Explicações da Nicarágua sobre morte de brasileira são insuficientes, diz ministro

Governo brasileiro não descarta apelar a organismos como a OEA

A estudante de medicina brasileira Raynéia Gabrielle Lima
A estudante de medicina brasileira Raynéia Gabrielle Lima, morta na Nicarágua - Reprodução/Facebook
Joanesburgo

O ministro das Relações Exteriores brasileiro, Aloysio Nunes, criticou nesta sexta-feira (27) o governo da Nicarágua pela demora em apresentar explicações detalhadas sobre a morte da estudante brasileira Raynéia Gabrielle Lima, 31.

A pernambucana, que estudava medicina no país da América Central, foi assassinada na noite de segunda (23) na capital, Manágua, conflagrada pela onda de protestos contra o presidente Daniel Ortega que deixou mais de 400 mortos em três meses.

Em entrevista na cúpula dos Brics, em Joanesburgo, na África do Sul, Aloysio disse que as informações prestadas até agora pelo governo nicaraguense são "extremamente insuficientes". 

"O governo da Nicarágua diz que foi um guarda de segurança particular. Mas quem foi? Qual é o calibre da arma? Em que circunstância isso ocorreu? Não houve até agora um esclarecimento e nós vamos insistir porque isso nos parece absolutamente inaceitável", afirmou Nunes.

Segundo o ministro, o governo continua insistindo para obter informações e que, em caso de resposta negativa, estudará enviar ao caso a instâncias internacionais como a OEA (Organização dos Estados Americanos).

Aloysio acrescentou que o Brasil fez apelos à OEA por um fim à violência na Nicarágua. "Não apenas a violência das forças policiais, mas também a violência talvez mais ultrajante, que é a violência das forças paramilitares."

Após o crime, o governo chamou a embaixadora nicaraguense em Brasília, Lorenza Martínez, para prestar esclarecimentos e chamou de volta o embaixador em Manágua, Luis Cláudio Villafañe.

"Esse é um gesto diplomático que marca o profundo inconformismo com a violência na Nicarágua, que acabou por vitimar uma brasileira." 

Em resposta, as autoridades nicaraguenses convocaram Martínez de volta. De acordo com a embaixada em Brasília, ela viajou na quinta (26).

Nesta sexta, a polícia do país disse ter capturado um suspeito da morte da brasileira, identificado como Pierson Gutiérrez Solís, 42, mas não informou quais foram as provas de sua participação no crime nem se ele tinha vínculo com o governo ou paramilitares.

As milícias são as principais responsáveis pelas 448 mortes na repressão às manifestações contra Ortega, segundo a Associação Nicaraguense Pró-Direitos Humanos, sendo 383 civis.

Um quinto delas ocorreram nas últimas duas semanas, quando o governo fez uma ofensiva para retomar o controle de bastiões opositores. Outras 2.830 pessoas ficaram feridas
 

Com informações da AFP, em Manágua 

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