El Salvador deixa de ter relações com Taiwan e transfere fidelidade à China

País, considerado província rebelde por Pequim, já perdeu três aliados neste ano

Taipei e Pequim | Reuters

Taiwan prometeu na terça-feira (21) combater o comportamento "cada vez mais descontrolado" da China depois que Taipei perdeu mais um aliado para Pequim, quando El Salvador se tornou o terceiro país neste ano a transferir sua fidelidade à China.

Salvadorenho protesta contra a decisão de El Salvador de deixar de reconhecer Taiwan em San Salvador
Salvadorenho protesta contra a decisão de El Salvador de deixar de reconhecer Taiwan em San Salvador - José Cabezas/Reuters

Taiwan tem hoje relações formais com apenas 17 países no mundo, muitos deles pequenos e pouco desenvolvidos da América Central e do Pacífico, como Belize e Nauru.

Falando em Taipei, a presidente Tsai Ing-wen disse que Taiwan não cederá à pressão, descrevendo a decisão de El Salvador como mais uma evidência dos esforços da China para pressionar a ilha, que incluíram patrulhas regulares de bombardeios ao redor de Taiwan. 

"Vamos recorrer a países com valores semelhantes para combatermos juntos o comportamento cada vez mais descontrolado da China", disse Tsai.

O ministro das Relações Exteriores de Taiwan, Joseph Wu, disse a repórteres mais cedo que Taipei não está disposta a se envolver em "competição monetária" com seu vizinho gigante.

Ele disse que El Salvador havia pedido constantemente um "enorme apoio financeiro" desde o ano passado para a construção de um porto, mas Taiwan não pôde ajudar no "projeto inadequado" depois de uma avaliação. 

"A pressão da China só tornaria Taiwan mais determinada a continuar em nosso caminho para a democracia e a liberdade", disse ele. "O comportamento rude e irracional da China certamente terá impactos negativos nas relações através do estreito. Não é assim que um país responsável deve se comportar."

Pequim considera Taiwan uma província rebelde da "China unida", sem direito a relações de Estado para Estado, e nunca renunciou ao uso da força para colocar a ilha sob seu controle.

Em Pequim, o principal diplomata do governo chinês, o conselheiro de Estado Wang Yi, disse que El Salvador tomou a decisão certa. 

"Estou confiante que a população de El Salvador sentirá o calor e a amizade do povo chinês e extrairá benefícios tangíveis de sua cooperação com a China", disse Wang a repórteres ao lado de seu homólogo salvadorenho, Carlos Castaneda, pouco depois que os dois assinaram um acordo.

Oportunidades

O presidente de El Salvador, Salvador Sanchez Ceren, anunciou em um discurso transmitido pela televisão que seu governo rompeu relações diplomáticas com Taiwan e estabeleceu laços com a China. 

Sanchez Ceren disse que o país centro-americano, que construiu ligações com o governo da República da China em 1933, terá "grandes benefícios" e "oportunidades extraordinárias" no novo relacionamento com Pequim. 

O nome formal de Taiwan é República da China, cujo governo fugiu para Taiwan em 1949 depois de perder a guerra civil para os comunistas.

"Estamos convencidos de que este é um passo na direção certa que corresponde aos princípios do direito internacional e às tendências inevitáveis de nossa época", disse Sanchez Ceren.

Em Pequim, Castaneda disse que foi uma decisão estratégica que seu governo tomou para "criar condições de mudar a posição histórica de nosso país e realmente elevar as condições de vida de nossa população". 

Taiwan acusou a China de atrair seus amigos oferecendo generosos pacotes de ajuda. A China nega. 
A notícia surge enquanto Tsai preparava uma viagem de alto nível à América Latina, incluindo escalas nos EUA, que atraíram a ira da China. 

"A China não conseguirá a unificação com Taiwan atraindo nossos aliados. O que a China fez foi humilhar Taiwan repetidamente, sem obter o respeito do povo de Taiwan", escreveu em um comunicado o Partido Progressista Democrático, que governa a ilha.

El Salvador é o quinto país que Taiwan perde como aliado diplomático desde que Tsai chegou ao poder, em 2016, depois de Burkina Fasso, República Dominicana, São Tomé e Príncipe e Panamá. 

Amanda Mansour, porta-voz da embaixada dos EUA em Taiwan, disse à agência Reuters em comunicado que os esforços da China são "nocivos" e minaram "o esquema que permitiu a paz, a estabilidade e o desenvolvimento durante décadas". 

"Os EUA pedem que a China se abstenha da coerção que ameaçaria a segurança, ou o sistema social e econômico, da população de Taiwan", escreveu ela. 

A embaixadora dos EUA em El Salvador, Jean Manes, escreveu em rede social que os EUA estão analisando a decisão "preocupante" de El Salvador de romper relações com Taiwan.

"Sem dúvida isso impactará nossas relações com o governo [salvadorenho]. Continuamos apoiando a população de El Salvador", escreveu ela. 

Antes da cúpula no próximo mês entre a China e líderes africanos em Pequim, a China também tem aumentado a pressão sobre o último aliado de Taiwan no continente, eSwatini, antes conhecido como Suazilândia, para vir para o lado da China, segundo fontes diplomáticas.

"Esperamos que o país relevante possa ver claramente a tendência mundial", disse em uma entrevista coletiva o porta-voz do Ministério das Relações Exteriores chinês, Lu Kang, quando perguntado se eSwatini participaria da cúpula. 

A hostilidade da China com Taiwan aumentou desde a eleição de Tsai, pois Pequim teme que ela pressione pela independência formal da ilha, uma linha vermelha para a China. Ela diz que quer manter a situação atual, mas defenderá a democracia em Taiwan.

Tradução de Luiz Roberto Mendes Gonçalves

Tópicos relacionados

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.