Descrição de chapéu RFI

Incêndios na Suécia atingem área equivalente a 35.700 campos de futebol

País passa pela maior onda de calor dos últimos 260 anos; não há registro de vítimas

Claudia Wallin
Estocolmo | RFI

Na Suécia, a maior onda de calor dos últimos 260 anos provoca os mais graves incêndios florestais da história moderna do país.

Sete países da União Europeia já se uniram aos esforços para ajudar a Suécia a combater as chamas, que atingem uma área total de 250 quilômetros quadrados —o que equivale aproximadamente a quase 60% do território do estado do Rio de Janeiro.

A situação é crítica, e os suecos esperam desesperadamente pela chuva. Mas a previsão do serviço de meteorologia sueco é de mais calor intenso para os próximos dias, com temperaturas que devem atingir até 35ºC em algumas regiões.

As temperaturas elevadas desta que promete ser a semana mais quente do ano não apenas dificultam o combate às chamas, como também podem deflagrar novos incêndios. O comando das operações de combate ao fogo alerta que o risco de incêndios deve atingir um nível extremamente alto na sexta-feira (27), especialmente no sul do país.

​No momento, há cerca de 20 focos de incêndio no centro, no norte e no sul da Suécia. O número total de pontos de incêndio diminuiu, uma vez que vários deles se ampliaram e acabaram se fundindo —no domingo, contava-se um total de 50 focos de incêndio. Não há esperança de debelar o fogo a curto prazo: a previsão é de que os trabalhos de contenção devem se estender pelas próximas semanas.

 

Em relação aos incêndios maiores, a expectativa é ainda mais alarmante: o chefe das operações na região de Gävleborg (centro da Suécia), Patrik Åhnberg, disse à TV pública sueca SVT que os focos mais dramáticos só devem ser totalmente debelados quando a neve do inverno chegar, entre os meses de outubro e novembro.

A maioria dos focos de incêndio atinge o centro e o sul do país - mas a onda de calor, com temperaturas de até 33ºC , fez com que as chamas se alastrassem na semana passada até o Círculo Polar Ártico, em cerca de dez áreas da região, como a Lapônia.

Os alarmes continuam ativos e neste momento são especialmente graves nas regiões de Gävleborg, Jämtland y Dalarna, no centro do país, onde as florestas ardem há uma semana.

Os piores incêndios se concentram na municipalidade de Ljusdal, na região de Gävleborg. A área consumida pelo fogo somente em Ljusdal já é maior que os incêndios florestais do verão de 2014 na Suécia, quando o fogo consumiu 14 mil hectares de florestas na região de Västmanland.

Na capital sueca, um foco de incêndio chegou a atingir as proximidades do aeroporto de Arlanda no domingo, mas os bombeiros conseguiram controlar o incêndio, depois de um fim de semana de temperaturas mais amenas. Em todo o país, os incêndios arrasaram nos últimos dias um total de 25 mil hectares —uma área equivalente a 35.700 campos de futebol, segundo o jornal Expressen.

“A situação em que nos encontramos é excepcional", afirmou o primeiro-ministro sueco, Stefan Löfven, após visitar uma das regiões afetadas. Centenas de pessoas foram forçadas a deixar suas casas diante do avanço das chamas, sobretudo nas províncias de Jämtland, Västerbotten, Gävleborg e Dalarna.

Nas áreas onde aconteceram retiradas, a polícia sueca mobilizou patrulhas a fim de evitar roubos nas casas abandonadas.

Em regiões próximas a áreas de risco, milhares de pessoas estão sendo orientadas a permanecer em casa com as janelas e portas fechadas, a fim de evitar a inalação de fumaça. Até o momento, não há registro de vítimas ou feridos. Várias estradas próximas aos focos de incêndio continuam interditadas.

Os serviços de trem operam há vários dias com interrupções e atrasos.

Na cidade de Uppsala, ao norte da capital sueca, os residentes foram proibidos de fazer churrascos, depois de 18 dias consecutivos sem chuvas e de temperaturas que chegaram aos 34,4ºC —a mais alta temperatura já registrada na cidade desde 1947.

Em quase todo o país, vigora a proibição de churrascos ao ar livre em parques e florestas, sob pena de multas ou até quatro anos de prisão para quem violar a ordem.

Racionamento de água

Em vários municípios, as autoridades impuseram também um racionamento de água para fazer frente a esse período incomum de seca, e os moradores estão proibidos, por exemplo, de regar os jardins de casa. Pouco acostumados ao calor extremo, os suecos estão até tomando banhos nas fontes dos parques.

Além dos efetivos da Defesa Civil, 500 soldados das Forças Armadas suecas foram mobilizados para apoiar as operações de contenção dos incêndios. Mas sem o preparo de um país nórdico como a Suécia para enfrentar o calor e os incêndios, os suecos foram obrigados a pedir ajuda internacional.

Na quarta-feira passada (18), diante do alastramento do fogo, a Suécia solicitou apoio emergencial à União Europeia através do Mecanismo Europeu de Proteção civil, a fim de combater os múltiplos focos de incêndio.

França, Alemanha, Itália, Portugal, Polônia, Noruega e Dinamarca já participam das operações de contenção das chamas, através do envio de bombeiros, helicópteros e hidroaviões. É a maior operação conjunta do gênero já realizada pelo bloco europeu, segundo a Comissão Europeia.

E é a primeira vez na história que a Suécia recebe ajuda internacional de tal dimensão. Na localidade de Sveg, em Härjedalen (centro da Suécia), a população recebeu sob aplausos a chegada de 139 bombeiros poloneses.

O diretor da Agência sueca de Defesa Civil, Dan Eliasson, afirmou que como no momento os maiores incêndios não podem ser extintos, o objetivo das operações é tentar deter o alastramento das chamas, à espera de uma melhora das condições meteorológicas.

“É extremamente difícil lutar contra este tipo de incêndio. Não temos nenhuma esperança de conseguir debelar o fogo sem que ocorra uma mudança favorável das condições do tempo”, disse Peter Arnevall, um dos chefes das operações de contenção, ao jornal Svenska Dagbladet. Mas não há chuva à vista. "As altas temperaturas e o clima seco continuarão a afetar todo o país nos próximos dias”, disse à rádio sueca o meteorologista Anders Wettergren.

A Cruz Vermelha coordena as atividades de milhares de voluntários em todo o país, e em diversas localidades os moradores têm organizado mutirões para cozinhar e distribuir alimentos e bebidas aos bombeiros que tentam debelar as chamas.

Onda de calor europeu

A origem dos incêndios na Suécia foi a onda recorde de calor que atinge a Europa neste verão incomum, aliada a um longo período de estiagem e seca extrema no país. Segundo a agência sueca de meteorologia (SMHI, na sigla em sueco), este está sendo o mês de julho mais quente dos últimos 260 anos na Suécia, com o maior número de dias com temperaturas acima de 30º₢. O recorde anterior de calor foi registrado em 1994, quando a temperatura média no mês de julho atingiu 21,5ºC.

A combinação de temperaturas extremas e falta de chuva esvaziou os aquíferos e as águas subterrâneas, deixando o solo muito seco —situação que favoreceu a propagação do fogo. Desde maio, o norte e o centro da Europa vivem um período particularmente seco, caracterizado por escassez de chuva e temperaturas elevadas. Na Suécia, o mês de maio foi o mais seco dos últimos cem anos.

Em diferentes zonas do hemisfério norte, ondas de calor de magnitude considerável têm sido registradas em regiões como a Sibéria, na Rússia. Dias de calor extremo também afetam diversas cidades europeias. Incêndios florestais devastam ainda regiões na Noruega e na Finlândia, embora em escala menos crítica do que na Suécia.

O calor continua intenso. Na capital sueca, Estocolmo, os termômetros alcançam 29ºC nesta quarta-feira (25) —oito graus a mais do que a temperatura média registrada habitualmente no mês de julho.






 

Tópicos relacionados

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.