Descrição de chapéu Venezuela

Em busca de trabalho, indígenas venezuelanos vão a garimpo no Pará

Grupo de 25 waraos passou por Manaus, Santarém e Altamira e tem dificuldade para se manter

Fabiano Maisonnave
Itaituba (PA)

Em busca de trabalho no garimpo, um grupo de 25 venezuelanos da etnia warao está há 11 dias na isolada Jacareacanga (PA), a 1.695 km a sudoeste de Belém.

Antes de chegar à cidade de 14 mil habitantes, o grupo já havia passado por Manaus, Santarém (PA) e Altamira (PA), de onde viajaram de ônibus até Jacareacanga, um percurso de 877 km pela rodovia Transamazônica, quase toda de terra.

Um dos membros do grupo, Freddy Rattia, disse à Folha, por telefone, que eles se mudam de cidade em busca de trabalho mas que têm sido enganados e roubados. “Os brasileiros são mentirosos”, afirma ele.

Venezuelanos da etnia warao em abrigo em Pacaraima, em Roraima; muitos deles foram para o Pará
Venezuelanos da etnia warao em abrigo em Pacaraima, em Roraima; muitos deles foram para o Pará - Mauro Pimentel - 21.ago.2018/AFP

Em Jacareacanga, ele outro warao foram trabalhar no garimpo, mas desistiram após três dias.

“O trabalho é bom, mas o pagamento é ruim. Estamos sofrendo muito”, afirmou Rattia.

O warao afirma que, de início, trazia artesanato de palha da Venezuela para vender no Brasil, mas desistiu após ter os produtos três vezes confiscados na fronteira pelo Exército.

Em Jacareacanga, os waraos foram a uma aldeia da etnia mundurucu, a cerca de 20 minutos de barco da cidade, mas houve resistência de parte dos moradores locais. Agora, dormem no alojamento da Associação Indígena Pusuru.

“A associação recebeu os indígenas venezuelanos de braços abertos, mas não pode autorizar a entrada na área mundurucu”, diz Adaisio Munduruku, coordenador da Pusuru. “A gente não decide sozinho, temos de consultar todos os caciques e todas as aldeias.”

De acordo com Adaisio, uma edição recente sobre a região do programa Profissão Repórter, da Rede Globo, tem atraído pessoas ao território mundurucu, onde funcionam garimpos ilegais, quase todos financiados por não-indígenas.

“O garimpo não traz benefícios para os mundurucus em geral, mas apenas para algumas pessoas”, afirma a liderança.

Em Jacareacanga, os waraos estão em situação precária, relata Adaisio. “Eles estão pedindo dinheiro na rua, com placa. Comem arroz e bolo de trigo assado no fogo.”

Os waraos são do Delta Amacuro, no nordeste da Venezuela (a cerca de 1.800 km de Manaus por estrada), e têm procurado o Brasil para fugir da fome.

No começo, os waraos se concentraram em Pacaraima (Roraima), na fronteira, mas logo se espalharam por Manaus, Belém e Santarém.

A principal comunidade é na capital amazonense, onde cerca de 200 waraos vivem em dois abrigos administrados pela prefeitura. Na Venezuela, a etnia tem cerca de 49 mil pessoas.

Depois de Boa Vista, Manaus é a cidade do país que mais recebe venezuelanos. Só nos quatro primeiros meses deste ano, houve mais solicitações de refúgio à Polícia Federal na capital amazonense do que em 2017 inteiro (3.500 pedidos, contra 2.780).

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