Descrição de chapéu Venezuela

Falta de água obriga hospital a cancelar cirurgias na Venezuela

Crise de abastecimento afeta 75% dos moradores de Caracas e preocupa médicos

Caracas | Reuters

Em um dos maiores hospitais públicos de Caracas, a maioria dos banheiros está fechada. Pacientes enchem garrafas em uma torneira minúscula no térreo que às vezes só tem um fio de água. Cirurgias são adiadas ou canceladas.

O hospital da Universidade Central da Venezuela, que chegou a ser um líder latino-americano, sofre com a falta de água nas torneiras.

"Fui ao bloco de operação e abri a torneira para lavar as mãos, como é preciso fazer antes de uma cirurgia, e não saiu nada", disse a ginecologista Lina Figueria.

Os cortes de água são o acréscimo mais recente a uma longa lista de aflições dos venezuelanos, que atravessam o quinto ano de uma crise econômica que desencadeou desnutrição, hiperinflação e emigração.

Os problemas da rede de abastecimento de água devido à falta de manutenção se agravaram nos últimos meses, privando de água encanada constante muitos dos 3 milhões de habitantes da cidade.

Caracas se localiza em um vale cerca de 900 metros acima do nível do mar, e sua água é bombeada de fontes muito mais baixas —mas as bombas não estão sendo cuidadas, peças de reposição são raras e o governo do ditador Nicolás Maduro está com pouco dinheiro em caixa.

"Durante muitos anos esse processo de deterioração não foi perceptível. Mas agora os sistemas de transporte de água estão muito danificados", disse José De Viana, ex-presidente da Hidrocapital, prestadora de serviços estatal a cargo do abastecimento de água de Caracas.

O chavismo costuma dizer que a falta de água é resultado da sabotagem de "terroristas da direita".

Em julho o ministro da Informação, Jorge Rodríguez, anunciou um "plano especial" para resolver os problemas, mas não deu detalhes. O Ministério da Informação e a Hidrocapital não responderam a um pedido para informações.

A falta de água e torneiras que às vezes liberam um líquido marrom têm provocado preocupações em relação à saúde em um país carente de vacinas e antibióticos básicos.

Cerca de 75% dos moradores de Caracas não recebem água regularmente, segundo uma pesquisa publicada neste mês por duas organizações não governamentais venezuelanas.

Cerca de 11% disseram acreditar que a água suja lhes causou problemas estomacais e de pele. A pesquisa não tem cifras comparativas.

As consequências médicas são difíceis de avaliar, já que o Ministério da Saúde não libera mais dados uma vez por semana, mas médicos dizem que casos de sarna e diarreia estão aumentando.

A escassez de água também tornou algumas atividades básicas diárias insustentáveis. Moradores pobres afirmam que tomam menos banhos.

No bairro de baixa renda de Catia, a professora universitária Mariangela Gonzalez, 64, tem 127 garrafas, botijões e potes entupindo a entrada de sua casa.

"Quando a água chega, temos que correr", disse Gonzalez.

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