Crianças brasileiras ganham livros, brigadeiro e farofa em abrigo nos EUA

Representantes do governo brasileiro distribuíram os presentes em abrigos de Chicago

Chicago

Crianças brasileiras que foram separadas dos pais ao atravessarem a fronteira dos Estados Unidos ganharam novas companhias nesta semana: Adélia Prado, Mario Quintana e Cecília Meireles.

Os escritores são autores de parte dos 300 livros em português levados por equipes do governo brasileiro que visitaram os menores nesta semana, em dois abrigos de Chicago.

“Eles adoraram”, contou a embaixadora Maria Dulce Silva Barros, subsecretária-geral de Assuntos Consulares do Itamaraty, neste sábado (7). “Tem um componente emocional; eles se sentem mais em casa”, disse a embaixadora Luiza Lopes, diretora do Departamento Consular e de Brasileiros no Exterior.

Além dos livros, as crianças também já ganharam farofa e, na próxima semana, devem receber um bolo de chocolate para os aniversariantes do mês, com direito a brigadeiro.

Para Barros, é uma forma de minimizar o sofrimento dos menores, separados há semanas dos pais e distantes até 3.500 km de suas famílias.

Atualmente, 55 crianças do Brasil estão acolhidas em abrigos americanos. É uma consequência da política de tolerância zero do governo de Donald Trump à imigração ilegal: detidos e processados criminalmente pela travessia da fronteira com o México, os pais são enviados a prisões, e os menores, que não podem ficar em presídios, vão para instituições mantidas pelo governo.

Do total de crianças brasileiras, 27 estão nas instituições de Chicago, que são referência no país.

Os ministros Aloysio Nunes, de Relações Exteriores, e Gustavo Rocha, de Direitos Humanos, visitaram os dois abrigos da cidade. Encontraram as crianças em boas condições, mas cobraram para que o governo americano as reúna aos pais o mais rápido possível.

“É uma separação cruel”, afirmou Aloysio, durante entrevista nesta sexta (6).

As crianças, que têm entre 5 e 17 anos, têm aulas em inglês e fazem atividades recreativas. Estão instaladas em quartos com dois beliches e banheiro. Têm horário para tudo, inclusive para falar com os pais, ao telefone (na maioria dos casos, só uma vez por semana).

A única reclamação, além do feijão doce, é a saudade da família. Todas sabem dizer com precisão há quanto tempo estão longe do pais: 12, 29, 31, 46 dias.

“É uma privação afetiva muito grande”, comentou Aloysio. “Elas estão sendo bem tratadas, mas isso não exime o governo do dever de atuar para reunir essas famílias”, disse Rocha.

A justiça americana deu um prazo à administração de Trump: crianças com até cinco anos devem ser reunidas aos pais até terça-feira (10), e as demais, até o dia 26 de julho.

O governo pediu mais tempo, e ainda não se sabe como nem onde as famílias serão reunidas —em especial nos casos em que os pais ainda aguardam uma decisão judicial sobre sua permanência nos EUA.

“Nós vamos ficar na cobrança, insistindo”, disse Barros. Os consulados brasileiros no país têm acompanhado a situação das crianças e visitado os abrigos.

Pelo menos uma menina brasileira, com cinco anos, precisa ser reunida à família ainda nesta semana. Outros brasileiros têm conseguido a reunificação por decisões judiciais.

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