Descrição de chapéu

Cosmopolita, Kofi Annan foi garoto-propaganda da nova África

Seu período como secretário-geral da ONU coincidiu com momento de otimismo na África

São Paulo

Das inúmeras vezes em que se anunciou a “Renascença Africana”, a mais festejada foi a da segunda metade dos anos 1990. Nela, Kofi Annan (1938-2018) foi personagem central.

Close de Kofi Annan, de terno cinza, diante da bandeira da ONU
Kofi Annan na sede da ONU em Genebra, em 2012, quando ela relator especial do organismo para a Síria - Denis Balibouse - 8.mai.12/Reuters

O ganense era desconhecido ao assumir o maior posto da diplomacia mundial, primeiro representante da África negra a chegar ao cargo. Que sua ascensão tenha acontecido três anos após a eleição de Nelson Mandela na África do Sul não poderia ser obra do acaso. Algo de muito significativo estava ocorrendo no continente, ou ao menos era a percepção da época.

Annan era suave e aristocrático, distante das grotescas imagens de líderes africanos como Mobutu Sese Seko (1930-97) e seu chapéu de leopardo ou Jean Bedel-Bokassa (1921-96) e sua coroação como Imperador Centro-Africano.

Seu período como secretário-geral da ONU (1997-2007) coincidiu com um momento de otimismo na África, marcado pela redução das guerras civis e aumento das democracias, ainda que modesto. Sua Gana natal ainda é modelo de estabilidade no continente.

Essa figura de garoto-propaganda do novo homem africano era mais complexa, contudo. Annan trazia também em sua biografia a associação com o genocídio de Ruanda, em 1994.

Chefe do Departamento de Operações de Paz da ONU na época, foi acusado de negligenciar os sinais de que um massacre de 1 milhão de pessoas estava por vir. Mais tarde, Annan admitiu as falhas da entidade e a sua própria.

O genocídio permaneceu como uma sombra sobre seu período como secretário-geral, e iniciativas futuras foram vistas como tentativas de expiar parte dessa culpa. Quando Annan apresentou, em 2005, o conceito da “responsabilidade de proteger”, pelo qual a soberania dos Estados não pode ser usada como escudo para a perseguição a seus cidadãos, a relação com o trauma de Ruanda foi imediata.

Seu outro grande legado foram os Objetivos do Milênio, conjunto de medidas para reduzir a pobreza global. O fato de ser originário do continente mais pobre do planeta deu a ele autoridade moral para defender o projeto.

Não é por ter sido africano que Annan será lembrado como um dos maiores secretários-gerais da ONU. Mas seu trabalho talvez

A vida de Annan

Nasce em Kumasi (Gana), em 8 de abril de 1938

Após estudar economia, entra na Organização Mundial da Saúde, em 1962, e passa a atuar em agências da ONU, entre elas o Acnur (refugiados)

Torna-se mestre em administração no MIT, nos EUA, em 1972

Coordena a repatriação de membros da ONU e cidadãos ocidentais do Iraque após a invasão do Kuwait, em 1990

Como secretário-geral-adjunto para as operações de paz da ONU não evita o genocídio de Ruanda (1994) e a guerra na Bósnia (1995)

Assume, em 1º de janeiro de 1997, como secretário-geral da ONU. É reeleito para o segundo mandato, iniciado em 2002

Publica as bases dos Objetivos do Milênio em 2000

Recebe, em 2001, o prêmio Nobel da Paz, ao lado da ONU

Suspeito de tráfico de influência no programa Petróleo por Comida, no Iraque, é investigado e inocentado em 2005

Fora da ONU, cria a Fundação Kofi Annan em 2007

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