Há evidências de que Vaticano sabia de acobertamento, diz procurador

Afirmação é reação a carta de arcebispo que acusa papa Francisco de saber de abusos

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Papa Francisco a bordo do avião que o levou de volta ao Vaticano após visita à Irlanda - Gregorio Borgia - 26.ago.18/Associated Press
São Paulo

O Vaticano tinha conhecimento dos abusos sexuais cometidos por padres e acobertados acobertados pela igreja na Pensilvânia, afirmou nesta terça-feira (28) o procurador do estado, Josh Shapiro. Ele evitou, porém, estender as acusações ao papa Francisco.

“Não posso falar especificadamente sobre o papa Francisco”, afirmou Shapiro, em entrevista à rede de televisão NBC. “Temos evidências de que o Vaticano tinha conhecimento do acobertamento”, disse, sem detalhar quais seriam essas provas.

Greg Burke, representante do Vaticano, afirmou que, para se manifestar, precisava, antes, conhecer mais detalhes sobre as evidências.

O novo capítulo do escândalo de abusos sexuais cometidos durante sete décadas por 301 "padres predadores" contra mais de mil menores versou sobre as supostas evidências de que o Vaticano tinha ciência do que ocorria nas dioceses da Pensilvânia e dos esforços para evitar que isso viesse a público

Shapiro afirmou que 23 investigadores se debruçaram durante dois anos sobre documentos que descreviam os ataques. Desse esforço saiu um relatório de quase 1.360 páginas que aponta “que havia não apenas abuso sexual, estupro de crianças, mas um acobertamento sistemático que chegava até o Vaticano”.

“O que foi profundamente assustador sobre isso é que líderes da igreja mentiam para os paroquianos no domingo, mentiam para o público”, afirmou. “Eles blindavam esses predadores contra as forças da lei, mas documentavam tudo e colocavam num arquivo secreto.”

Por causa do tempo transcorrido entre os abusos e a investigação, muitos padres e líderes religiosos que acobertaram os casos não podem ser processados, lembrou Shapiro.

“Nós devolvemos às vítimas suas vozes, permitimos que elas tivessem suas verdades compartilhadas, e nós sabemos que, ao compartilharem suas verdades, outras vítimas vão aparecer e compartilhar suas verdades.”

Shapiro afirmou que, desde a divulgação do relatório, uma linha especial para receber denúncias de abuso clerical registrou mais de 730 ligações. O procurador afirmou que os investigadores estão em contato com cada uma dessas pessoas.

Depois da entrevista, um porta-voz de Shapiro ressaltou que os únicos documentos públicos são os que constam do relatório e que fazem menção ao suposto conhecimento do assunto por parte do Vaticano. “Todo o restante permanece selado pelo grande júri”, afirmou Joe Grace.

Na entrevista desta terça, o procurador comentava uma carta publicada no domingo pelo arcebispo Carlo Viganò, ex-embaixador do Vaticano nos EUA. No documento, ele acusava o papa de acobertar desde 2013 acusações de abuso sexual atribuídas ao ex-cardeal Theodore McCarrick.

A carta caiu como uma bomba na comunidade católica e gerou reações entre defensores e detratores do papa, com a ala mais conservadora da igreja cerrando fileira em torno de Viganò.

Nesta terça, em comentário no site Religion News Service, o padre Thomas Reese disse que, mesmo deixando de lado as acusações do arcebispo, o papa precisa dar uma resposta melhor ao escândalo.

Reese é analista sênior do portal e vaticanista experiente. No comentário, ele lembrou que é muito fácil menosprezar Viganò e tratá-lo como um funcionário insatisfeito.

Viganò teve rejeitada uma função que buscava durante o papado de Bento 16. Ele queria ser nomeado presidente para o estado da Cidade do Vaticano, cargo que costuma alçar o ocupante a cardeal no futuro.

Em vez disso, foi enviado aos Estados Unidos como núncio papal, ou seja, representante do Vaticano.

Com a eleição de Francisco para substituir Bento 16, o descontentamento do arcebispo aumentou, quando ele viu várias de suas recomendações para o bispado serem rejeitadas.

No texto, Reese lançou dúvidas sobre Viganò. Segundo o vaticanista, durante procedimentos legais realizados contra a arquidiocese de St. Paul e Minneapolis, foi descoberta uma carta de 2014 escrita por ele em que dizia a um bispo auxiliar para restringir a investigação contra um arcebispo local e destruir as evidências.

Na carta em que acusa o papa Francisco de ter conhecimento de abusos cometidos pelo cardeal Theodore McCarrick, Viganò também cita atuais e antigos funcionários no Vaticano com os quais, segundo Reese, ele também tinha conflitos.

 
  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Tópicos relacionados

Leia tudo sobre o tema e siga:

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.