Descrição de chapéu The Washington Post

Todos os policiais de cidade no México são detidos após morte de candidato

Caso aconteceu em Ocampo; suspeita é que agentes tenham sido cúmplices no assassinato

Samantha Schmidt
Washington Post

Dias depois do assassinato de um candidato à prefeitura, as autoridades estaduais de Michoacán, México, ordenaram a detenção de todos os policiais de uma cidade para interrogatório.

Um comboio com mais de 80 viaturas policiais invadiu a cidade de Ocampo, cerca de 160 quilômetros a oeste da Cidade do México, em uma operação de surpresa para as detenções, de acordo com a imprensa locais.

Fotos mostram toda a força policial de Ocampo —cerca de 30 pessoas— alinhada diante de um muro, com as mãos por trás das costas.

Soldados mexicanos fazem a segurança durante o funeral de Fernando Ángeles Juárez, candidato a prefeito da cidade de Ocampo que foi assassinado
Soldados mexicanos fazem a segurança durante o funeral de Fernando Ángeles Juárez, candidato a prefeito da cidade de Ocampo que foi assassinado - Raúl Tinoco - 21.jun.2018/AFP

​Os policiais, e seu chefe, foram detidos como parte de uma "investigação interna" sobre possíveis violações das normas de conduta, afirmou a polícia estadual de Michoacán em comunicado. A imprensa mexicana disse que os policiais foram detidos por suspeita de possível envolvimento ou "cumplicidade" no assassinato de um candidato à prefeitura local, na semana passada.

Os policiais foram todos desarmados e transferidos à unidade de investigações internas, informou a polícia estadual.

No dia anterior, as autoridades haviam tentado sem sucesso deter o chefe da polícia de Ocampo, Óscar González García, confiscando sua arma e celular, de acordo com o jornal Milenio. Mas os policiais locais interferiram, com a ajuda de civis, para protestar contra a detenção.

Isso causou uma briga na praça central da cidade. Vídeos mostram policiais gritando e trocando socos, disparando granadas de gás lacrimogêneo e trocando tiros. "Por que ele está sendo preso?", se ouve um homem gritar por sobre o ruído dos tiros.

As autoridades estaduais recuaram, dada a situação "tensa", com o objetivo de evitar conflitos piores, de acordo com o jornal La Voz de Michoacán. Mas retornaram ao raiar do sol, no domingo (24), e detiveram todos os policiais de Ocampo.

Embora a polícia estadual de Michoacán não tenha oferecido informações sobre o crime específico que teria motivado as detenções, os jornais mexicanos informaram que os policiais foram detidos por conta do assassinato de Fernando Ángeles Juárez, do Partido da Revolução Democrática, de esquerda, que era candidato a prefeito na eleição de 1° de julho.

Na quinta-feira (21), Ángeles Juárez foi encontrado morto dentro do hotel de que era proprietário em Ocampo, de acordo com a procuradoria geral do estado. Na segunda-feira (25), a procuradora anunciou ter detido três homens ligados ao crime . O partido de Ángeles Juárez divulgou um comunicado no qual condena o homicídio e apela ao governo que proteja os candidatos que disputarão a eleição.

Ángeles Juárez é um entre as dezenas de candidatos políticos assassinados, em uma onda de homicídios que varreu o México. Desde que o processo eleitoral foi iniciado, em setembro do ano passado, cerca de 130 políticos foram mortos, de acordo com estimativas da consultoria de análise de risco Etellekt.

No mesmo estado de Michoacán, dois outros candidatos a prefeito foram encontrados mortos, ao longo da semana. Em 14 de junho, um candidato a prefeito em Taretan foi encontrado morto, a tiros. E na cidade rural de Aguililla, Omar Gomez Lucatero, candidato independente à prefeitura, foi morto a tiros, de acordo com o jornal El País.

Há mais de 15 mil candidatos em campanha para a eleição de 1° de julho, em disputa por 3,4 mil postos em governos locais, estaduais e federais, de acordo com a agência de notícias Associated Press.

Quando a polícia estadual chegou a Ocampo no domingo para deter os policiais locais, um jornalista se queixou de ter sido detido enquanto cobria os acontecimentos ao vivo. Ricardo Rangel, repórter do jornal Quadratín, disse que as autoridades confiscaram sua câmera e o forçaram a destravar seu celular. Em seguida, apagaram diversas fotografias e outras informações contidas no aparelho, entre as quais dados de cartão de crédito, disse Rangel ao seu jornal.

A investigação interna sobre a polícia de Ocampo continua, e o policiamento do município está sob o controle da polícia estadual.

Os moradores de Ocampo disseram a jornalistas que as detenções haviam destruído sua confiança nas autoridades locais.

"Não confiamos mais na polícia", disse uma mulher à rede de TV Telemundo. "Não sabemos a quem eles servem. Sentimo-nos inseguros".

Tradução de Paulo Migliacci 

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