Atentados contra comícios políticos matam mais de 130 no Paquistão

Ataques coincidem com retorno do ex-premiê Nawaz Sharif, condenado por corrupção

Simpatizantes do ex-premiê paquistanês Nawaz Sharif marcham em direção ao aeroporto de Lahore, no Paquistão - Aamir Qureshi/AFP
Quetta e Lahore | Reuters e AFP

Dois atentados terroristas em comícios eleitorais no Paquistão deixaram um saldo de mais de 130 mortos e mais de 150 feridos nesta sexta-feira (13), afirmaram autoridades regionais. As eleições legislativas serão realizadas em 25 de julho em um clima cada vez mais tenso, diante do retorno do ex-premiê Nawaz Sharif ao país.

Os ataques ocorrem no momento em que o governo interino do Paquistão reprimiu aglomerações políticas com Sharif, que foi derrubado do poder pela Suprema Corte no ano passado e condenado por corrupção, à revelia, na semana passada. 

Um dos ataques ocorreu em um complexo onde acontecia um comício político em Mastung, a 40 km de Quetta, capital da província do Baluquistão, no sudoeste do país, matando 128 pessoas. Trata-se do ataque mais letal no país em mais de um ano e o terceiro incidente relacionado às eleições nesta semana. 

O Estado Islâmico assumiu a responsabilidade pelo ataque, segundo a agência de notícias do grupo, Amaq.

De acordo com Aslam Tareen, chefe da Defesa Civil da província do Baluquistão, um terrorista suicida carregava de 8 kg a 10 kg de explosivos e bolas de metal.

De acordo com o ministro do Interior do Baluquistão, Agha Umar Bungalzai, o ataque visou uma reunião organizada pelo candidato à assembleia provincial Mir Siraj Raisani, que morreu. 

"Ele sucumbiu aos ferimentos quando era transferido para um hospital em Quetta", indicou. Ele era candidato ao cargo de deputado pelo partido Partido Awami Baluquistão (BAP).

"Meu irmão Siraj Raisani foi martirizado", afirmou Raji Lashkari Raisani, que também é candidato à assembleia provincial. 

​Militantes islâmicos ligados ao Taleban, à Al Qaeda e ao Estado Islâmico operam na província, que faz fronteira com o Irã e o Afeganistão. Também há uma insurgência étnica que luta contra o governo central.

 PRISÃO

Sharif e sua filha Maryam foram presos nesta sexta ao retornaram de Londres para enfrentar longas sentenças de prisão, em uma jogada arriscada para aumentar as chances de seu partido antes das eleições de 25 de julho. 

Sharif foi sentenciado a 10 anos de prisão e sua filha, a sete, por não terem provado que o dinheiro usado para comprar apartamentos de luxo em Londres nos anos 1990 não era fruto de corrupção. 

Homens uniformizados escoltaram os Sharifs ao chegarem ao aeroporto de Lahore. Eles foram transferidos para a capital, Islamabad.

O retorno deles pode balançar as eleições, marcadas por acusações de que o poderoso Exército paquistanês está trabalhando por trás das cenas para influenciar o pleito em favor do ex-jogador de críquete Imran Khan, que descreve Sharif como um "criminoso". 

Uma marcha reuniu cerca de 40 mil pessoas, liderada pelo irmão de Sharif, Shehbaz, pela cidade de Lahore, desafiando a proibição local de aglomerações públicas. 

"Que credibilidade essas eleições podem ter quando o governo está tomando ações tão drásticas contra o nosso povo e essa repressão está acontecendo em todo país?", afirmou Sharif no aeroporto de Abu Dhabi, antes de embarcar para o Paquistão.

O terceiro maior movimento político do país, o Partido do Povo do Paquistão, também se somou às críticas, com seu candidato a premiê, Bilawal Bhutto Zardari questionando por que os apoiadores de Sharif não podiam se reunir. 

"Por que Lahore está sob sítio? O direito a protestos pacíficos é fundamental em uma democracia", afirmou Bhutto  Zardari, filho da primeira-ministra Benazir  Bhutto, que foi assassinada em um comício em 2007.

Tópicos relacionados

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.