Perfil de detido por morte de brasileira põe em dúvida versão da Nicarágua

Segundo jornal local, suspeito do assassinato é ligado ao partido do presidente Daniel Ortega

Mulher coloca buquê de flores durante cerimônia em Manágua em homenagem a estudante brasileira Raynéia Gabrielle Lima
Mulher coloco buquê de flores durante cerimônia em Manágua em homenagem a estudante brasileira Raynéia Gabrielle Lima - Jorge Cabrera - 25.jul.2018/Reuters
São Paulo

​Uma investigação do jornal digital nicaraguense Confidencial sobre Pierson Gutiérrez Solís —detido e apontado como suposto autor dos disparos que mataram a estudante brasileira de medicina Raynéia Gabrielle Lima, 31, no último dia 23— põe em xeque a versão divulgada pelas autoridades locais de que ela foi vítima da ação de um guarda particular.

De acordo com o periódico, Solís, 42, é militante da Frende Sandinista de Libertação Nacional, à qual pertence o presidente Daniel Ortega, e serviu no Exército, do qual se desligou em 2009.

 

Ele trabalha como segurança na Albanisa, uma parceria do governo com a petroleira estatal venezuelana PDVSA. A sede da empresa fica a cerca de 500 metros do local onde Raynéia teria sido alvejada, de acordo com testemunhas.

Não se sabe se Solís estava a serviço naquele dia e especificamente no horário estimado do crime, por volta das 23h30.​

Outro ponto que levanta dúvidas está no tipo de arma que a polícia diz ter encontrado com o suposto autor, uma carabina M4.

Pela lei local, vigias privados não podem ter esse tipo de rifle, de uso da polícia. Há relatos de que grupos paramilitares, sobre os quais recai a suspeita pelo crime, também o utilizam.

Uma testemunha-chave é o namorado de Raynéia, Harnet Lara Moraga, que estava em outro carro próximo ao dela na hora do assassinato, pouco depois de os dois saírem de uma festa. Desde então, ele não deu declarações públicas, mas o jornal Confidencial ouviu médicos que socorreram Raynéia e conversaram com Lara Moraga.

De acordo com eles, o namorado contou que viu três homens encapuzados dispararem na direção do carro da brasileira, numa rua estreita no bairro de classe média-alta Lomas de Montserrat, na capital, Manágua.

Desde o início do mês, paramilitares vinham ocupando essa região, um dos pontos de confronto de estudantes com as forças de Ortega. Depois do assassinato, eles deixaram de ser vistos pela vizinhança.

Na sexta (27), o chanceler brasileiro, Aloysio Nunes, cobrou da Nicarágua mais explicações sobre o crime.

 
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