Em recado a Trump, Obama critica 'valentões' e reclama de 'política do medo'

Discurso foi feito na África do Sul em homenagem ao centenário do nascimento de Nelson Mandela

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Obama discursa na homenagem pelo centenário de nascimento de Nelson Mandela
Obama discursa na homenagem pelo centenário de nascimento de Nelson Mandela - Siphiwe Sibeko/Reuters
São Paulo e Joanesburgo | Associated Press, AFP e Reuters

Em discurso na África do Sul nesta terça (17) para comemorar o centenário de nascimento de Nelson Mandela, o ex-presidente americano Barack Obama atacou as políticas de seu sucessor, Donald Trump, e fez uma defesa da democracia, dos direitos humanos e da tolerância. 

Sem citar Trump diretamente, Obama criticou o que chamou de "políticos valentões" e disse que a "política de medo, ressentimento e retração está avançando a uma velocidade inimaginável há poucos anos". 

“Assim como as pessoas falaram sobre o triunfo da democracia nos anos 1990, elas agora estão falando sobre o triunfo do tribalismo e dos valentões. Mas precisamos resistir a esse cinismo”, disse ele durante sua fala em Joanesburgo em evento organizado pela fundação do antigo líder sul-africano, morto em 2013.  

"Cada dia as notícias trazem manchetes mais atordoantes e perturbadoras", afirmou, completando que "aqueles no poder estão tentando minar as instituições que dão sentido à democracia"  

"Nós vemos boa parte do mundo ameaçando retornar para um modo mais perigoso, mais brutal de fazer as coisas", disse Obama, que citou nominalmente a Rússia como exemplo de autoritarismo. Isto um dia após Trump se encontrar com o presidente Vladimir Putin e ser alvo de críticas por ter expressado apoio ao russo. 

Em outra referência ao atual presidente, Obama afirmou que é preciso respeitar os fatos e que os políticos de hoje mentem cada vez mais. "Se você diz que a mudança global não existe, eu não sei como começar uma discussão", afirmou ele, citando o Acordo do Clima de Paris.  

Obama disse que o mundo se encontra no momento em uma encruzilhada entre a visão de Mandela e um momento "obscuro".

Ele reclamou do que considera políticas migratórias discriminatórias, citando o preconceito baseado em origem, etnia, cor da pele, gênero e religião como questões a serem enfrentadas e defendeu a igualdade e a tolerância como melhores formas de manter o legado do antigo líder sul-africano.

O ex-presidente citou a seleção francesa que ganhou a Copa do Mundo como um exemplo disso. "Nem todos eles se parecem gauleses, mas todos são franceses", afirmou, para aplausos da plateia.  

A fala, considerada a mais importante aparição pública do americano desde que ele deixou a Presidência no início de 2017, foi feita para 14 mil pessoas no estádio Wanderers. O presidente recebeu gritos de aplausos durante todo o discurso de uma plateia que incluiu a viúva de Mandela, Graça Machel, a ex-presidente da Libéria e vencedora do Nobel da Paz Ellen Johnson Sirleaf, o ex-secretário-geral da ONU Kofi Annan, e o presidente da África do Sul, Cyril Ramaphosa. 

A cada ano a Fundação Mandela convida uma pessoa de prestígio para discursar no aniversário de "Madiba", que nasceu em 18 de julho de 1918 e faleceu em 5 de dezembro de 2013.

Depois de passar 27 anos nas prisões do regime racista branco, Mandela, ícone mundial da luta contra o Apartheid, tornou-se em 1994 o primeiro presidente eleito democraticamente na África do Sul, cargo que ocupou até 1999.

Embora só tenham se encontrado uma vez, o sul-africano e o americano sempre expressaram uma admiração mútua —Obama foi um dos líderes que discursaram no funeral de Mandela.   

Antes de ir para a África do Sul, Obama visitou o Quênia, terra natal de seu pai, em sua primeira viagem à Africa desde que deixou a Casa Branca.  

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