Documentos mostram que governo dos EUA monitorou Mandela até 2008

Washington considerava que o líder sul-africano era uma potencial ameaça comunista

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Joanesburgo | Reuters

Milhares de páginas de documentos da inteligência dos Estados Unidos sobre Nelson Mandela foram tornadas públicas nesta quarta-feira (19), revelando que Washington continuou a monitorar o líder sul-africano como uma potencial ameaça comunista mesmo após ele ter saído da prisão em 1990.

A informação foi divulgada pelo Property of the People, um grupo que entrou com processo para obter os papéis, em homenagem aos cem anos do nascimento de Mandela, morto em 2013.

O grupo afirmou ter obtido os documentos após anos de litígio na Justiça. 

"Os documentos revelam que, assim como fez nos anos 1950 e 60 com Martin Luther King Jr e o movimento dos direitos civis, o FBI investigou agressivamente os movimentos anti-apartheid norte-americanos e da África do Sul como planos comunistas que ameaçavam a segurança dos EUA", disse o presidente do grupo, Ryan Shapiro, em comunicado.

 

"Pior ainda, os documentos demonstram que o FBI continuou sua investigação errônea de Mandela e do movimento anti-apartheid como ameaça comunista mesmo depois das imposições dos EUA de sanções comerciais contra o apartheid na África do Sul, depois da celebrada soltura de Mandela da prisão e depois da queda do Muro de Berlim."

O primeiro presidente negro da África do Sul, que morreu em 2013 e permanece como um ícone global por sua luta contra o apartheid e pela sua mensagem de reconciliação depois de 27 anos na prisão, foi tratado com suspeitas por Washington durante a Guerra Fria e ficou na lista de observação de terrorismo americana até 2008.

O Congresso Nacional Africano (CNA) de Mandela está no poder desde na África do Sul desde o fim do apartheid em 1994, quando ele foi eleito presidente —ficou no cargo até 1999.   

 

O Property of the People disse que seu acervo inclui documentos das principais agências de inteligência dos EUA, incluindo o FBI (a polícia federal americana), a CIA (agência de inteligência americana) e a NSA (Agência de Segurança Nacional), sendo que a maioria deles jamais tinha sido vista pelo público.

Os documentos do chamado "The Mandela Files" podem ser encontrados no site do grupo.

O sul da África foi alvo de disputa entre Rússia e Estados Unidos durante a Guerra Fria, principalmente porque alguns países que conquistaram a independência, como Angola e Moçambique, se alinharam com Moscou.

Celebrações foram realizadas em toda a África do Sul nesta semana para marcar o aniversário de 100 anos de Mandela, incluindo um discurso na terça-feira (17) do ex-presidente dos EUA, Barack Obama, que disse que o mundo deveria resistir ao cinismo contra a ascensão de "valentões", em declaração que foi considerada um recado a seu sucessor, Donald Trump. 

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