Descrição de chapéu Espanha

Rajoy é destituído do cargo de primeiro-ministro na Espanha

Após escândalo de corrupção, votação parlamentar tira conservador do poder

O novo premiê espanhol, Pedro Sánchez (esq), cumprimenta o premiê destituído Mariano Rajoy no Parlamento em Madri - Pierre-Philippe Marcou/Reuters
Diogo Bercito
Madri

 O governo espanhol foi destituído por votação parlamentar nesta sexta-feira (1°) devido a um vultoso escândalo de corrupção semelhante àquele investigado no Brasil pela Operação Lava Jato.

Deputados aprovaram pela maioria absoluta de 180 votos, em uma Câmara de 350 cadeiras, a moção de censura contra o premiê Mariano Rajoy, do conservador PP (Partido Popular). Diversas figuras de sua sigla, incluindo o ex-tesoureiro, estavam ligadas a um esquema de venda de contratos públicos.

A moção fora apresentada na véspera pelo líder opositor ​Pedro Sánchez, do PSOE (Partido Socialista Operário Espanhol), que passa a ser o premiê em exercício até a sua confirmação pelo rei Felipe prevista para o sábado (2). É o sétimo governante desde a redemocratização do país nos anos 1970.

Votaram pela remoção de Rajoy, além do PSOE, o esquerdista Podemos, os catalães da Esquerda Republicana e o Partido Nacionalista Basco, entre outras pequenas formações. A favor do ex-premiê, votaram a sua própria sigla e o aliado Cidadãos, de centro-direita.

Foi a primeira moção de censura com êxito na história moderna espanhola. Na sequência, Sánchez discursou: “A democracia na Espanha abre uma nova página. Uma etapa para recuperar a dignidade das instituições”.

O governo de Rajoy, inaugurado em 2011, foi o responsável pelas controversas medidas de austeridade implementadas em meio à crise financeira global de 2008.

Durante sua gestão, o país superou o dilúvio e passou a liderar o crescimento do bloco europeu --apesar de ainda ter um desemprego de 35% entre a população com menos 25 anos.

"Foi uma honra ser premiê e deixar uma Espanha melhor do que aquela que encontrei", Rajoy escreveu em uma rede social antes mesmo da votação da moção.

Também nos sete anos de seu mando a Espanha enfrentou o maior desafio político desde a redemocratização, com as reivindicações separatistas da Catalunha, uma região com autonomia parcial.

Ao deixar o palácio de Moncloa, Rajoy levará consigo a fama de ter sido incapaz de resolver essa questão.

Não por acaso os votos decisivos, somados aos do PSOE e aos do esquerdista Podemos, vieram dos pequenos partidos nacionalistas catalães e bascos, que enxergaram ali uma oportunidade de puni-lo.

“Bem feito”, escreveu o ex-presidente catalão Carles Puigdemont, acusado por Madri de rebelião e foragido na Alemanha.

“Os que até há algumas horas ainda eram os senhores do Estado agora terão de prestar contas.”

A intervenção direta do governo central espanhol na Catalunha, aprovada por Rajoy, deve ser encerrada no sábado (2). Era um prazo já previsto, sem influência do fim do mandato.

Mas Rajoy sai principalmente com a imagem negativa de ter liderado um governo soterrado por acusações de corrupção.

A moção de censura foi apresentada pela oposição depois que, na semana anterior, a Justiça tivesse condenado 29 pessoas à prisão —incluindo seu ex-tesoureiro, Luis Bárcenas, acusado de cobrar comissões em contratos públicos.

As penas na Operação Gurtel, ligada diretamente ao PP, somam 351 anos. Para o tribunal, o partido se beneficiou de um esquema de venda de concessões —algo que a sigla e o ex-premiê Rajoy negam.
 
O inesperado governo do socialista Sánchez, derrotado nas urnas quando concorreu ao posto, deve ser turbulento e breve. O partido só conta com 84 cadeiras no Congresso, entre 350, enquanto o PP —agora a principal oposição— tem 134.

Mal inaugurada, essa gestão do PSOE já é descrita como um “Frankenstein” pelos seus detratores, pelo retalho de partidos díspares que apoiaram a moção.

É bastante provável que a Espanha volte às urnas nos próximos meses, somando mais uma crise política a uma Europa já preocupada com o governo populista prestes a comandar a Itália.

Ao contrário da Itália, no entanto, a Espanha não enfrenta por ora movimentos populistas de direita ou contrários à União Europeia, uma razão pela qual preocupa bastante menos o restante do continente.

Mas quando por fim vierem as eleições, os tradicionais PP e PSOE devem ser punidos pelos eleitores, insatisfeitos com a velha política.

A julgar pelas pesquisas recentes, o governo deve ser entregue à novata sigla de centro-direita Cidadãos, em um movimento semelhante ao que elegeu o presidente francês, Emmanuel Macron.

Após a queda de Rajoy, aliados europeus demonstraram apoio ao governo socialista. Foi o caso da chanceler alemã, Angela Merkel, que disse esperar uma parceria “estreita” entre ambos os países.

Já o presidente da Comissão Europeia, Jean-Claude Juncker, afirmou ter “total confiança” na Espanha  —mensagem oposta à reserva com que os sócios europeus receberam a formação de um governo populista na Itália, também nesta semana.

Erramos: o texto foi alterado

O partido catalão que votou pela remoção do ex-premiê espanhol Mariano Rajoy se chama Esquerda Republicana, e não Esquerda Unida. O texto foi corrigido.

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