Ex-servidores kirchneristas e empresários são presos acusados de corrupção

Cristina é convocada a depor sobre desvio de dinheiro de obras públicas para pagar propina

De casaco azul e calça jeans e de pé diante de um microfone, Cristina acena de um palco central para seus seguidores, que aparecem abaixo gravando a cena com celulares. Ao fundo, a divisão das arquibancadas do estádio onde ela fala tem uma faixa com as cores da bandeira argentina.
A ex-presidente Cristina Fernández de Kirchner, em campanha em julho de 2017; ela foi convocada a prestar depoimento sobre propina de construtoras - Victor R. Caivano - 20.jun.17/Associated Press
Sylvia Colombo
Buenos Aires

Foram presos nesta quarta-feira (1º), a pedido da Justiça argentina, mais de dez ex-funcionários e pessoas vinculadas aos governos de Néstor e Cristina Kirchner (2003-2015), supostamente ligadas a uma rede de corrupção que tinha como objetivo desviar dezenas de milhares de dólares que seriam destinados de obras públicas.

As prisões foram decretadas depois da descoberta de oito pequenos cadernos em que Óscar Centeno, ex-funcionário de Julio De Vido, ministro do Planejamento no período kirchnerista, havia mantido com nomes, valores e descrição das transações.

De Vido já está preso por outro processo de corrupção. Entre os que foram presos hoje estão Roberto Baratta, mão direita de De Vido, o próprio Centeno, que disse ter mantido os diários para se proteger, os diretores da empresa Electroingenería, Luis Neyra e Gerardo Ferreyra, o empresário Héctor Sánchez Caballero, da construtora Iecsa.

À época a empreiteira pertencia a Angelo Calcaterra, primo do atual presidente, Mauricio Macri, e realizava obras em parceria com o governo kirchnerista e outros nomes. Ele também citado nas delações da Odebrecht 

O juiz responsável pela causa, Claudio Bonadio, afirmou que as prisões devem seguir nos próximos dias. Também foram convocados a dar esclarecimentos a ex-presidente Cristina Kirchner, hoje senadora, seu ex-chefe de gabinete Juan Manuel Abal Medina e seu ex-chefe de inteligência, Oscar Parrilli.

Os chamados cadernos da corrupção, como foram apelidados pela imprensa argentina, registram uma suposta movimentação de US$ 56 milhões. Já o juiz Bonadio diz que sua investigação calcula um total de cerca de US$ 160 milhões em desvios de verba pública, durante todo o período.

Parte dos cadernos, que Centeno começou a escrever em 2003, foi revelada pelo jornal La Nación. Nele, o funcionário, que atuava como motorista, se autoproclamava o carregador de malas, coletando e entregando as somas que descreve minuciosamente, à mão, nesses cadernos.

Estão ali rotas, nomes, quantias levadas de um destino a outro, assim como alguns bastidores do dia a dia do governo.

Os cadernos de Centeno anotaram todas as viagens feitas para levar e trazer dinheiro em seu Toyota Corolla.

Entre os casos famosos que figuram nas anotações estão o endereço do convento de freiras onde o funcionário José Lopez, hoje preso, guardou US$ 9 milhões.

Além disso, traça todas as entregas feitas na Quinta de Olivos quando Néstor Kirchner foi presidente (2003-2007) e na residência dos Kirchner em Buenos Aires. O que não podia ser entregue diretamente, era levado ao secretário particular dos ex-presidentes, Daniel Muñoz.

Também quatro empresários do ramo da construção estão sendo buscados pela polícia: Francisco Valenti, Oscar Thomas, Carlos Wagner e Juan Carlos de Goicochea. 

A polícia divulgou informe no fim do dia em que contou que a operação para realizar todas as prisões de hoje de maneira simultânea foi armada durante 40 dias, com um esquema de monitoramento dos suspeitos e sem uso de mensagens de texto e e-mail. 

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