Cantor da Revolução Sandinista deixa Nicarágua por temer represália

Carlos Mejía Godoy faz parte da onda de nicaraguenses que buscaram refúgio na Costa Rica

O cantor nicaraguense Carlos Mejía Godoy, em Manágua (Nicarágua) - Diana Ulloa - 20.jun.18/AFP
São Paulo

O cantor e compositor Carlos Mejía Godoy, 75, se somou à onda de nicaraguenses que fugiram da repressão do governo Daniel Ortega e buscaram refúgio na vizinha Costa Rica, afirmou neste sábado (4) o jornal local La Prensa. 

“Tinha de sair da Nicarágua porque minha vida estava em perigo", afirmou Mejía, que se dedicou nos últimos três meses a compor canções para as vítimas do governo Ortega.

"Tive de sair sem avisar ninguém, de maneira emergencial. Me recomendaram que abandonasse o país o quanto antes."

Durante os anos 1970 e 1980, Mejía era "o cantor" da Revolução Sandinista, coliderada por Ortega. Ele compôs não apenas o hino sandinista, La Consigna, como outras músicas pró-revolução, como Nicaragua Nicaraguita e Las mujeres de Cua. 

Mas, desiludido, ele mudou o tom após a reeleição de Ortega em 2006.

Em uma carta aberta ao presidente, Mejía escreveu: "Daniel, para com este genocídio agora. Pare com essa barbaridade. Pare de matar. Já".

"Meus problemas de segurança são os mesmos que têm todos aqueles que lutamos pela paz na Nicarágua", afirmou ainda ao La Prensa. 

Em entrevista ao jornal espanhol El Pais no mês passado, disse, chamado Ortega de "o apocalipse": "Vivemos em um país onde a vida não vale nada, mas as pessoas devem continuar lutando nas ruas".

Relatório da Comissão Interamericana de Direitos Humanos, ligada à OEA, chamou atenção nesta semana para a fuga de nicaraguenses do país em consequência da violência, com destino principalmente a Costa Rica, Honduras, Panamá e EUA.

Segundo o Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados (Acnur), a Costa Rica registra em média 200 pedidos de asilo por dia e, desde abril, já recebeu cerca de 8.000 solicitações do tipo.

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