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Putin janta Trump, mas pode haver surpresas positivas

Republicano parece ter decidido ir para o tudo ou nada contra críticos

Os presidentes Donald Trump (esq) e Vladimir Putin se cumprimentam no começo de reunião no Palácio Presidencial em Helsinque, na Finlândia - Pablo Martinez Monsivais/Associated Press
Igor Gielow
Moscou

Se você for americano, a conclusão óbvia sobre a reunião de cúpula entre os presidentes Donald Trump e Vladimir Putin é a de que o republicano foi jantado pelo russo.
 
É verdade, e também algo previsível. Mas nem tudo é necessariamente má notícia, e não só do ponto de vista do Kremlin.
 
A partir do momento em que Trump seguiu o roteiro de confrontar os aliados europeus na reunião da Otan e na visita ao Reino Unido, seu tuíte culpando os EUA pelo estado deplorável da relação entre as duas potências nucleares foi apenas lógico.
 
O americano decidiu dobrar a aposta contra a pressão interna que sofre devido à acusação de conluio entre sua campanha em 2016 e Moscou.
 
É um risco e tanto, não menos porque o fez de uma forma inédita: alinhando-se a um rival geopolítico declarado contra informações de seu próprio serviço de inteligência.
 
O problema com Trump é que nunca se sabe a reviravolta do dia seguinte. Considerando o estado das coisas nesta segunda (16), ele jogou sete décadas de concerto geopolítico ocidental no lixo.
 
Para Putin, não poderia ser melhor. Apesar do pequeno duelo simbólico sobre quem chegava depois ao lugar do encontro, o russo venceu com folga a parte pública da cúpula.
 
O isolamento diplomático de Putin está longe do fim, mas o encontro lhe abriu uma janela de oportunidade que nenhuma final de Copa do Mundo em casa poderia fornecer.
 
Não é o caso de comparar a legitimação dada por Trump ao norte-coreano Kim Jong-un: Putin lidera um Estado que pode não ser uma democracia ocidental, mas certamente não é uma obscura dinastia stalinista com algumas bombas.
 
É possível, contudo, fazer um paralelo na atitude do americano, de desprezar aliados e ir confraternizar-se com adversários no momento seguinte.
 
É uma opção. A questão é que não é apresentada pelo mercurial líder a alternativa ao fim da política ocidental como a conhecemos. Aparentemente, ela não existe, e isso terá um preço.
 
De todo modo, é no segmento reservado da cúpula, cujos detalhes irão emergir aos poucos, que se poderá encontrar algo de maior substância e talvez até positivo.
 
Não é má notícia que os titulares de quase 9.000 ogivas nucleares se sentem para conversar.
 
A deterioração das relações de 2008 para cá, agudizada com a anexação da Crimeia em 2014 e a crise do ex-espião envenenado neste ano, trazia perigos, como o fato de ambas as potências estarem em campo na Síria.
 
Como previsto, Putin não piscou quando falaram das diferenças em relação à Crimeia. “Ponto”, decretou, ao reafirmar que considera legal a absorção.

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