Fundadora das Avós da Praça de Maio morre sem reencontrar neta

Chicha Mariani tinha 95 anos e se tornou símbolo da luta contra a ditadura argentina

Buenos Aires | AFP

María Isabel 'Chicha' Chorobik de Mariani, uma das fundadoras do grupo Avós da Praça de Maio, morreu nesta segunda-feira (20), aos 95 anos, sem reencontrar a neta Clara Anahí, um caso emblemático dos bebês roubados na ditadura argentina (1976-1983).

"Nos despedimos com enorme tristeza de quem foi companheira das Avós e atual presidente da Fundação Clara Anahí. Uma mulher fundamental no início da busca dos meninos e meninas apropriados pelo terrorismo de Estado e um símbolo da luta pelos direitos humanos", afirma um comunicado divulgado pela organização humanitária.

Chicha Mariani foi uma das 12 fundadoras, em 1977, da entidade e sua presidente até 1989, quando se afastou para criar a Fundação Clara Anahí, com o objetivo de buscar sua neta. Foi sucedida nas Avós da Praça de Maio por Estela de Carlotto, que coordena o grupo até hoje.

Mariani sofreu um acidente vascular cerebral no último dia 7 e não se recuperou. O funeral acontecerá em La Plata, 60 km ao sul de Buenos Aires, onde ela morava e onde fica a sede da fundação.

O caso Clara Anahí é emblemático e ficou conhecido no mundo todo depois da divulgação de cartas abertas que Mariani escreveu à neta.

Em 24 de novembro de 1976, Clara Anahí, de três meses, foi sequestrada por um policial depois que sua mãe, Diana Teruggi, foi assassinada junto com outros três militantes do grupo guerrilheiro de esquerda Montoneros durante uma busca policial em sua casa de La Plata.

Daniel Mariani, o filho de Chicha, que não estava em casa nesse dia, foi morto a tiros oito meses depois.

Uma foto de Clara Anahí bebê foi replicada durante décadas a cada aniversário da menina, que hoje teria 41 anos.  

Dezenas de mensagens nas redes sociais publicadas nesta terça-feira (21) expressam "tristeza e dor" pelo falecimento de Chicha Mariani.

Em 24 de dezembro de 2015, a notícia do suposto aparecimento de Clara Anahí comoveu a opinião pública argentina, quando uma mulher se aproximou da fundação dizendo que era a neta, com um comprovante positivo de um laboratório privado. Este exame, contudo, foi rapidamente descartado por duas análises genéticas oficiais, em um golpe brutal para Chicha, que já passava dos 90 anos.

"Aos 91 anos minha vontade é de te abraçar e me reconhecer no seu olhar, gostaria que você viesse até mim. É esse desejo que me mantém de pé para que finalmente a gente se encontre", escreveu Chicha meses antes.

Durante muitos anos, ela esteve convencida de que sua neta era Marcela Noble, a filha adotiva de Ernestina de Noble, a falecida dona do grupo de mídia Clarín. Ela fez a afirmação em 2010 durante um julgamento do ex-ditador Jorge Videla. No entanto, os resultados genéticos deram negativo.

O grupo das avós estima em 500 o número de crianças roubadas durante a ditadura. Dessas, 128 foram localizadas, a maioria com vida, e recuperaram sua identidade. O último caso foi anunciado em 3 de agosto passado.

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