Crescimento populacional fará mundo mudar de cara até 2100

Fertilidade alta levará África, e não Ásia, a concentrar expansão; Brasil terá boom de idosos

Africanos que entraram em Israel ilegalmente em busca de asilo protestam em Tel Aviv em 2014 para ficar no país  
Africanos que entraram em Israel ilegalmente em busca de asilo protestam em Tel Aviv em 2014 para ficar no país   - Jack Guez-5.jan.14/AFP
São Paulo

O Brasil perderá nos próximos anos o posto de quinta nação mais populosa do mundo que tomou da Rússia em 1990. Com 207,7 milhões de habitantes hoje, o país será deixado para trás por Nigéria e Paquistão até 2025.

Após 2060, as populações de Congo, Etiópia, Tanzânia, Uganda, Egito e Níger também deverão superar a brasileira, que, após um pico de 233 milhões por volta de 2050, tende a encolher até o fim deste século  ​para 190,4 milhões e deixar o ranking das dez maiores do mundo.

As estimativas são da ONU e se baseiam nas tendências de taxas de natalidade, mortalidade e migração nas diferentes partes do mundo. 

Toda projeção está sujeita a riscos. Tendências demográficas dependem de mudanças tecnológicas, avanços na medicina, condições políticas e costumes, que podem se alterar de forma imprevisível.

Por isso, a ONU atualiza suas contas a cada dois anos (a vez mais recente, em 2017) e trabalha com três cenários.

O principal faz a projeção conforme o padrão histórico das taxas de fertilidade. Os demais consideram a possibilidade de uma queda mais rápida ou mais lenta do indicador.

Segundo especialistas, no entanto, a probabilidade de que a dança de cadeiras entre os países se desenrole na direção prevista pela ONU é alta.

O ritmo de nascimentos na Índia e na China precisaria mudar bruscamente, por exemplo, para evitar a inversão de posições dos dois países asiáticos, hoje em primeiro e segundo na lista de mais populosos, respectivamente.

Muitos dos movimentos revelados pelas projeções já estão em curso e deverão transformar o mapa mundial conforme a população do planeta avançar dos atuais 7,6 bilhões para 11,2 bilhões em 2100.

O último salto nessa escala, em termos absolutos, ocorreu em intervalo recorde de 51 anos, de 1960 a 2011, quando a Terra passou de 3 bilhões para 7 bilhões de habitantes.

Além de mais lenta, a fase atual terá contornos totalmente diferentes do boom anterior. Antes concentrado na Ásia, o crescimento tem migrado para a África.

O perfil etário da expansão demográfica também tem mudado. O aumento no número de jovens e adultos em idade de trabalhar, entre 15 e 64 anos, representou 70% da expansão demográfica dos anos 60 à década atual. Isso reflete uma queda significativa da mortalidade sobretudo pelo avanço da medicina.

Com taxas de natalidade ainda altas —sobretudo nos anos 60 e 70—, as crianças perfizeram 20% do crescimento populacional, enquanto os idosos, apenas 10%. Essa dinâmica demográfica foi liderada pela Ásia, que abrigou cerca de 6 de cada 10 “novos” habitantes do planeta.

Os pouco mais de 4 bilhões de pessoas que estão sendo adicionados à população global desde 2011, quando foi alcançada a marca dos 7 bilhões, terão características distintas.

As melhores condições de vida se traduzem em maior longevidade. Por isso, os idosos representarão quase metade da expansão demográfica a partir de agora; ou seja, quase 2 bilhões de pessoas. Os outros 50% ainda serão jovens e adultos de 15 a 64 anos.

Já o número de crianças cairá rapidamente na maior parte do mundo e será suficiente apenas para repor as que crescerem, levando à estabilidade da população até 14 anos.

A exceção desse cenário é a África, onde o número de nascimentos por mulher permanece elevado. Não fosse por esse continente, o total de crianças no mundo encolheria até o fim deste século. Isso ajuda a explicar por que a África tomará da Ásia a dianteira da expansão demográfica.

A população africana deverá saltar de 1,3 bilhão, no ano passado, para 4,5 bilhões, em 2100, fazendo com que o continente seja responsável por mais de 80% da expansão demográfica mundial no período. Esse aumento equivaleria a uma migração de todas as pessoas que viviam em 2017 em China, Índia, Estados Unidos e Brasil para a África.

Não é casualidade, portanto, que 7 dos 8 países que se tornarão mais populosos do que o Brasil nas próximas décadas sejam africanos. Enquanto a população brasileira e a de vários países envelhecem e, em meados do século, começarão a encolher, a África vive uma explosão de jovens e adultos em idade de trabalhar.

Como já ocorreu com grandes mudanças populacionais no passado, a transformação atual chega acompanhada de uma longa lista de preocupações associadas à capacidade do mundo de gerar crescimento econômico sustentável para acomodar tanta gente.

Um ponto positivo em relação ao boom das últimas décadas é que a adição de pessoas ao planeta desacelerará.

A humanidade levou cerca de 1.800 anos para atingir seu primeiro bilhão de habitantes.

O intervalo foi caindo, gradualmente, até atingir apenas 12 anos entre o quinto e o sexto bilhão e entre o sexto e o sétimo. A partir de agora, se as projeções centrais da ONU se concretizarem, o tempo para que novos marcos sejam atingidos voltará a aumentar. Teremos mais tempo para nos prepararmos.

Transição demográfica

Segundo especialistas, a dinâmica explosiva das décadas de 60 e 70 se deveu a fatores que dificilmente se repetirão.

Naquele momento, ganhava fôlego na Ásia a chamada transição demográfica. Trata-se de um fenômeno que começa quando termina o período de número elevado tanto de nascimentos quanto de mortes (portanto, crescimento populacional baixo ou nulo).

O gatilho da passagem de uma fase para a outra é o início da queda da mortalidade em um contexto de natalidade ainda elevada. O resultado da nova equação é um forte aumento no número de habitantes, até que a taxa de fertilidade também comece a cair, gerando declínio rumo à estabilidade populacional.

Em meados do século passado, quando já estava em estágio avançado nas regiões mais ricas do mundo, a transição demográfica provocou uma explosão populacional em países menos desenvolvidos, como Índia, China e Brasil.

O boom foi tão marcante que resultou em forte aumento do interesse pela demografia, levando à inauguração de importantes centros de estudos populacionais e suscitando análises pessimistas focadas nos riscos da expansão.

Não era a primeira vez que pesquisadores previam que o crescimento populacional teria consequências drásticas. O representante mais famoso dessa linha foi o economista britânico Thomas Malthus (1766-1834), que, em 1798, publicou seu “Ensaio sobre o Princípio da População”, apostando que a oferta de comida não acompanharia o aumento de habitantes do planeta.

Fora do radar de Malthus, a queda da fertilidade na Europa e a revolução industrial fizeram com que seu prognóstico não se concretizasse.

Mas, conforme a história avança, visões negativas ressurgem. O boom populacional dos anos 60, por exemplo, tornou a época fértil em teses sobre insustentabilidade.

Um dos livros mais famosos do período, “The Population Bomb” (a bomba populacional, 1968, sem edição no Brasil), completou cinco décadas em maio deste ano. Alarmista, a obra do biólogo americano Paul R. Ehrlich previa um cenário de fome em massa até o fim do século passado.

“A batalha para alimentar a humanidade já está perdida, no sentido de não sermos capazes de evitar fome em larga escala”, diz um trecho.

Suas projeções falharam. Embora fome e pobreza estejam longe de extintas, os indicadores que as medem melhoraram nas últimas décadas.

Segundo a FAO (braço da ONU para alimentação e agricultura), a produção de comida por pessoa teve forte aumento de 1961 a 2016.

Até a Índia, alvo de especial preocupação no passado, surpreendeu positivamente. Durante o boom populacional dos anos 60, a oferta de comida por habitante no país chegou a cair. Mas, no balanço das últimas cinco décadas e meia, cresceu 56%.

O economista David Lam, da Universidade de Michigan (EUA), fez um discurso quando presidia a Associação de População Americana (AAP), em 2011, que teve grande repercussão por decretar que o mundo havia sobrevivido “à bomba populacional”.

Nele, ressalta que, apesar dos problemas persistentes, “o fato de o mundo não ter experimentado fome em massa mesmo com a população mundial dobrando em 39 anos [1960-1999] é admirável”.

Segundo Lam, o erro dos pessimistas foi subestimar a capacidade de adaptação da humanidade, que, para ele, foi possível graças a uma combinação de respostas acertadas.

Produtores de comida reagiram à maior demanda por alimentos aumentando a oferta, o que reduziu preços.

Esse movimento foi impulsionado por investimentos em inovação que levaram ao desenvolvimento de tecnologias, incrementando a eficiência da agricultura. A globalização também ajudou ao aproximar mercados de todo o mundo.

Fatores ligados à própria dinâmica demográfica são outra parte da explicação.

No início dos anos 60, a média de filhos por mulher no mundo era cinco. Esse número caiu à metade nos últimos anos e continua encolhendo.

Segundo especialistas, a queda da mortalidade infantil (que reduz a preocupação das famílias em relação à sobrevivência dos filhos) e o surgimento de métodos contraceptivos contribuíram para significativamente.

Esses desdobramentos inspiram confiança na capacidade humana de continuar encontrando respostas para os desafios demográficos futuros. Mas, os próprios otimistas admitem, estão longe de representar uma garantia.

“Como muitas pessoas, estou um pouco nervoso quanta à África”, disse Lam à Folha.

“A pobreza lá caiu, mas não tanto quanto na América Latina e na Ásia, porque, com o forte crescimento populacional, a renda per capita tem aumentado lentamente.”

Lentidão

Parte do problema é que a transição demográfica africana vem surpreendendo especialistas pela lentidão em relação ao resto do mundo.

Enquanto o Reino Unido levou 130 anos (de 1800 a 1930) para reduzir o número de filhos por mulher de 5 para 2, o Brasil fez essa transição em menos de quatro décadas, e a Coreia do Sul, em apenas 20 anos (ambos a partir de meados da década de 60).

Na África, taxas superiores a 6 persistiram até os anos 80, recuando para o atual nível, ainda elevado, de pouco mais de 4. Em países como Níger e Somália, a transição demográfica mal começou, e as mulheres ainda têm 7 e 6 filhos, respectivamente.

Uma prole numerosa talvez seja um ativo na agricultura, que ainda tem peso grande na economia do continente. Além disso, a oposição de líderes de diversas religiões ao uso de contraceptivos tem atrasado as políticas de planejamento familiar da África em relação a outras regiões.

O percentual de famílias que dizem desejar acesso a métodos anticoncepcionais, e não conseguir é mais elevado em países africanos. Segundo os dados mais recentes da ONU, eram 38% em Angola, 32% em Gana e 28% no Congo, ante 6% no Brasil, 8% na Colômbia e 13% na Índia.

Uma consequência da dinâmica demográfica africana é a persistência de níveis altos —ainda que decrescentes— de pobreza no continente.

Dados do Banco Mundial mostram que a fatia da população vivendo com menos de US$ 1,90 (R$ 7,50) por dia caiu de 55% para 42% na África Subsaariana, região menos desenvolvida do continente, de 1990 a 2013. Embora importante, está muito aquém do recuo de 35% para 11% no mundo como um todo, na esteira do robusto crescimento econômico da Índia e da China.

Como resultado, a região hoje concentra mais da metade da população extremamente pobre do mundo.

'Armadilha'

Uma das ameaças ao futuro do continente são os efeitos de mudanças climáticas —em parte decorrentes do crescimento populacional global—, que têm contribuído para a elevação dos preços de alimentos, entre outras coisas.

“A África está numa armadilha, um círculo vicioso entre pobreza e demografia”, afirma Francisco Ferreira, conselheiro sênior do Banco Mundial.

“A pobreza elevada limita o avanço da educação e o acesso a contraceptivos, mantendo o crescimento populacional alto. E essa dinâmica demográfica mantém a pobreza elevada”, diz o especialista.

Para escapar desse cenário, segundo Ferreira, o continente precisa aumentar os investimentos em educação, principalmente das meninas.

Embora a escolaridade tenha avançado na África, os anos médios de estudo da população adulta continuam baixos em relação aos registrados em outros países em desenvolvimento, e o abismo entre mulheres e homens persiste em vários países africanos.

“O aumento da escolaridade das mulheres é importante porque muda o equilíbrio de poder dentro do domicilio e na sociedade”, diz Ferreira.

Segundo cálculos de Lam, em 2040, a África Subsaariana precisará gerar uma média de 2 milhões de postos de trabalho por mês para absorver a explosão populacional concentrada na faixa etária em idade ativa. Uma força de trabalho mais escolarizada ajudaria a atrair investimentos que gerassem mais empregos.

“Parece muito difícil, mas outras partes do mundo, como a Ásia e a América Latina, conseguiram lidar bem com o crescimento populacional. A pergunta é se a África também conseguirá”, afirma Lam.

A educação também é considerada uma arma importante no combate a epidemias, que, além de pressionarem o orçamento dos governos, freiam o aumento da longevidade.

O avanço da Aids, por exemplo, reduziu a expectativa de vida na década passada em países como África do Sul, Uganda e Zimbábue. Indicadores de saúde e educação têm melhorado, mas, sem investimento adequado, o forte crescimento populacional esperado nas próximas décadas elevará o risco de retrocessos.

Se, por um lado, a explosão demográfica africana envolve desafios significativos, por outro, pode representar a oportunidade de desenvolvimento econômico mais rápido, especialmente devido à dinâmica contrária de outras regiões.

Enquanto a África terá de arrumar emprego para bilhões de adultos nas próximas décadas, os demais continentes podem sofrer escassez de mão de obra devido ao rápido envelhecimento da população.

Se o continente africano for bem-sucedido na redução da fertilidade, terá mais recursos próprios para investimentos e um enorme mercado consumidor que pode atrair o interesse de empresas de fora.

Diante da situação de outras partes do mundo, fica claro por que essa transição é chamada de bônus demográfico.

Hoje, mais de 30 países (casos de Portugal, Bulgária e Rússia) passam pelo encolhimento de suas populações em idade de trabalhar. No fim dos anos 90, somente dez atravessavam essa etapa. Nos próximos anos, o clube aumentará. No Brasil, segundo as projeções da ONU, a faixa etária de 15 a 64 anos começará a diminuir em pouco mais de 20 anos.

O resultado será o maior número de dependentes por adulto em idade ativa, que decaía na maior parte do mundo.

A diferença em relação aos anos 1960 é que, lá atrás, o aumento da taxa de dependência foi puxado pela explosão no número de crianças. A partir daqui, o crescimento virá da expansão da população com 65 anos ou mais.

O movimento no Brasil tem sido semelhante. Segundo projeções da ONU, a partir de 2025, a fatia de crianças e idosos começará a aumentar em relação ao total de brasileiros em idade ativa. Até 2100, haverá quase 9 dependentes para cada 10 brasileiros de 15 a 64 anos, o dobro do atual.

A fatia de crianças em relação à população em idade ativa, que chegou a 80% no boom dos anos 60, encolherá para 25%. Já a de idosos, hoje pouco acima de 10%, saltará para 63% —ou seja, para cada 10 jovens ou adultos haverá 2,5 crianças e 6,3 idosos.

Essa nova etapa trará um desafio sobretudo para países que não aproveitaram as vantagens do período da expansão da força de trabalho.

“O envelhecimento da população no Brasil é preocupante porque está acontecendo antes de o país ter se tornado rico”, diz Pedro Olinto, coordenador de desenvolvimento humano do Banco Mundial.

O período de expansão da força de trabalho facilita o processo de convergência da renda média para patamares mais elevados. Nessa etapa, há mais gente para produzir, ter ideias inovadoras que impulsionem o desenvolvimento econômico, dividir os custos dos serviços públicos e pagar a conta dos dependentes.

“A transição demográfica e o aumento da atividade econômica feminina tiveram papel importante para o crescimento potencial da economia desde os anos 1970”, diz o demógrafo Cássio Turra, do Centro de Desenvolvimento e Planejamento Regional.

Conforme a população de 15 a 65 anos encolhe, o progresso do desenvolvimento econômico passa a depender mais da produtividade (medida da eficiência com que máquinas, tecnologia e gente são combinados para gerar riqueza).

“O crescimento econômico não depende só da dinâmica demográfica. A produtividade é afetada por fatores que independem de variáveis demográficas e se torna ainda mais crucial com a redução na oferta de trabalho”, diz Turra.

Eficiência

O problema do Brasil é encarar o fim das vantagens da dinâmica demográfica com indicadores pífios de eficiência econômica.

Segundo cálculos do economista Braulio Borges, da LCA Consultores e da Fundação Getulio Vargas (FGV), de 1995 a 2015, a produtividade do trabalho avançou 1,6% ao ano em países com características econômicas similares às brasileiras. É o dobro do avanço do Brasil no período.

Tal desempenho resulta de esforços insuficientes para melhorar a qualidade do ensino, o ambiente de negócios e a infraestrutura. Sem impulso da demografia, ficará cada vez mais difícil reverter o cenário.

“Se nada mais mudar, os brasileiros em idade ativa terão de pagar mais impostos para arcar com os custos cada vez mais altos dos inativos”, diz Olinto, do Banco Mundial.

Segundo o especialista, um efeito colateral pode ser o aumento do desestímulo, que reduziria ainda mais a produtividade do trabalhador. Outro risco é de queda nas taxas de poupança e investimento, que também são baixos no Brasil.

Há, contudo, caminhos para evitar ou amenizar a situação.

Alguns deles envolvem medidas para frear o impacto negativo da mudança da composição etária da população.

Uma reforma do regime previdenciário, segundo especialistas, é a principal e mais urgente. Além de ameaçar a sustentabilidade das contas públicas, o sistema atual, ao permitir a aposentadoria sem idade mínima, desestimula a participação dos mais maduros no mercado de trabalho.

O resultado é que, embora vivam mais, os brasileiros param de trabalhar cedo. Uma medida dessa disparidade é a distância entre a idade de aposentadoria e o tempo esperado de vida a partir da maturidade em diferentes países.

Em média, os homens brasileiros que chegam aos 60 anos vivem até perto dos 80, mas param de trabalhar aos 55. Embora com sobrevida menor, argentinos, chineses, indianos, russos e sul-africanos se aposentam mais tarde. 

Se o país conseguisse postergar a saída dos trabalhadores do mercado de trabalho, esticaria o bônus demográfico. Não é por acaso que vários países têm rediscutido o conceito de idoso e tentado implementar regras que levem ao aumento da vida ativa.

No Brasil, o governo atual apresentou uma proposta de reforma da Previdência que estabelecia para todos os casos uma idade mínima de aposentadoria, a ser elevada gradualmente. Com a turbulência política, porém, a tramitação do projeto parou.

Segundo especialistas, com a rápida transformação demográfica, a previdência virou uma bomba-relógio e será tema obrigatório tanto no debate da eleição presidencial de outubro quanto na agenda do próximo governo.

Outra mudança que pode ajudar o Brasil a frear a transição demográfica é o aumento da participação feminina no mercado de trabalho. O país já avançou, mas a fatia de mulheres na força de trabalho ainda é baixa se comparada às de outras nações emergentes e desenvolvidas.

“As mulheres precisam ter o acesso dos homens ao mercado de trabalho, sem custo extra ou dilema de que fazer com os filhos”, diz Pedro Olinto.

Para esse cenário se materializar, transformações como um maior equilíbrio na divisão de tarefas domésticas entre homens e mulheres precisam ocorrer. Maior oferta de creches —outra área em que os avanços não supriram o déficit de vagas e penalizam sobre tudo os mais pobres— também seria um incentivo à participação feminina.

Pesquisadores ressaltam que uma vantagem do fim do bônus demográfico é a queda da população em idade escolar, que possibilita aumentar o investimento por aluno e, talvez, a qualidade da educação.

O maior acesso a creches também poderia frear a rápida queda da fertilidade ao reduzir o custo de criar filhos.

O número médio de filhos por mulher brasileira caiu de 3 no fim da década de 90 para 1,8 atualmente. Na China, onde as autoridades impuseram a política de um filho por família no fim dos anos 70, esse indicador é de 1,6.

O temor do impacto econômico negativo da redução da natalidade somada ao envelhecimento da população levou Pequim a flexibilizar a regra, embora com pouco efeito prático por ora, e a facilitar a imigração para estrangeiros de ascendência chinesa.

“O aumento da migração pode ser excelente tanto para países que recebem quanto para os que enviam mão de obra, mas essa equação econômica não se traduz facilmente em equação política”, diz Ferreira, do Banco Mundial.

Países desenvolvidos como Estados Unidos, Reino Unido e Alemanha vêm recrudescendo suas regras de imigração, o que torna a globalização —citada por David Lam como um dos fenômenos que ajudaram o mundo a absorver a expansão populacional recente— uma incógnita no horizonte.

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