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Sem a guerra, o desafio para o novo presidente colombiano é a corrupção

Consulta popular sobre medidas contra prática ocorrerá 19 dias depois de posse

Iván Duque, presidente eleito da Colômbia, faz discurso da vitória em Bogotá, no domingo (17)
Iván Duque, presidente eleito da Colômbia, faz discurso da vitória em Bogotá, no domingo (17) - Fernando Vergara/Associated Press
Clóvis Rossi

Na primeira eleição sem a guerra com as Farc (Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia), o país caiu na escolha usual em um mundo normal, entre esquerda e direita, entre mais e menos Estado.

Ganhou a direita, com seu candidato Iván Duque, o que era o mais lógico, em se considerando o conservadorismo histórico do eleitorado colombiano.

Reforça esse ar de razoável normalidade no pleito deste domingo (17) o fato de que a guerra foi tema bastante secundário na campanha.

Nos pleitos dos últimos muitos anos, a violência era a maior inquietação dos colombianos, como mostravam as pesquisas.

Desta vez, a grande preocupação é a corrupção, sempre segundo as pesquisas.

Esse dado ajuda em parte a entender o resultado: como é óbvio, a corrupção afeta acima de tudo a imagem de quem está no poder, no caso o presidente Juan Manuel Santos e seu governo.

É verdade que as acusações salpicaram também o ex-presidente Álvaro Uribe, padrinho do ganhador Iván Duque. Acontece que Duque é jovem (41 anos), opositor de Santos e com curta estrada na política, o que lhe permitiu ao menos tentar distanciar-se dos escândalos durante a campanha.

Some-se a esse esforço o conservadorismo do colombiano médio —e tem-se uma boa explicação para a sua vitória.

O problema para ele, uma vez eleito, é que o incômodo com a corrupção põe no horizonte o seu primeiro desafio: como lidar com a consulta popular convocada para 26 de agosto pelo presidente Santos.
Ela se destina a perguntar aos eleitores sobre a implementação de sete “medidas efetivas” contra a corrupção, incluindo endurecimento das penas por esse tipo de delito e maior transparência. 

A consulta se dará 19 dias depois da posse. Logo, a atenção do público estará posta no comportamento que o novo presidente adotará em relação ao pacote anticorrupção. Significa que pode ser obrigado a adequar a agenda que vendeu na campanha. O liberalismo econômico e modificações no acordo de paz com as Farc não poderão ser as únicas prioridades.

O novo presidente tem uma vantagem: pode navegar entre sua ideia de Estado mínimo, sempre de agrado do empresariado, e o endurecimento contra a corrupção, que sempre incomoda os homens de negócio que gostam de fazer acordos nem sempre lícitos com agentes do Estado.

Mas tem um desafio: seu padrinho Uribe enfrenta cerca de 200 acusações, parte delas por suspeitas de corrupção. Permitir que avance o enfrentamento do tema corrupção lhe servirá para tentar se livrar do rótulo de marionete de Uribe, que parte da mídia internacional carimbou em Duque. É essencial para vestir de fato a faixa presidencial.

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