Descrição de chapéu Espanha

Novo premiê espanhol, Sánchez deve 'mimar' independentistas

Socialista que assumiu neste sábado precisa do apoio de partidos catalães e bascos

Diogo Bercito
Madri

Líderes separatistas catalães celebraram na sexta-feira (1°) a deposição do ex-premiê espanhol, o conservador Mariano Rajoy, com quem vinham antagonizando desde a posse dele, em 2011.

O novo premiê espanhol, Pedro Sánchez, durante cerimônia de juramento ao rei Felipe 6º
O novo premiê espanhol, Pedro Sánchez, durante cerimônia de juramento ao rei Felipe 6º - Emilio Naranjo/AFP

Mas, para além da vingança depois de Rajoy ter dissolvido a administração da Catalunha no ano passado, os movimentos independentistas têm mais a comemorar: o socialista Pedro Sánchez, novo premiê espanhol, provavelmente lhes fará bastantes concessões.

“O cenário é muito favorável aos independentistas”, diz à Folha Pablo Simón, analista do centro de estudos espanhol Politikon. “A Catalunha é uma das questões em aberto com que Sánchez terá de lidar, e não vai demorar para que ele esboce gestos positivos nesse sentido.”

Não se trata exatamente de boa vontade. Sánchez governará sem margem de manobra, enfrentando uma oposição robusta.

Seu PSOE (Partido Socialista Operário Espanhol) detém apenas 84 assentos entre os 350 do Congresso. O PP (Partido Popular) de Rajoy, que passa à oposição, controla 134. Sánchez dependerá, portanto, do endosso das diminutas siglas nacionalistas, incluindo as catalãs.

A própria chegada do socialista ao poder ilustra essa necessidade de apoio: a moção de censura apresentada por ele só foi aprovada porque teve o voto favorável da Esquerda Republicana e do PDeCAT (Partido Democrata Europeu Catalão), ambos separatistas.

Simón espera, por exemplo, que o chefe de governo nomeie ministros catalães para seu gabinete.

A gestão de Sánchez também deve recorrer menos ao Tribunal Constitucional para impedir a atividade legislativa catalã —a interferência do governo central nas leis regionais, diversas delas anuladas, foi um dos catalisadores do atual movimento separatista.

Se o governo socialista durar, sobrevivendo às exigências da oposição para que convoque novas eleições o mais rápido possível, pode ainda dar algum fôlego à reforma constitucional, agradando os setores secessionistas, inclusive os do País Basco, região no norte da Espanha.

O desafio separatista catalão não foi inaugurado durante a gestão de Rajoy, mas passou naquele período de reivindicação marginal a ameaça ao tecido social do país.

Rajoy se tornou o símbolo da crise porque, mesmo quando ainda chefiava a oposição, antes de 2011, defendia medidas entendidas em Barcelona —a capital catalã— como desfavoráveis a suas aspirações independentistas.

Um dos episódios mais dramáticos dos atritos entre governo central e catalães ocorreu em 2010, quando o Partido Popular de Rajoy entrou com uma ação no Tribunal Constitucional contra o uso do termo nação no então recém-criado estatuto de autonomia da Catalunha.

A decisão da Justiça espanhola, que anulou 14 artigos do texto catalão, alimentou protestos que cresceram desde então, culminando no plebiscito separatista de 1° de outubro de 2017.

Votaram naquele dia 43% dos catalães, e a separação foi aprovada por 90%.

O governo central não aceitou a declaração unilateral de independência catalã e dissolveu a administração regional, dando início a uma intervenção direta de Madri.

Rajoy também personifica de certo modo, na visão de Barcelona, um aparato estatal repressivo demais.
As autoridades catalãs afirmam que cerca de 900 pessoas foram feridas em outubro passado, quando o governo conservador despachou policiais para evitar a consulta secessionista. A administração espanhola contesta esse número.

Rajoy deixou o cargo após a votação de uma moção de censura que teve como “deixa” a condenação de diversas figuras ligadas a seu governo em um extenso escândalo de corrupção semelhante àquele investigado no Brasil pela Operação Lava Jato.

O sentimento entre independentistas foi sintetizado pelo ex-presidente catalão Carles Puigdemont, acusado pela Espanha de rebelião e atualmente foragido na Alemanha: “Bem feito”, escreveu.

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