decidido. 

Nos últimos tempos, as medidas do governo de Daniel Ortega são automaticamente aprovadas pelo Congresso, uma vez que a oposição foi impedida de participar das últimas eleições.

Ortega ficou conhecido por ter participado da revolução que retirou do poder a dinastia do direitista Anastasio Somoza, na Revolução Sandinista de 1979. Até 1990, primeiro como coordenador da Junta de Reconstrução Nacional e depois como presidente, Ortega governou a Nicarágua. 

Perdeu, então, as eleições seguintes para uma ex-apoiadora do sandinismo, Violeta Chamorro, mas voltou mais tarde ao poder, através das urnas, em 2007.

Ortega é o presidente desde então, tendo-se transformado de ícone marxista latino-americano num autocrata, que avançou sobre a Justiça e as Forças Armadas, eliminou as restrições para reeleições e proibiu os partidos opositores de competir em eleições.

Até pouco tempo atrás, mantinha-se firme no poder, devido ao apoio da Igreja Católica, do Exército, do empresariado e de uma vultosa ajuda financeira e por meio de petróleo que vinha da Venezuela. O país crescia 4,5% ao ano.

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