Adolescente apátrida foi tradutor dos meninos na caverna da Tailândia

Nascido em Mianmar, Adul Samon, 14, virou símbolo do grupo por ser o que melhor fala inglês

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Thanaporn Promyayai
Mae Sai (Tailândia) | AFP

Nascido em Mianmar e educado por professores cristãos na Tailândia, Adul Sam-on é uma das 12 crianças que ficaram presas em uma caverna inundada no interior do país, que foram resgatadas nesta terça-feira (10). 

Como dezenas de milhares de crianças no reino, ele é apátrida, mas, por falar inglês, tornou-se o porta-voz improvisado do grupo.

As imagens do adolescente de olhos grandes, iluminado pelas lanternas dos mergulhadores que o encontraram com os outros 11 colegas no fundo da caverna de Tham Luang, rodaram o mundo.

Adul Sam-on (dir.), foi o primeiro dos meninos a se comunicar com os mergulhadores
Adul Sam-on (dir.), foi o primeiro dos meninos a se comunicar com os mergulhadores - Royal Thai Navy - 3.jul.2018/AFP

"Meu nome é Adul, estou bem de saúde", afirma em tailandês no vídeo o menino magro, fazendo em seguida o gesto do "wai", uma saudação tradicional na Tailândia.

Os professores da escola Ban Pa Moea, onde ele estuda, elogiam seus talentos linguísticos, especialmente em inglês, em um país onde apenas um terço dos habitantes fala o idioma .

Ele foi o único capaz de se comunicar com os mergulhadores britânicos, que foram os primeiros a encontrar os desaparecidos no dia 2. "Que dia é hoje?", pergunta Adul em inglês, explicando aos socorristas que o grupo estava com fome.

Nascido no estado de Wa, região do leste de Mianmar marcado por um conflito étnico, Adul fala, além do tailandês e do inglês, birmanês e chinês, e frequenta a escola desde os sete anos.

Ele deixou sua família para receber uma educação melhor no norte da Tailândia. Seus pais ficaram em Mianmar, mas o visitam com frequência na igreja cristã que o acolheu.

Futebol, piano e guitarra

Os combates entre o grupo étnico rebelde do Exército Unido do Estado de Wa (UWSA) e o Exército birmanês forçaram milhares de pessoas ao exílio em busca de proteção e segurança, especialmente na Tailândia.

Adul é uma das mais de 400 mil pessoas identificadas como apátridas na Tailândia, de acordo com o Acnur (Alto Comissariado das Nações Unidas para Refugiados). Algumas fontes estimam, no entanto, que este número alcance 3,5 milhões.

"Progressos foram feitos, mas alguns apátridas na Tailândia continuam a enfrentar desafios para ter acesso a seus direitos básicos", disse à AFP a porta-voz da ONU Hannah Macdonald.

Sem uma certidão de nascimento, identidade ou passaporte, Adul e outros apátridas na Tailândia não podem se casar legalmente, conseguir um emprego ou abrir uma conta bancária, possuir bens ou votar.

A Tailândia se comprometeu a registrar todos os apátridas até 2024, mas, até lá, o vácuo legal permanece.

Adul se recusa a desanimar, afirmam pessoas próximas. Esse entusiasta do futebol também gosta de tocar piano e guitarra. "É uma maravilha", disse à AFP o diretor da escola Phunawhit Thepsurin. "Ele é bom tanto nos estudos quanto no esporte. Ele trouxe para a escola várias medalhas e certificados graças a suas proezas."

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