Um dia após eleição na Colômbia, Bogotá troca política por Copa

Capital se prepara para a estreia da seleção nesta terça (19) e deixa de lado vitória de Duque

Sylvia Colombo
Bogotá

​A capital colombiana amanheceu nesta segunda-feira (18) sem grandes pistas de que o país escolhera, no dia anterior, um novo presidente, o direitista Iván Duque, 41, que derrotou por 53,98% a 41,81% o esquerdista Gustavo Petro.

Ao menos três razões ajudam a entender a falta de destaque que a votação recebeu na cidade.

Primeiro, a vitória de Duque já parecia mais do que previsível. Em segundo lugar, Bogotá votou por Petro, seu ex-prefeito, portanto não havia muito motivo para festejos. E, em terceiro, não menos importante, é que nesta terça (19) a seleção colombiana estreia na Copa do Mundo.

Moradores de Bogotá andam pela cidade neste segunda (18), um dia após a vitória de Iván Duque na eleição presidencial
Moradores de Bogotá andam pela cidade neste segunda (18), um dia após a vitória de Iván Duque na eleição presidencial - Luisa Gonzalez/Reuters

Para os moradores locais, o horário será inglório, às 7h (9h em Brasília), mas durante um passeio pelas principais avenidas já era possível ver a retirada de alguns cartazes de campanha, enquanto em muitos restaurantes e cafés se anunciavam promoções especiais de “café da manhã com telão”. O primeiro adversário será o Japão.

“Minha principal dúvida é se Duque vai se deixar ser uma marionete nas mãos do Uribe, se for assim, seria terrível, teríamos policiamento ostensivo na cidade, mais violência, mais corrupção”, diz a arquiteta Stefanía Rosa, 44, que votou pelo centro-esquerdista Sergio Fajardo no primeiro turno e em branco no segundo.

Uribe, no caso, é o ex-presidente Álvaro Uribe (2002-2010), principal aliado de Duque.

“Eu só estou chateado que não ganhamos logo no primeiro turno, não teríamos perdido esse tempo todo. Votei em Duque nos dois turnos. Com Uribe, eu estive no Exército, e lá tínhamos tudo, equipamento de ponta, bom clima para trabalhar. Santos destruiu tudo, por isso agora estou fazendo isso”, disse, com ar decepcionado, o taxista Martín Robledo, 39.

“Não temo pelo acordo de paz, porque ele depende mais dos cidadãos do que do presidente. Aí, sim, sou crítico dos colombianos que querem vingança. Eu empreguei seis ex-combatentes, jovens, das Farc (Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia), na minha plantação de café, são ótimas pessoas e eu não pergunto o passado deles. Não me interessa o que fizeram quando estavam na guerrilha, a Colômbia tem de virar essa página. E é um movimento da sociedade, senão a guerra pode voltar, do dia para a noite”, disse o empresário rural Cristian Arboledo, 58, de Manizales, que veio a Bogotá para votar.

Nos bastidores da política, aguardava-se que Duque anunciasse os nomes do novo gabinete, mas a previsão é que isso ocorra apenas a partir dos próximos dias. O presidente Juan Manuel Santos afirmou que falou por telefone com Duque, desejou-lhe boa sorte, e disse estar a disposição para que a transição seja feita de modo organizado.

A posse de Iván Duque será dia 7 de agosto. A ironia é que, possivelmente, quem passe a faixa presidencial para ele seja o próprio Álvaro Uribe, uma vez que o Senado está por escolher seu líder e ele tem grandes chances, por ter sido o mais votado. O perdedor do segundo turno, Gustavo Petro, também estará no Senado, e promete armar um bloco opositor “forte e construtivo”, segundo afirmou depois de seu discurso de aceitação da derrota, na noite de domingo (18).

Vários países latino-americanos se comunicaram para saudar o novo presidente colombiano, entre eles o chileno Sebastián Piñera, o mexicano Enrique Peña Nieto e o panamenho Juan Carlos Varela.

Os EUA se comunicaram por meio do senador republicano Marco Rubio que, segundo a assessoria de Duque, declarou a vitória deste como “histórica” e elogiou o fato de uma mulher ser eleita vice-presidente.

Rubio afirmou que os EUA “seguem confiantes na implementação do acordo de paz”, porém, voltou a manifestar preocupação pelo aumento do território dedicado à produção de coca para fabricação de cocaína.

Petro declarou não se sentir um perdedor, “tivemos 8 milhões de votos num país em que a esquerda antigamente apenas assistia às eleições”, disse. E reafirmou que a partir desta segunda-feira já estaria trabalhando para que seus eleitores fossem a base de uma proposta política para o próximo pleito.

Os Departamentos em que Petro ganhou têm grande população afro-colombiana e indígena. “Vozes que até aqui estavam caladas”, acrescentou em seu discurso.

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