Nicarágua ordena expulsão de missão da ONU que escreveu relatório crítico a Ortega

Conselho de Segurança da ONU deve discutir a situação no país centro-americano em 5 de setembro

Manágua | Associated Press, AFP e Reuters

O governo da Nicarágua ordenou nesta sexta-feira (31) a expulsão de uma equipe de direitos humanos da ONU dois dias depois da publicação de um relatório em que critica o ditador Daniel Ortega pela repressão a oposicionistas.

"Considerando que acabaram as razões, as causas e as condições que deram origem ao convite [à missão da ONU], este ministério comunica que dá por concluído o convite e finalizada a visita a partir de hoje, 30 de agosto de 2018", afirma carta do Ministério das Relações Exteriores da Nicarágua. 

A carta foi assinada pelo chanceler Denis Moncada e dirigida à diretora do Alto Comissariado de Direitos Humanos da ONU na América Central, Marlene Alejos, com cópia ao comissário Zeid Ra' ad Al Hussein. 

É dado um prazo de duas horas para que a delegação, liderada por Guillermo Fernández Maldonado, deixe o país.

De acordo com um membro da equipe, o Conselho de Segurança da ONU deve discutir a situação na Nicarágua no próximo dia 5 de setembro.

"Esta insólita decisão inoportuna e reflete o ânimo de uma pessoa que se sente completamente perdida, que já não pode ocultar suas responsabilidades e seguir ocultando a verdade", disse a presidente do  Centro Nicaraguense de Direitos Humanos (CENIDH), Vilma Núñez, referindo-se a Ortega.

O relatório, divulgado na última quarta-feira (29) pelo Alto Comissariado de Direitos Humanos da ONU descreve um esforço de repressão abrangente por parte do governo e insta Ortega a interromper imediatamente as perseguições dos manifestantes e a desarmar os civis armados responsáveis por muitas das mortes e das detenções arbitrárias no país centro-americano. 

O governo respondeu que o relatório era tendencioso e não considerava que as ações ocorriam dentro de um contexto de uma tentativa de golpe de Estado contra Ortega. 

repressão aos protestos deixou pelo menos 317 mortos entre 18 de abril e 30 de julho, inclusive civis e menores de idade.

No sábado passado (25), a documentarista brasileira Emilia Mello foi detida e depois deportada do país após ser presa enquanto ia para um protesto na cidade de Granada.

O relatório cita detenções ilegais, tortura e julgamentos a portas fechadas. Médicos, professores e juízes que se posicionaram ou protestaram foram demitidos de suas funções para desencorajar pessoas de participar ou apoiar os protestos. 

"O nível de perseguição é tal que muitos daqueles que participaram nos protestos, defenderam os direitos dos manifestantes ou simplesmente expressaram opiniões dissidentes foram forçados a se esconderem, deixaram a Nicarágua ou estão tentando fazê-lo", afirmou o relatório.

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