Movimento argentino prega desfiliação da Igreja Católica

Coalizão pelo Estado laico ganha atenção após votação do direito ao aborto

Lenço pelo Estado laico em poste de Buenos Aires
Lenço pelo Estado laico em poste de Buenos Aires - Natacha Pisarenko/Associated Press
Sylvia Colombo
Buenos Aires

Uma associação que prega a desfiliação à Igreja Católica argentina desde 2009, a Cael (Coalizão Argentina pelo Estado Laico), pegou carona nas manifestações a favor do projeto de lei para permitir o aborto, derrubada dia 8 passado pelo Senado, para promover sua própria causa.

O ambiente de protesto nas principais cidades do país e os lenços coloridos adotados (verdes pela lei e azuis contra) deram impulso a um terceiro lenço: o laranja, criado pela Cael, cuja bandeira é a separação entre Igreja e Estado —garantida na Constituição mas nem sempre respeitada.

A Cael também reivindica submeter religiosos que abusem de crianças à Justiça comuns, tirar sinais católicos de locais públicos, cobrar impostos às igrejas católicas e, agora, recolocar o projeto de lei para permitir o aborto até a 14ª semana aprovado na Câmara.

Em seu site, orienta os fieis a preencher um formulário e entregá-lo à paróquia que os batizou. A Igreja, porém, lembra que o Vaticano só aceita a saída de suas filas pela excomunhão. Em resposta, a organização sugere aos pais adiar o batismo para que o indivíduo tenha chance de decidir.

A Cael convocou para sábado passado (18) seu primeiro evento público. Nele, juntou centenas de pessoas em Buenos Aires, distribuiu formulários, orientou o preenchimento e ofereceu lenços laranjas (já à venda durante os protestos e votações no Congresso).

Iniciou, também, uma pequena marcha com brados como "não em meu nome" e "não pedi para ser parte disso". Seus membros pedem "apostasia coletiva" em resposta à "intolerância da Igreja com relação ao tema do aborto e os abusos de padres pedófilos".

Para Paola Rafetta, uma dirigente da Cael, "a maioria dos argentinos é católica não praticante, e não se preocupava antes com o que significava pertencer a essa Instituição".

"Houve então duas viradas, uma ao se descobrir, após a ditadura (1976-1983), que a Igreja foi cúmplice", diz. "A segunda é agora, com as garotas do movimento feminista e com a divulgação constante dos casos dos padres pedófilos em vários países da região."

A Cael recolheu no sábado 1.200 assinaturas, o que levou os organizadores a prepararem eventos similares em outras cidades grandes como Córdoba, Rosário e Salta a partir deste fim de semana.

A entidade recebeu apoio de algumas alas das Mães e Avós da Praça de Maio, que têm enviado petições ao Vaticano pela abertura de seus arquivos à investigação do paradeiro dos desaparecidos da ditadura e seus netos entregues a outras famílias.

Apesar de a Igreja dizer que não receberá os formulários, a Cael prometem apelar à ONU, que em um de seus pactos diz que o Estado não pode impor a seus cidadãos uma religião.

Tópicos relacionados

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.