Descrição de chapéu Coreia do Norte

Trump surpreende Seul ao anunciar fim de exercícios militares na Coreia

Treinamentos anuais e tropas dos EUA são bastião da defesa do Sul contra o Norte

São Paulo e Seul | Reuters

Considerado o resultado mais próximo de concreto da reunião entre Donald Trump e Kim Jong-un, o anúncio do fim dos exercícios militares americanos na península Coreana pegou de surpresa os aliados dos EUA em Seul.

"Eu fiquei chocado quando ele [Trump] chamou os exercícios de 'provocadores', uma palavra muito incomum para ser usada por um presidente dos EUA", afirmou à Reuters um diplomata sul-coreano sob condição de anonimato.

O porta-voz da Presidência da Coreia do Sul disse que "neste momento, precisamos descobrir o significado preciso ou as intenções dos comentários do presidente Trump".

Os exercícios são realizados pelos soldados americanos estacionados na Coreia do Sul em conjunto com militares sul-coreanos.

As Forças Armadas dos EUA na Coreia (USFK, na sigla em inglês) estão na península desde 1957, quatro anos após o fim da Guerra da Coreia (1950-53). Atualmente, eles são 28.500 militares.

Washington tem ainda mais de 300 tanques blindados na Coreia, duas bases aéreas e uma naval. A presença americana, somada aos exercícios militares anuais, representam há décadas o bastião da estratégia de defesa de Seul contra Pyongyang.

Em sua declaração à imprensa após o encontro com Kim, Trump afirmou querer "trazer nossos soldados de volta para casa", mas que isso não está sendo discutido neste momento, além de chamar os exercícios militares de "provocadores" e algo "tremendamente caro".

Nos últimos anos, americanos e sul-coreanos realizaram ao menos três tipos de exercícios.

O Foal Eagle e o Key Resolve costumam acontecer entre março e abril, mas neste ano foram postergados para não coincidir com os Jogos Paraolímpicos de Inverno em PyeongChang, no Sul, que promoveram o início da reaproximação entre as Coreias.

Nem o diálogo já em marcha entre Seul, Pyongyang e Washington impediu, porém, a realização desses dois exercícios, vistos novamente como provocação pelo regime norte-coreano, que subiu o tom em declarações e levou Trump a cancelar o encontro em Singapura.

O Key Resolve é uma simulação de guerra por computador, enquanto o Foal Eagle envolve operações de larga escala em terra, mar e ar. Em abril, participaram 23.700 soldados dos EUA e 300 mil militares sul-coreanos.

O Ulchi Freedom Guardian (guardião da liberdade Ulchi, em referência a um general coreano do século 7) costuma acontecer entre agosto e setembro.

Em 2017, foram mobilizados 17.500 militares americanos e 50 mil sul-coreanos. Entre as ações estão simulações de computador de uma guerra com a Coreia do Norte, conduzidas em um bunker ao sul de Seul, para checar a prontidão de resposta dos aliados de EUA e Coreia do Sul.

Apesar do anúncio de Trump, a porta-voz das forças americanas na Coreia do Sul disse nesta terça-feira que nenhuma nova orientação foi recebida de Washington até o momento, e o Ulchi Freedom Guardian deste ano segue no cronograma.

"A Coreia do Sul terá sentimentos ambivalentes em relação aos comentários de Trump", afirmou o analista Lee Il-woo, diretor do centro de estudos Korea Defense Network.

"O país vai aceitar a redução de exercícios militares, já que pode amenizar uma tensão de décadas na península Coreana. Mas, ao mesmo tempo, vai se preocupar com possíveis consequências negativas, já que isso pode apavorar os sul-coreanos."

Os EUA já haviam rejeitado no passado a hipótese de suspender os exercícios militares com os sul-coreanos, mas o anúncio feito por Kim da destruição de locais de testes nucleares na Coreia do Norte parece ter motivado Trump a abandonar os treinamentos.​

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