Macri diz que votação do aborto na Argentina é sinal de maturidade

Promessa é feita em entrevista na qual ele chama crise econômica no país de tempestade surpresa

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Mauricio Macri, de terno sem gravata, arregala os olhos, abre a boca e gesticula com as mãos diante de um microfone
Mauricio Macri concede entrevista coletiva na residência oficial, em Buenos Aires - Marcos Brindicci /Reuters
Buenos Aires

O presidente da Argentina, Mauricio Macri, declarou nesta quarta-feira (18) que não vetará uma lei que descriminaliza o aborto caso ela seja aprovada no Senado no próximo dia 8, embora ele se declare contra a interrupção da gravidez. O projeto já passou na Câmara dos Deputados e tem boa chance de ser aprovado também no Senado.

O presidente convocou uma entrevista coletiva para a imprensa estrangeira no país a fim de falar sobre economia. Acabou indagado de surpresa a respeito de sua estratégia de estimular o debate sobre o aborto “só porque tinha certeza de que jamais seria aprovado e que isso então poderia ajudar a recuperar sua popularidade (que caiu de 58% a 35%)”. 

Ele abriu um pequeno sorriso e tentou escapar de polêmica. Afirmou que não vetará a lei e que a opinião dele não importava. Acrescentou, ainda, que estava “feliz de que o país esteja amadurecendo a ponto de falar de temas que antes eram tabu".

"Hoje podemos entender a diversidade de visões em nosso país e assim conviver melhor. Não tenho medo nem do debate nem do resultado. Estou feliz de que o país esteja mais maduro.”

A entrevista ocorreu de modo tenso, pois do lado de fora da Quinta de Olivos (residência oficial) transcorria um protesto de um grupo de cerca de 300 funcionários do Estado que haviam sido demitidos.

Macri voltou a dizer que o país passava por um momento difícil, uma "tempestade inesperada", com “a disparada do dólar e da inflação, mas que ocorreu em grande parte por conta de coisas que não dominamos, os vaivéns desse mundo volátil e a herança recebida de governos passados e décadas passadas”.

O peso desvalorizou cerca de 40% ante o dólar nas últimas semanas, e a inflação já acumula 15% de janeiro até agora, um patamar esperado para todo o acumulado em 2018. 

Indagado sobre a negociação de um acordo comercial entre o Mercosul e a União Europeia, disse que “está um pouco travada”, mas que confia na boa relação com o Brasil e na aproximação do bloco com a Aliança do Pacífico (México, Peru, Chile e Colômbia) —no fim do mês, representantes de ambos os blocos se reunirão pela primeira vez, no México.

Sobre o Mercosul, de modo específico, disse que o bloco “tinha perdido nos últimos anos seu perfil exportador, mas voltamos a reforçar isso, estamos exportando 60% mais carne e mais em outros itens também. É a vocação do bloco e precisamos reforçá-la”.

Afirmou que a “única saída para essa situação será reduzir os gastos do Estado”, algo que já começou a ser feito, com congelamentos de contratações, viagens e outros benefícios do Executivo. E reforçou que “não podemos nem vamos aumentar impostos, porque isso significaria aumentar ainda mais os gastos daqueles que menos têm”.

Macri disse que atacar a inflação estava sendo “mais difícil do que pensávamos, e é nossa prioridade, pois ela come o dinheiro do trabalhador.” E concluiu que “essa tempestade nos acertou justo num momento em que estávamos crescendo". "Mas vamos superar isso, temos os recursos e a equipe econômica está trabalhando em várias opções.”

O presidente afirmou que sua meta é baixar em dez pontos percentuais a inflação no ano que vem, e chegar a um dígito em 2020. Mas não explicou como isso ocorrerá.

Macri se mostrou entusiasmado com as áreas de energia e turismo. Disse que vê de maneira próxima a independência energética do país, que hoje importa parte do que consome. "Em três anos seremos exportadores de gás, e em cinco anos, de petróleo.”

Por fim, indagado sobre o alto endividamento do país e a ida ao FMI, Macri deu uma resposta confusa, pois afirmou que “o governo tem que funcionar como a casa de vocês, que usa os recursos que têm, e nós não estamos fazendo isso, estamos nos endividando". "Mas não podemos nos endividar até o infinito”, contemporizou.

Também nessa questão, a dívida, o presidente se esquivou. Afirmou apenas que estava conversando com os governadores para que se possam transferir menos recursos às províncias e que estas reduzam seus gastos sociais.

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