ONU diz que governo sírio e rebeldes cometeram crimes de guerra em Ghouta

Relatório aponta infrações dos dois lados durante ofensiva na região entre fevereiro e abril

Genebra e Beirute | Reuters, AFP e Associated Press

Um relatório da ONU divulgado nesta quarta-feira (20) aponta que tanto os grupos rebeldes quanto as forças leais ao ditador Bashar al-Assad cometeram crimes de guerra entre fevereiro e abril durante o conflito na região de Ghouta Oriental, na Síria

Segundo o documento de 23 páginas, as tropas do governo cometeram ainda crimes contra a humanidade durante o cerco ao local, então um enclave rebelde próximo a capital, Damasco. Os militares sírios são acusados de bombardear o local e de deliberadamente fazer 265 mil pessoas que moravam na região passar fome.  

Conquistada em 2013 pelos rebeldes, Ghouta foi alvo de um bloqueio do governo por cinco anos, que dificultou a chegada de alimentos no local e que a ONU classificou como "o cerco mais longo da história moderna".

Uma ofensiva das forças leais a Assad que começou em fevereiro permitiu ao ditador retomar o controle do local em abril. 

 

Foi exatamente esse período que uma comissão da ONU, liderada pelo brasileiro Paulo Pinheiro, analisou para fazer o relatório, a pedido do Conselho de Direitos Humanos da entidade. As conclusões são baseadas em 140 entrevistas, fotografias, vídeos, imagens de satélites e registros médicos.

De acordo com o relatório, entre fevereiro e abril de 2018 os militares sírios usaram táticas "em grande parte ilegais por natureza, visando punir os habitantes Ghouta Oriental e obrigar a população coletivamente a se render ou morrer de fome".

"Através dos bombardeios sistemáticos e generalizados de áreas habitadas e da contínua negação de alimentos e medicamentos a civis sitiados durante o período em análise, as forças pró-governo perpetraram o crime contra a humanidade de atos desumanos que causam sofrimento mental e físico grave", disse o relatório.

Forças aéreas sírias e russas —Moscou é aliada de Damasco— realizaram ainda ataques aéreos ​​em áreas residenciais, onde as famílias se aglomeravam em terrenos superlotados, sem banheiros, segundo a ONU.  

Os bombardeios atingiram inclusive hospitais, disse o relatório. "Este padrão de ataque sugere fortemente que as forças pró-governo tiveram como alvo sistematicamente as instalações médicas, cometendo repetidamente os crimes de guerra de atacar locais protegidos intencionalmente e de atacar o pessoal médico".

Apesar das críticas ao governo sírio, o relatório afirma que os rebeldes que controlavam a área também cometeram crimes ao bombardearem Damasco em resposta aos ataques que sofreram. "

"Mesmo que as forças do governo tenham atacado e submetido a população de Ghouta Oriental à fome, não há justificativa para o bombardeio indiscriminado de áreas habitadas por civis em Damasco", disse Hanny Megally, um dos membros da comissão que fez o relatório, em comunicado.

O documento afirma que os ataques das tropas sírias foram "regularmente enfrentados com atos brutais de represália", e que o uso foguetes improvisados ​​pelos rebeldes contra Damasco visava "espalhar o terror" na capital. 

A comissão apontou ainda que encontrou indícios de que o gás cloro teria sido usado ao menos quatro vezes na região, mas que são necessárias mais investigações para determinar os responsáveis. 

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