No Brasil, Temer pedirá a vice de Trump fim de separação de crianças

Presidente recebe Mike Pence terça em Brasília; crise na Venezuela é outra prioridade

Temer está cercado por cinco crianças. Ele abraça uma menina, de camisa vermelha, enquanto uma menina e outros dois meninos se aproximam à direita, sorridentes. Uma adolescente, mais velha, arma uma selfie  com o presidente. A cena é observada por um grupo de adultos, que aparece atrás, dentro de uma área coberta.
O presidente Michel Temer recebe crianças venezuelanas ao visitar um abrigo em Boa Vista (RR) - Alan Santos/Presidência da República
São Paulo

A detenção de 49 crianças brasileiras em abrigos nos EUA, separadas de seus pais, será tema prioritário no encontro entre o vice-presidente americano, Mike Pence, e o presidente Michel Temer, que ocorrerá terça-feira (26) em Brasília.

O governo brasileiro espera que a questão esteja resolvida até lá, mas acha improvável. Segundo a Folha apurou, Temer deve manifestar profunda preocupação e pressionar pela rápida liberação das crianças, cujos pais foram mandados para prisões federais após tentarem entrar com as famílias ilegalmente no país.

"Recebemos com alívio a decisão do governo Trump de reverter a política de separar famílias, mas isso não basta, precisamos ver quanto tempo vai levar para essas crianças reencontrarem seus pais", diz o embaixador do Brasil em Washington, Sergio Amaral.

Em abril, o governo Trump implementou sua política de tolerância zero para imigração ilegal e passou a processar criminalmente estrangeiros detidos ao entrarem sem documentos, enviando-os a presídios federais. Os menores estão em abrigos, sem os pais.

Em nota, o Itamaraty classificou a política de cruel.

Apesar da pauta delicada, o governo brasileiro afirma que a conversa será produtiva, sobretudo porque Pence e Temer têm "química" —um interesse comum por responsabilidade fiscal e personalidades mais compatíveis do que a do brasileiro, circunspecto, com o efusivo Donald Trump.

Segundo relatos, Pence se interessou pelo corte de gastos implementado pelo governo brasileiro e abordou o tema em telefonema a Temer. Quando era governador de Indiana, Pence fez do corte de gastos sua principal bandeira.

Já o governo americano deve abordar a crise na Venezuela e o êxodo de venezuelanos. Washington calcula que cerca de 1 milhão de venezuelanos deverão deixar seu país em 2018 —de 2015 a 2018, 1,5 milhão saiu, segundo a ONU.

A possibilidade de acirramento das tensões na fronteira da Colômbia, que recebe a imensa maioria dos refugiados, e o consequente aumento do fluxo venezuelano para o Brasil preocupam os EUA.

Os americanos devem voltar a pedir que o governo brasileiro eleve a pressão sobre o regime de Nicolás Maduro, talvez com sanções à cúpula.

Mas o Brasil deve reafirmar a oposição a sanções unilaterais e lembrar que exerce pressão com a suspensão do país do Mercosul, o cancelamento de créditos, a condenação das eleições e as gestões na Organização dos Estados Americanos, mas que precisa manter o canal de interlocução dados os interesses no país vizinho.

Pence se reúne terça no Planalto com Temer e os ministros Aloysio Nunes (Relações Exteriores), Eliseu Padilha (Casa Civil) e Sergio Etchegoyen (Segurança Institucional). No mesmo dia, almoça no Itamaraty e, na quarta (27), vai a Manaus, onde visita um abrigo para venezuelanos.

O governo brasileiro quer abrir um canal de comunicação de alto nível com o governo Trump. Desde a posse do republicano, em janeiro de 2017, o Brasil foi preterido nas visitas do presidente e seu primeiro escalão à região, e o Planalto se ressente.

O governo brasileiro também tratará na reunião da negociação do acordo de salvaguardas tecnológicas com os EUA, exigência dos americanos para alugar a base de lançamento de foguetes em Alcântara (MA), negócio cuja receita anual pode chegar a US$ 1,5 bilhão (R$5,8 bilhões).

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