Trabalho, prece e comemoração: brasileira conta bastidores do resgate na Tailândia

Tatiane Araújo participou como voluntária da operação e ajudou na tradução para estrangeiros

Anelise Vieira
Bancoc | UOL

Mae Sai, cidade de cerca de 22 mil habitantes na fronteira entre Tailândia e Mianmar, era desconhecida até mesmo para grande parte dos tailandeses. Mas, nos últimos dias, virou centro do mundo, quando se soube que 12 garotos e um adulto estavam presos em uma caverna, sem luz, sem comida e com pouco oxigênio.

"Começaram a chegar equipes de resgate de lugares como Estados Unidos, Austrália, Alemanha e Japão", conta a paranaense Tatiane Araújo, 36, que há três anos mora na província de Chiang Rai. "E um jornal local anunciou que o governo precisava de voluntários que falassem tailandês e inglês. Queria ver de perto o que estava acontecendo e me candidatei", disse ao UOL.

Ela passou as noites de sábado (7) e domingo (8) a poucos metros da entrada da caverna, ajudando uma militar dos Estados Unidos a se comunicar com os tailandeses.

Há seis anos na Tailândia, Araújo é professora de inglês no país, como parte de uma missão evangélica.

"Tenho alunos de sete a 16 anos, idades parecidas às dos garotos presos. O sentimento aqui é de comoção nacional, mas a vida segue. Aulas, trabalhos, tudo continua normalmente, embora estejam todos bastante emocionados", disse.

Ela contou um pouco da experiência vivida nos últimos dias:

As famílias

"Tinha mães chorando. As famílias budistas levaram monges de confiança deles, que organizavam cerimônias. Os parentes passam o dia perto da caverna, esperando e rezando. Havia uma família cristã também, passei um tempo com eles. Uma mãe me disse que tinha esperança de que o filho dela sairia". 

Cavernas

"É tudo muito organizado. Tem comida, banheiros químicos e macas para os pais dormirem. Montaram um posto de saúde também. É um trabalho intenso, com equipes, jornalistas, autoridades circulando 24 horas por dia. O governador vai toda hora falar com os familiares e dar a eles as primeiras notícias".

Voluntários

"Ajudei uma oficial da Força Aérea dos EUA, Jessica Tait, a se comunicar com os tailandeses. Ela trabalhou na estratégia de acesso à caverna. Era a única mulher na equipe, muito doce e simpática. Também ajudei jornalistas. Era a única brasileira como voluntária. Havia também tailandeses que falavam chinês, alemão e inglês. Eram cerca de 1.800 pessoas na operação: gente trabalhando com comida, segurança, saúde, procurando entradas para a caverna".

 

Surpresa

"Me surpreendeu o anúncio, às 22h30 (hora local) da segunda [dia 2]: 'Nós o encontramos e estão todos vivos!'. Foi muito emocionante, o povo se abraçava e chorava. Todos respiravam aliviados. Não só as famílias, as equipes também".  

Paciência

"Os tailandeses são muito tranquilos. Acho que as famílias brasileiras iriam cobrar mais, porque de fato demorou. Mas não era a intenção. Para chegar onde os garotos estavam, são cinco horas andando e mergulhando. Tinha muita chuva, muita água". 

História de cinema

"Me comoveu a repercussão toda. Foi a primeira vez que aconteceu algo assim aqui. A pressão da mídia é muito forte, mas é todo mundo muito paciente e equilibrado. Na frente da caverna, faziam rodízio para dormir e trabalhar. Em um estádio de futebol, cristãos se reuniram para rezar. Vai virar filme, com certeza".

 
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